“Temer está aparelhando a EBC”, afirma Ricardo Melo

O jornalista Ricardo Melo, presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), afirmou em entrevista ao Diário do Centro do Mundo que o governo de Michel Temer (PMDB) quer aparelhar a empresa e que a política do ilegítimo presidente provoca um desmonte da comunicação pública brasileira.

Ricardo Melo EBC - Reprodução DCM

“É justamente isso que está em curso. O que está em jogo não é apenas o futuro da EBC, mas sim a comunicação pública no Brasil. O governo Michel Temer está aparelhando a EBC, que tem apenas oito anos de história. E isso é uma grande bobagem”, enfatizou Ricardo Melo, que apesar de ter mandato de quatro anos, conforme estabelece a lei que criou a EBC, enfrenta a ameaça de destituição do cargo por Temer.

Desde que assumiu interinamente a Presidência, Temer tenta substituir Melo. Primeiro, exonerou o cargo para nomear Laerte Rimoli, jornalista que coordenou a campanha de Aécio Neves em 2014 e assessorou a Câmara dos Deputados sob o comando de Eduardo Cunha. Liminar do Supremo Tribunal Federal revogou a decisão.

Após a consumação do golpe no Senado, Temer editou medida provisória alterando o estatuto de criação da EBC. Mas depois recuou. Melo divulgou uma nota em que afirma: “Entendo que permaneço no comando da EBC até que seja formal e regularmente exonerado pelo presidente da República”.

O jornalista destaca na entrevista os avanços garantidos pelos governos Lula e Dilma e, ao contrário do que afirma a grande mídia, o PT não aparelhou a estatal de comunicação.

“Um fato que demonstra bem o nosso trabalho. Em 2008, a EBC tinha 50% dos funcionários concursados ou ingressos da Radiobras. Hoje o percentual de profissionais vindos de concursos públicos saltou para 95%. No momento em que é feita uma medida provisória dando poderes para o presidente de plantão fazer o que quiser da EBC, ai sim temos um risco real de aparelhamento da empresa pública. Essa medida extingue o conselho curador da EBC”, frisou.

Ele afirma ainda que a EBC é um instrumento de democratização da comunicação e que as medidas adotadas pelo governo de Michel Temer visam impedir o avanço desse processo.

“Não cobrimos apenas o dia a dia, mas cumprimos a Constituição no que ela se refere à comunicação pública. Nisso, ela deve ocorrer em três níveis – informações estatais, sobre os atos do governo vigente; a privada, que vem da grande mídia; e a pública, que é o papel da EBC. O estatuto da empresa foi criado em 2008 com o objetivo de atingir o terceiro nível que é interessante ao público”, salienta.

E completa: “Num país como o Brasil, onde existe uma mídia oligarca na produção e praticamente monopolizada na opinião, há uma necessidade de outras vias de informação. A comunicação pública existe no mundo inteiro para dar voz a quem não tem voz mesmo dentro dos meios oficiais”.

Sobre as críticas quanto à cobertura do processo de impeachment, Melo afirma que “foram necessárias, mas nós ouvimos também os favoráveis no mesmo caso”.

“A EBC ouviu o Movimento dos Sem-Terra, dos Sem Teto, as manifestações LGBT, além dos coletivos da juventude e as feministas. Do meu ponto de vista, essa diversidade mostra que a nossa cobertura foi equilibrada. Todos os lados tiveram um espaço equânime dentro da TV Brasil. No dia da votação do impeachment, quando ergueram o muro da vergonha dentro de Brasília, posicionamos carros e repórteres dos dois lados. Em São Paulo, cobrimos tanto a Avenida Paulista tomada pelos pró-impeachment quanto os que foram contrários”, destacou.

“Um presidente nomear e destituir diretores numa empresa pública a seu bel prazer para mim soa como aparelhamento. A medida provisória permite isso e deve estar muito claro para quem está acompanhando o caso. É a morte da EBC como um instrumento da comunicação pública”, ressaltou.