Quem apoiou o impeachment, apoiou a corrupção

 O dia 31 de agosto, numa tarde chuvosa em São Paulo, eu acompanhei o Golpe de Estado de 2016 através da TV Senado. Chamam o processo de impeachment, dizem que se respeitou as normas legais e que um crime macroeconômico aconteceu, orquestrado pela ex-presidente da República, Dilma Vana Rousseff.

Por Pedro Zambarda*, Huffpost Brasil

Michel Temer empossado presidente pelo Senado - Reprodução/TV Senado

Mas pare de fingir que você é "isentão", caro leitor. Pare de se convencer da hipocrisia na frase "vamos derrubar o PT e todos os outros partidos". Isso não vai acontecer. Quem apoiou este golpe, apoiou Michel Temer, Eduardo Cunha, Aécio Neves e seus asseclas.

Quem apoiou o golpe, apoiou a corrupção.

Eu não sou petista. E nunca serei filiado a partido nenhum por ser jornalista e por questões éticas pessoais. Mas eu não tenho medo de tomar posições e acho fundamental que se diga que este impeachment foi golpe de Estado. Um golpe parlamentar articulado por políticos corruptos.

Acompanhei o julgamento de Dilma Vana Rousseff desde a última quinta-feira (25), com atenção aos argumentos da acusação e da defesa. Não há consenso sobre as pedaladas fiscais, o argumento central do impeachment.

Foram 61 votos favoráveis ao impeachment e 20 contra. O processo de condenação foi quebrado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede). Por isso ocorreu uma segunda votação de 43×36 que manteve os direitos políticos de Dilma.

Em resumo: O golpe a derrubou do poder, mas os senadores principalmente do PMDB entenderam que a guerra aberta contra o PT não é boa e mantiveram seus direitos políticos, diferente do que aconteceu no processo justo de impeachment contra Fernando Collor de Mello.

Mas vamos aos fatos. E sobre a natureza dos parlamentares que votaram neste processo.

Renan Calheiros tem contra si pelo menos 11 inquéritos por crimes de corrupção. Seu colega de partido, Romero Jucá, foi denunciado em grampos do presidente da Transpetro, Sérgio Machado, tentando abafar as investigações da Operação Lava Jato.

Relator do impeachment, Antonio Anastasia é acusado de receber R$ 2 milhões das empreiteiras Andrade Gutierrez, UTC, OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão e o banco BTG Pactual, todas citados na Lava Jato. Já Aécio Neves foi citado menos cinco vezes por delatores no esquema de corrupção da Petrobras. Um deles, o empresário Fernando Moura, falou que o tucano recebeu pelo menos um terço das propinas da Lista de Furnas, escândalo que estourou na época do Mensalão com denúncia de Roberto Jefferson.

O notório senador Hélio José, hoje do PMDB, foi acusado de prática de pedofilia com uma sobrinha em 2010.

Michel Temer, o novo presidente da República, é acusado de receber R$ 5 milhões na Operação Lava Jato de Cunha, desde 2015. O ex-presidente da Câmara, que não teve os direitos políticos cassados, teria recebido R$ 52 milhões parcelados em 36 vezes, de acordo com uma das inúmeras delações premiadas nas mesmas denúncias.

Cansa dizer isso, mas uma coisa é clara: todos estes crimes são mais relevantes do que os problemas fiscais de Dilma Rousseff nas pedaladas fiscais do Plano Safra. Todas essas investigações envolvem dinheiro que foi tirado das mãos do povo, não operações financeiras elaboradas para pagamento do Bolsa Família e de programas sociais.

Cansa dizer tudo isso neste golpe de Estado, mas tudo precisa ser dito e repetido.

Senadores do PSDB (e alinhados políticos) encararam a manutenção dos direitos de Dilma como um "golpe" contra o processo de impeachment.

A grande verdade, dura e cruel, é que a base corrupta dos governos petistas deu uma rasteira na Constituição e numa presidente eleita com 54 milhões de votos.

Fizeram isso pra continuar roubando a todos nós.

Por fim, linko abaixo a defesa do advogado José Eduardo Martins Cardozo.

Ela resume, substancialmente, o que foi este golpe.