Situação de bloqueio político na Espanha é horrenda, diz o PCE

O líder do Partido Comunista da Espanha (PCE), José Luis Centella, qualificou nesta sexta-feira (16) como horrenda a situação política no país, com um governo interino há quase um ano e a ameaça de eleições pela terceira vez.

Por Eduardo Rodriguez-Baz

José Luis Centella, secretário-geral do PC da Espanha

"Vivemos uma conjuntura na qual o velho não morre, e quando falo de velho me refiro à corrupção e à falta de ética na política, enquanto que o novo não foi capaz de irromper", ilustrou Centella, em referência ao quadro político atual do país.

Durante a apresentação da tradicional "Fiesta del PCE", que será celebrada neste fim de semana em Madri, o também dirigente da Esquerda Unida (IU) disse em uma coletiva de imprensa que é cada vez mais evidente a crise do regime político.

Ele fez alusão ao bipartidarismo encarnado pelos partidos Popular (PP), e Socialista Operário Espanhol (PSOE), que depois da aprovação da constituição de 1978 se alternaram no poder.

"Ninguém pode negar a débacle" do regime de 1978, sistema condenado a sofrer uma mudança, depois que seus maiores defensores são incapazes de chegar a um acordo, enfatizou o secretário-geral dos comunistas espanhóis.

A seu ver, em breve haverá um processo constituinte, ao estar superada a lei fundamental atual, entretanto ele defendeu que essa mudança se produza de forma transparente, para impedir que se realize às escondidas e de costas para os cidadãos,

Centella afirma que para que o processo possa ter início, é preciso formar um governo no país, pedindo ao líder do PSOE, Pedro Sánchez, dar um passo adiante e retirar o governo provisório de Mariano Rajoy do Palacio de La Moncloa, sede do governo.

"Nós somos claros e afirmamos que a responsabilidade neste momento está nas mãos de Ignácio Sánchez e também no PSOE, porque nos parece uma barbaridade que, desde suas fileiras, se tencione situar o partido à sombra do PP", indicou.

Centella considerou inacreditável que, em lugar de trabalhar por um executivo de esquerda, dentro dos socialistas existam dirigentes favoráveis a facilitar a continuidade de Rajoy, quando durante estes quatro anos votaram contra os duros cortes sociais dele.

"Por isso, insisto em que tudo isso forma parte dessa coisa horrenda, desse regime de 1978 que resiste a morrer e tenta forçar um governo contra a natureza, isto é, contra os programas eleitorais do resto dos partidos com representação parlamentar, destacou.

Ele esclareceu que a aspiração do PCE e da IU não é entrar em uma hipotética administração, mas poder participar de uma mudança que seja fundamentalmente baseada na retirada do PP do La Moncloa.

"Um PP cada vez mais carcomido pela corrupção e com um presidente tende de comparecer todas as semanas a um tribunal por causa dos numerosos casos de irregularidades", disse o dirigente comunista.

Se finalmente não se conseguir formar um governo é porque o PSOE não dá o passo adiante, enfatizou Centella.

A seu ver, dar seguimento às terceiras eleições – após as de dezembro e junho, seria redobrar essa terrível situação, ainda mais com as pesquisas revelando que o mapa político não sofrerá alterações.

Ele conclamou os socialistas a colocar na mesa "10, 15 ou 20 propostas" para que o resto dos partidos considerem e para que se possa chegar a um acordo para investir Sánchez como presidente do governo.

"Existe uma maioria possível em torno de propostas concretas e evidentemente, todos teremos que ceder nessas negociações", sentenciou.