Copom mantém Selic em 14,25% e pressiona por ajuste

No dia em que o Senado consolidou o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff e o presidente Michel Temer afirmou que a recuperação da economia é prioridade de seu governo sem votos, o Comitê Política Monetária (Copom) anunciou a manutenção da taxa básica de juros em 14,25%. Ao sinalizar que a Selic só deve cair após a aprovação de medidas de ajuste, o comunicado escancara que o colegiado age politicamente – e não de forma técnica, como quer fazer crer.

Copom

A manutenção do percentual era esperada pelos analistas, que preveem que a taxa ficará inalterada até o fim do ano. Mas o que chama a atenção é o trecho da nota em que os membros do Copom citam as condições necessárias para que os juros comecem a cair.

Segundo o texto, a redução da Selic dependerá da velocidade de recuo da inflação nos próximos meses e da aprovação das medidas de ajuste fiscal. Os membros do Copom escrevem no documento que é preciso que "ocorra redução da incerteza sobre a aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia, incluindo a composição das medidas de ajuste fiscal, e seus respectivos impactos sobre a inflação".

De acordo com o Banco Central, esses fatores podem dar mais confiança de que a meta de inflação de 4,5% em 2017 será atingida, abrindo brecha para uma queda da taxa básica de juros. Na realidade, trata-se de uma forma de pressionar o governo para que faça valer o seu discurso da austeridade, levando adiante projetos que significam cortes de gastos sociais e direitos constitucionais.

O próprio Planalto já sinalizou que, diante da dificuldade de conseguir quórum para aprovar seus projetos em meio às eleições municipais, considera a possibilidade de sua principal medida de ajuste – a PEC 241 – ficar para o próximo ano. O Copom indica, portanto, que não tem pressa em fazer cair os juros brasileiros, os mais altos do mundo e que tanto penalizam a economia do país – essa mesma que Temer diz querer estimular, embora não tenha apresentado medidas concretas para isso.