Maurício Dias: O operário insolente

No Brasil, tradicionalmente, o ingresso no chamado Clube de Eleitos formado por ex-presidentes obedecia a uma regra superada na eleição de 2002: só entra quem tem no currículo diploma de bacharel ou, alguns outros, com a espada na cinta. Naquele ano, na 19ª vez em que foi às urnas eleger mais um mandatário, o eleitor subverteu a história de 103 anos de República e escolheu um torneiro mecânico chamado Luiz Inácio da Silva, apelidado de Lula.

Por Maurício Dias*

Lula operário - Arquivo

O atrevido operário fez um governo politicamente ousado, com a atenção voltada para as classes mais modestas. Incluiu socialmente milhões de excluídos. E, pelo sucesso do governo, reelegeu-se. Na sequência, com a força da popularidade, elegeu Dilma Rousseff por duas vezes. A última vitória, em 2014, como se sabe, foi interrompida por um golpe parlamentar em 2016.

Agora, enquanto é acusado com destaque na mídia local, é simultaneamente elogiado pelos jornais dos Estados Unidos. O Washington Post aplaude o esforço bem-sucedido do ex-presidente na luta para tirar da miséria milhões de brasileiros. O New York Times, por sua vez, pontua o papel de Lula no crescimento do País.

Na quarta-feira 14, os conservadores destronados do governo por longos 13 anos e meio mostraram a cara. Lula fez o desafio e agora recebe o troco. Orquestrada por inúmeros interesses e interessados, a oposição emergiu com furor, disposta a dar fim à suposta aventura populista. Populismo, interpretando o que eles pensam, seria distribuir renda. Para eles um remédio econômico inadequado.

Lula, nessa moldura, parece ser um “sujeito” insuportável para parte da classe dominante antidemocrática.

Por ela falou o procurador Deltan Dallagnol, responsável pela Operação Lava Jato, cujo objetivo final é impedir que o petista volte a disputar a eleição em 2018: “Só o poder de decisão de Lula fazia o esquema de governabilidade corrompida viável”.

À falta de provas, o midiático Dallagnol escondeu-se atrás de um estoque de adjetivos banais, sem despregar o olhar das câmeras da tevê. Nesta troca de substantivo por adjetivo, Lula seria o “comandante máximo” da corrupção chamada por ele de “propinocracia”. O denunciado seria o “general” e, ainda, “maestro” do esquema.

“Desta vez ele não vai poder dizer que não sabia”, contentou-se o vazio acusador.

O procurador desrespeitou um ex-presidente e lambuzou-se no mau gosto. Talvez, por preconceito, teria tentado pisotear um ex-operário.

Atento às trapalhadas de Dallagnol, o advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, carimbou a denúncia como “discurso farsesco” e “truque de ilusionismo”, por não comprovar as acusações de corrupção e lavagem de dinheiro.

Dallagnol blefa. Segundo Lula, ele mente e tenta colar a história do triplex do Guarujá, de propriedade da OAS, nos milionários desvios de dinheiro ocorridos na Petrobras. É uma cartada de desespero e põe em risco as suspeitas ações seletivas da Lava Jato.

Desmascarado, o artifício consolidará a entrada de Lula na eleição de 2018. Seja como candidato, seja como poderoso cabo eleitoral. Não haverá opositor para ganhar essa parada.