A ONU e a cúpula do G20: A caminho da paz e desenvolvimento

A cúpula de Hangzhou será o primeiro encontro de chefes de Estado e governo do G20 após a adoção dos quatro grandes acordos globais do ano passado: o Quadro para a Redução do Risco de Desastres de Sendai, a Agenda de Ação Addis Ababa para o financiamento e desenvolvimento, a Agenda para o Desenvolvimento Sustentável 2030 e o Acordo de Paris para as alterações climáticas.

Por Ban Ki-moon, no Diário do Povo*

Ban Ki moon

Durante a crise financeira mundial de 2008, ações decisivas por parte dos líderes do G20 ajudaram a prevenir o colapso da economia mundial e a colocar esta no caminho da recuperação. Hoje, encorajo o G20 a demonstrar a mesma resolução em responder a todos os nossos desafios globais comuns.

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável oferecem um plano de operações para garantir sociedades pacíficas e prósperas a coabitar num planeta saudável até 2030. A Adis Agenda propõe um quadro integral para assegurar investimentos que serão necessários. O Acordo de Paris talha um caminho, não só para uma redução dramática das perigosas emissões de gases com efeito estufa, mas também para o reforço da resiliência e captura de oportunidades no mundo das energias renováveis e demais alternativas amigas do ambiente. O Quadro de Sendai procura assegurar que o mundo responde de forma adequada na ocorrência de desastres, e se reconstrói satisfatoriamente aquando das fases de recuperação, reabilitação e reconstrução.

A China deu grandes passadas ao nível do desenvolvimento. Ao implementar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, o país reduziu a pobreza a uma escala sem precedentes, melhorou a educação, saúde e igualdade de gêneros. É com prazer que faço notar que no seu 13º plano quinquenal, o Governo Chinês está a estabelecer um compromisso sólido com a Agenda 2030. Devo elogiar também a China pelo seu compromisso na cooperação Sul-Sul e pelo apoio às Nações Unidas na implementação da sua nova agenda de desenvolvimento.

A cooperação que se desenrola entre a liderança demonstrada pelos EUA e pela China nas alterações climáticas é especialmente significante. O compromisso dos dois maiores emissores do mundo em comparecerem no Acordo de Paris este ano, aproxima o mundo de um marco histórico: a entrada em vigor, este ano, de um acordo que trará ganhos para toda a humanidade e a garantia de uma transição compulsória para um futuro mais seguro e sustentável. Encorajo todas as outras economias do G20 a agirem de forma célere e que se juntem ao Acordo, para assim podermos tornar possíveis as aspirações de Paris.

A manutenção da estabilidade é crucial na face de vários riscos que a nossa visão comum enfrenta. A economia mundial continua a se debater com uma fraca demanda, investimento deficiente, grandes incertezas macroeconômicas, volatilidade nos mercados financeiros e assimetrias carregadas no comércio global e no sistema de investimento. Os conflitos registrados em vários lugares deitam a perder as várias vitórias conquistadas com esforço ao nível do desenvolvimento. As necessidades humanitárias – incluindo aquelas de pelo menos 65 milhões de refugiados e pessoas sem lar – atingiram números que já não se viam à décadas, colocando uma pressão adicional nas nossas sociedades e economias.

Dou as boas-vindas aos esforços do G20, sob a presidência da China, para gerir estas questões e promover um novo caminho para o desenvolvimento, comércio e investimento. Atender às necessidades dos mais pobres e marginalizados será crítico. Apoio os esforços que alinhem o trabalho do G20 com a Agenda 2030, assim como o avanço do Plano de Ação. Sinto-me também encorajado pelos esforços do G20 para apoiar a industrialização em África e nos países menos desenvolvidos, no enfoque na infraestrutura, e na mobilização de recursos para uma ação climática nos países mais vulneráveis.

A Agenda 2030 reconhece também que o respeito pelos direitos humanos e por instituições fortes que reflitam a voz das pessoas são essenciais para o sucesso. À medida que países das mais variadas dimensões continuam a lutar para atingir estes objetivos, encorajo a todos os líderes para criarem o espaço necessário para a sociedade civil desempenhar o seu papel nevrálgico.

Em todas essas áreas, a ação articulada por parte do G20 e da liderança das maiores economias do mundo é indispensável para cumprirmos esta promessa e não deixar ninguém para trás. A ONU compromete-se a continuar a colaboração produtiva e os esforços complementares a que se propôs durante o tempo em que desempenhei funções, em benefício do nosso futuro comum.

O autor é o Secretário-Geral das Nações Unidas