Manifestação em Fortaleza: Milhares de cearenses disseram "Fora Temer"

Uma grande manifestação, com dezenas de milhares de cearenses unidos gritando a uma só voz "Fora, Temer", marcou o 7 de Setembro em Fortaleza. Desde as quatro da tarde, nas proximidades do Aterro da Praia de Iracema, era grande a concentração popular para o ato que marcou o "não" do povo cearense à tentativa de governo golpista e conspirador e reivindicou a volta da democracia, com governo escolhido pelo povo.

Manifestação em Fortaleza: Milhares de cearenses disseram "Fora Temer"

A manifestação foi marcada pela pluralidade da participação. O "Fora, Temer" foi gritado a plenos pulmões por casais, famílias, estudantes, aposentados, cidadãos das mais diversas profissões e residentes em vários bairros de Fortaleza e de municípios da Região Metropolitana. A participação feminina também foi destacada, com muita ironia e consciência política nos cartazes e palavras de ordem trocando o "bela, recatada e do lar" por "belas, arretadas e das ruas", assim como a comunidade LGBT, sob a palavra de ordem "Os gays, as bi, as trans e as sapatão tão tudo organizada pra fazer revolução".

Sindicatos, associações, partidos políticos como PCdoB, PT, Psol e PCB, Frente Brasil Popular, Frente Povo Sem Medo, MST, MTST, parlamentares, lideranças, representantes de ONGs, coletivos e da sociedade civil organizada em geral, músicos com instrumentos de sopro e de percussão, militantes que lutaram nos anos 60 e 70 contra a ditadura civil-militar, entre outros grupos e movimentos, também estiveram presentes, concretizando nas ruas a luta já realizada em várias instâncias contra o golpe, a favor da democracia, pela denúncia da ilegitimidade do "governo" Temer e pelo retorno da democracia ao Brasil.

Mas foi principalmente a população em geral que saiu às ruas da capital cearense, dizendo um sonoro "não" a Temer e a seu ministério sem negros, sem mulheres e sem votos. Tudo em uma manifestação marcada pela unidade e pela defesa da democracia, ao longo de todo o percurso, do Aterro até a Avenida Beira-mar, chegando até pouco depois da Volta da Jurema, um dos cartões postais da capital cearense.

Criatividade na luta

A criatividade e o senso de humor característicos do povo cearense também foram exercitados na manifestação, unindo luta e descontração. Foram inúmeras as piadas e palavras de ordem ironizando a afirmação de Temer quanto a "40 manifestantes". Um dos cartazes trazia Temer caracterizado como o personagem Vingador, do popular desenho animado "Caverna do Dragão", com os dizeres "Malditas 40 pessoas".

O famoso grito da torcida do vôlei foi parodiado, ganhando a letra "Ai, ai, ai, se empurrar o Temer cai". "Temer, seu otário, o seu governo continua temporário" foi outra palavra de ordem repetida pela multidão, que chamou a atenção dos moradores de prédios e dos hóspedes de hotéis da orla de Fortaleza.

Também foi levantada mais uma vez a faixa "Impitimam é meuzovo", que desde o início da luta contra o golpe vem marcando a luta dos cearenses pelo respeito aos votos de 54 milhões de brasileiros.

Já os senadores e deputados que votaram a favor do golpe e pela quebra da democracia, como Eduardo Cunha, Eunicio Oliveira, Tasso Jereissati, Ronaldo Caiado e Rodrigo Maia, ganharam "homenagens" especiais, ao som de paródia da clássica marchinha "Taí": "O Cunha vai ganhar / Uma passagem pra sair desse lugar / Não é de carro, nem de trem, nem de avião / É escoltado no camburão / Eita Cunha ladrão".

Por respeito à democracia

O percurso de mais de três quilômetros foi cumprido sem incidentes pelas dezenas de milhares de manifestantes, que convidavam as pessoas das varandas dos prédios a também se unir à luta pelo respeito à democracia. "Vem pra rua" era o chamado, que foi atendido por muitos fortalezenses, colorindo a beira-mar com faixas, cartazes, camisetas, bonecos, carros de som e muita participação.

Ao final da manifestação, a certeza de que o "desgoverno Temer" não resiste e de que Fortaleza deu exemplo de participação cidadã e consciência política, na luta por respeito aos 54 milhões de votos e pela volta da democracia, somando-se aos grandes atos populares registrados em todos os estados brasileiros neste primeiro 7 de Setembro após o golpe de 2016.

Próximos atos

Após encerrado o ato já no começo da noite desta quarta-feira, os manifestantes no carro de som propuseram um próximo ato para este domingo, 11/9, com concentração no início da Avenida Monsenhor Tabosa, em frente ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura.

Outra manifestação contra Temer, contra o golpe e a favor da democracia está sendo chamada para este sábado, 10/9, em Fortaleza, na Praça Portugal, na Aldeota, local que foi utilizado pelos manifestantes favoráveis ao golpe e contrários ao respeito aos 54 milhões de votos conferidos pelo povo brasileiro à presidenta Dilma Rousseff.

Violência após manifestação

Destoando da manifestação, que foi marcada pela participação plural e sem incidentes, em uma festa bonita de luta pela democracia, após o final do ato público houve violência, com registro de policiais do Raio e do Ronda do Quarteirão atacando manifestantes, pessoas que simplesmente passeavam na Avenida Beira-mar e até jornalistas e fotógrafos, conforme noticiou a imprensa cearense.

O uso dessas armas sem qualquer motivo aparente e o pânico causado pela polícia chamaram atenção dos manifestantes, que corriam para tentar se proteger. Muitos foram feridos, principalmente nas pernas, conforme registrou a imprensa local, citando estilhaços de bombas e tiros de balas de borracha.

Entre os atingidos estava a fotógrafa e militante da causa palestina Karine Garcez, que registrou os fatos em seu perfil no Facebook: "A manifestação #ForaTemer em Fortaleza foi pacífica, linda e todos respeitando o acordo do trajeto, ao final no anfteatro terminado o trajeto e todos estavam voltando para suas casas, ou pra ir aos restaurantes da região quando a policia – Ronda, e um de farda preta em motos, chegaram com sangue nos olhos agredindo todo mundo, eu corri para ver a ação da policia e gravar. Um secretário do Governo do Ceará estava junto, a minha frente, pedindo para eles não agredirem as pessoas , que estavam em paz, eles não respeitaram o secretário , foram truculentos com ele também, eu estava atrás do secretário, quando os policias de farda preta começaram a atirar e jogar spray de pimenta. Um senhor que não estava na manifestação foi agredido, mesmo dizendo que não estava na manifestação, levou ponto na cabeça, continuei filmando e me afastei do tumulto. Quando o policial de farda preta veio até mim, olhando nos meus olhos, atirou contra minhas pernas, que começaram a queimar. Depois aumentaram as queimações, resolvi olhar minhas pernas e vi que estavam machucadas. Não havia nenhum vandalismo, todos tranquilos, o vandalismo foi da Polícia.

Segundo o jornal O Povo, de Fortaleza, a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) informou, por meio de nota, que, embora a manifestação tenha transcorrido pacificamente, “cerca de 50 pessoas, provavelmente infiltradas, realizaram atos de vandalismo, pichando e quebrando fachadas”. Ainda conforme a nota, na dispersão do ato, PMs “utilizaram munição menos letal para dispersar um grupo, após pedras terem sido atiradas em uma viatura” e que “possíveis excessos da PM serão devidamente apurados”.