Valton Miranda: O colapso da razão democrática

O senador norte-americano Bernie Sanders, que disputou com Hilary Clinton a indicação do partido democrata à presidência dos EUA, caracterizou com precisão o golpe branco em curso no Brasil. O juiz justiceiro obediente ao mandamento do patrocínio norte-americano apoiado por parte do judiciário brasileiro, da mídia e do grande empresariado precisa responder a isso.

Por Valton Miranda*

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Diz Sanders em seu site oficial: “Para muitos brasileiros e observadores independentes, o controverso processo de impeachment mais se assemelha a um golpe de Estado”.

O senador se dirigiu por meio de um comunicado, pedindo que o governo dos Estados Unidos “tome uma posição definitiva contra os esforços para remover a presidente democraticamente eleita Dilma Rousseff”, criticando a perda de direitos fundamentais pelos brasileiros levada a cabo pelo interino Michel Temer, do PMDB.

E continua Sanders: “Depois de suspender a primeira presidente mulher do Brasil por razões duvidosas, o novo governo interino, sem um mandato para governar, aboliu o Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Substituíram uma administração diversificada e representativa por um ministério composto inteiramente por homens brancos”.

O senador denunciou ainda que a gestão “não eleita” de Temer irá propor uma política de cortes de investimentos públicos em áreas essenciais, privatizará empresas e imporá uma agenda social de direita. Sanders sugere que os EUA procurem uma solução para o Brasil por meio de eleição direta.

“O esforço para remover a presidente Dilma não é um julgamento legal, mas político. Os Estados Unidos não podem continuar em silêncio enquanto as instituições democráticas de um dos nossos aliados mais importantes são minadas. Nós devemos dar suporte às famílias trabalhadoras do Brasil e exigir que esta disputa seja resolvida com eleições democráticas”, disse ele.

É sabido que, nos últimos 15 anos, os EUA patrocinaram mais de uma centena de golpes militares pelo mundo e disso resultou o incremento à violência global e condenação da hipocrisia norte-americana e europeia. O fato de os EUA e seus aliados europeus estarem vivendo a maior crise econômica e política da história contemporânea e tendo problemas nas suas mais de 80 bases militares espalhadas mundo afora, determinou a ascensão meteórica para a próxima eleição presidencial em novembro do candidato bilionário do partido republicano Donald Trump.

O discurso nazifascista tosco e rude afastou os aliados dos Estados Unidos e até mesmo a família Bush da campanha desse Hitler redivivo.

A onda conservadora direitista e neoliberal que avança na França com os Le Pen, na Inglaterra com a saída da comunidade europeia, e na Europa em geral com o crescente problema dos refugiados barbaramente tratados como sujeitos sem pátria e sem identidade, chega ao Brasil sob múltiplos vértices.

Além de estorvar a soberania popular, o bando golpista vai rapidamente desmontando as conquistas sociais alcançadas nos últimos 15 anos, utilizando a ação combinada do judiciário com um congresso medíocre e submisso para levar adiante o projeto de entrega das nossas riquezas minerais e do nosso petróleo e gás às grandes multinacionais.

O Estado de Exceção espalha-se pelo mundo, enquanto os candidatos a Führer se apresentam, Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil. A infâmia e a hipocrisia dirão que a injustiça é justa, afastando Dilma e pondo a ética de ponta-cabeça. Quando um juiz simboliza o poder judiciário e acredita ter se apropriado do espírito absoluto, as vias da compreensão e da razão entram em colapso.

*Valton Miranda é psicanalista