A China, o G20 e o Brasil

A China sobe ao palco da governança global como um dos seus atores principais. Esse é o resultado mais relevante da 11a Cúpula do G20, realizada entre os dias 5 e 6 de setembro na histórica cidade de Hangzhou.

Por José Medeiros* e Rafael Lima**

G20 China 2016 - Foto: Diário do Povo/China

Por outro lado, o Brasil não passou de um simples coadjuvante, tão pequeno que nem se pode imaginar que o país tenha sido um dos principais protagonistas do referido fórum desde a sua criação, em 1999. Para ser justo, esse apequenamento começou bem antes da Cúpula de Hangzhou, refletindo no tabuleiro da política internacional a crise política que o país vem atravessando.

Como se sabe, até 2008, o fórum era um espaço que se limitava basicamente à discursão de questões econômicas dos países denominados de emergentes e desenvolvidos, o G20 Financeiro. O mesmo era composto essencialmente por especialistas do seguimento econômico, como ministros de finanças e presidentes de bancos centrais. Quando os EUA avalizaram a sua criação, jamais poderiam imaginar que o mesmo pudesse evoluir e até se transformar no principal fórum de discussões econômicas e políticas sobre a governança global. Essa mudança redefiniu pouco a pouco o eixo do gerenciamento do poder mundial, até então concentrado nas mãos do G7 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá).

Depois da Cúpula de Hangzhou, o G20 não será mais o mesmo, assim como não foi mais o mesmo depois da Cúpula de Washington realizada em novembro de 2008, a primeira a contar com a presença dos principais líderes políticos mundiais. Isso porque, a China resolveu assumir de fato uma posição central no reordenamento econômico do mundo, aliás, algo que já lhe era de direito. Se no começo ainda se falava em uma divisão global de tarefas entre o entre G7/8 e o G20, agora este discurso passou a ser irrelevante. Depois de Hangzhou, o G20 passará a ser o principal fórum mundial para encaminhamento dos problemas globais e não apenas em questões de finanças e de economia, como era até então.

Evidentemente que para se consolidar como o principal fórum de governança global muitos ajustes precisarão ser feitos, mas não há dúvidas de que esse é um caminho sem volta, pelo menos na fase atual da reorganização do poder mundial. Nesse sentido, a China guiará todo o seu poder econômico e diplomático para isso. Aliás, esse caminho fica claro nos discursos do presidente chinês Xi Jinping, tanto na abertura quanto em seu comunicado à imprensa internacional: “O G20 deve cumprir com as expectativas depositadas pela comunidade internacional, deve seguir o caminho da prosperidade e da estabilidade. Deve adaptar-se ao seu tempo e mostrar o caminho. O G20 deve adaptar-se às necessidades da economia mundial e deve transformar-se (…)”. (Discurso de abertura). Ainda segundo Xi Jinping, “o G20 precisa melhorar o seu papel como motor para a cooperação internacional. Precisa mudar e deixar de ser um mecanismo de resposta a crises para ser a longo prazo um mecanismo de governança (…). Todos concordamos que a transformação do G20 afetará os interesses imediatos de todos os membros e o futuro da economia mundial. Para manter a vitalidade do G20, devemos adotar as mudanças e os progressos dos tempos atuais” (Comunicado à imprensa). É claro que, como o próprio presidente chinês fez questão de sublinhar, falta ao Grupo uma visão estratégica. E reconheçamos que essa construção não é simples, haja visto a necessidade de equacionar interesses estratégicos muitas vezes divergentes, quer no plano de projetos nacionais e de interesses econômicos corporativos, quer em um plano mais profundo, envolvendo visões civilizacionais de mundo.

Concluindo, ressaltamos que quando falamos no apequenamento do Brasil, não objetivamos ficar em um nível panfletário e acusatório. Muito menos objetivamos transferir para individualidades de circunstanciais representantes a responsabilidade de uma grave crise política e econômica interna. O que objetivamos é ressaltar que com o G20 estamos diante de um momento crucial da reconfiguração do poder mundial. E que, diante dessa oportunidade histórica, o Brasil precisa ser maior do que suas próprias dores e divisões internas. Dito de outro modo, precisamos olhar esse novo horizonte da organização do que se vislumbra e assumir, sem pedir licença, como agora faz a China, nosso lugar na reordenação política e econômica internacional, buscando sobretudo a edificação de uma humanidade solidária e ambientalmente mais saudável. O Brasil pode e deve contribuir mais para o seu próprio bem-estar e o bem-estar da humanidade.