Os Amanticidas, time novo na vanguarda musical
Batizada a partir de uma das faixas presente no disco Às Próprias Custas S.A (1983) do cantor e compositor Itamar Assumpção, Os Amanticidas chegam como titulares no time da nova vanguarda paulista.
Por Bruno Negromonte, do Musicaria Brasil
Publicado 18/09/2016 12:31
Formado por Alex Huszar (voz e baixo), João Sampaio (guitarras, bandolim e cavaquinho), Joera Rodrigues (bateria) e Luca Frazão (violão de sete cordas), Os Amanticidas estreiam no mercado fonográfico de modo independente com um álbum que conta com a participação de nomes como Arrigo Barnabé e Tom Zé. "Amanticidas", primeiro álbum do quarteto, chega expondo tudo aquilo que os garotos absorveram, condensaram e transformaram de modo bastante original nas dez faixas autorais presentes no disco, produzido por Paulo Lepetit. Um detalhe interessante a ser observado é que mesmo influenciados pelos mais distintos elementos sonoros, o amálgama que os jovens conseguem formar neste projeto não os fazem perder a unidade, pelo contrário, todas as influências substanciaram a trilha do novo caminho que os músicos buscam de modo inovador.
Musicaria Brasil – Acho que a primeira pergunta que convencionalmente fazem a vocês é o modo como se conheceram e como resolveram formar os “Amanticidas”. Como tudo isso ocorreu?
Os Amanticidas – Na verdade três membros da banda, Alex, Joera e Luca, se conhecem desde os tempos de colégio, tocavam juntos desde essa época. Aí o Alex entrou em música na Unicamp, conheceu o Sampaio por lá e teve a ideia de juntar a banda. A gente acabou tocando juntos pela primeira vez no fim de 2011, e em 2012 começamos a fazer shows por São Paulo.
Quem conhece um pouco da biografia de vocês sabe que o nome do quarteto surgiu a partir de uma das canções presentes na discografia do Itamar Assumpção. Por que é que vocês foram buscar o nome do grupo de um disco lançado há mais de três décadas ?
Acho que a gente foi buscar no Itamar porque desde o começo da banda, quando nosso som não tinha ainda a cara própria que foi sendo construída nesses anos de ensaios e shows, a gente já tinha claro que o trabalho do Itamar era uma referência pra de alguma forma nos guiar na direção dessa identidade. O jeito que ele e o Tom Zé, principalmente, trabalham as canções são a base a partir da qual a gente tenta construir o nosso jeito.
Quando e como aconteceu o primeiro contato de vocês com os materiais fonográficos da chamada Vanguarda Paulista?
Pra todos nós foi a partir dos nossos pais, que pertencem à geração que acompanhou de perto a Vanguarda, frequentando o Lira Paulistana e tal. Então desde muito cedo ouvimos em casa os discos de Grupo Rumo, Premê, Arrigo e, claro, Itamar. Mas a gente só foi dar mais atenção pra esses artistas enquanto influência pro nosso próprio trabalho mais pra frente, na adolescência, quando começamos a decidir fazer isso da vida.
Fazer essa comparação do trabalho de vocês com o da turma da Vanguarda Paulista incomoda?
Não incomoda porque a gente não entra muito nessa de comparar. Temos total consciência do quanto devemos a eles (não por acaso o Paulo Lepetit, baixista do Isca de Policia, produziu o disco), mas estamos tentando começar nossa própria trajetória, num outro contexto, outro circuito. Também não achamos de forma alguma que estamos continuando a partir do que eles deixaram, porque afinal boa parte dos artistas daquela cena ainda estão por aí, lançando trabalhos novos e originais.
Foram cerca de quatro anos do surgimento do grupo até o lançamento do primeiro álbum. Neste ínterim quais as maiores dificuldades para a concretização deste marcante passo de vocês?
Bom, a maior dificuldade foi a nossa própria inexperiência. Na parte musical nós tivemos ajuda do Lepetit pra lidar com os problemas, então o desafio maior acabou sendo a parte burocrática que a gravação de disco envolve (registro das músicas, contato com fábricas para prensagem e etc.). Alem de outras dificuldades que todo artista enfrenta pra botar seu trabalho no mundo: algumas roubadas, frustrações, pouca grana, muito ensaio…
Quais foram os critérios para a escolha das dez faixas presentes no disco?
Na verdade foi bem simples, porque como é o primeiro disco ele registra um período mais longo do nosso trabalho. Tem canções ali compostas há vários anos, até antes da banda existir. Ao longo desse tempo a gente foi ajeitando cada uma nos shows e ensaios, montando o repertório com calma até sentir que tinha chegado o momento de registrar.
Assim como algumas referências musicais do grupo, vocês buscaram seguir um caminho fonográfico independente. É fato que a dificuldade é grande, mas a liberdade para a produção vem na mesma proporção ("Clara Crocodilo" é um exemplo). Para se ter essa liberdade na produção vale o preço pago?
Hoje em dia o mercado está bem diferente do que naquela época, se reorganizou de uma maneira que facilita a produção independente. Não que ainda não haja todo tipo de dificuldade, mas com a internet ficou mais viável conseguir um alcance legal pro trabalho sem precisar de meios tradicionais como gravadora, selo etc. Então esse caminho veio de uma forma bem natural pra gente, não foi uma escolha tão pesada; sempre soubemos que era isso que fazia mais sentido.
As diversas influências presentes no álbum não faz de “Amanticidas” um disco sem identidade sonora, pelo contrário, percebe-se a composição de uma unidade bastante coerente. Que tipo de cuidado vocês buscaram tomar para que tantas influências não acabassem descaracterizando este álbum de estreia?
A gente busca a unidade não tanto na composição, afinal como dissemos tem coisa no disco que foi composta antes da banda surgir, mas muito no arranjo. O resultado final das canções soa muitas vezes totalmente diferente do material bruto que chegou a partir de quem compôs. E isso a gente trabalha exaustivamente nos ensaios, tentando ao longo desses anos formular um jeito nosso de fazer arranjo, que, esse sim, parte muito do que a gente identifica nos jeitos do Itamar, do Tom Zé e outros.
O disco conta com a participação de dois relevantes nomes da nossa música que são o Tom Zé e o Arrigo Barnabé. Como surgiram estes convites e a ideia de inseri-los neste debute fonográfico de vocês?
Os convites vieram a partir do Paulo Lepetit, produtor do disco, que ouviu as faixas e na hora achou que combinavam com eles. A parte que o Tom Zé participa, verdade seja dita, era uma homenagem explícita a ele (o que só faz com que a participação fique mais especial ainda), mas o Arrigo em “Traste” foi uma ideia do Lepetit que a gente nunca tinha imaginado e acabou encaixando perfeitamente.
O show de lançamento do “Amanticidas” ocorreu recentemente. Como será a divulgação deste álbum daqui pra frente? Já há datas confirmadas para apresentação fora do eixo Rio-São Paulo?
A gente tem investido bastante na divulgação pela internet, porque achamos que as chances de alcançar gente que normalmente não nos conheceria é maior. E quanto aos shows, fizemos por enquanto três no interior do estado de São Paulo e dois na capital, além do lançamento. Ainda faremos um no Rio de Janeiro no dia 28 de outubro. Fora do eixo Rio-São Paulo ainda não temos nenhum show confirmado, mas esperamos ter em breve.