Moara Correia: Ocupar as ruas e resistir ao golpe; a luta que nos UNE

A história do povo brasileiro está ligada à luta: do povo negro contra os horrores da escravidão, das mulheres pela igualdade, pela democracia em meio a regimes ditatoriais. E assim tem sido com a União Nacional dos Estudantes (UNE) desde sua fundação, em 1938. Lutamos junto com a cidadania brasileira contra a Ditadura Civil-Militar de 1964, pelo direito ao voto e pelas liberdades democráticas.

Por Moara Correia*, no site da UNE

Conheça Moara, primeira mulher negra a presidir a UNE - Reprodução

A garantia de diversos direitos sociais na Constituição de 1988 é fruto da resistência contra o regime autoritário, que permitiu a refundação da UNE e a fundação do MST em meio à luta pelas Diretas Já!

Em 1992, os caras-pintadas fizeram história derrotando o neoliberalismo corrupto de Collor; lutamos por justiça social e pelo uso das nossas riquezas em prol da nossa sociedade, como na campanha do Petróleo é Nosso! nos anos 1950. Estivemos nas ruas, sempre, pelo direito à educação para nossa juventude. Educação pública, gratuita e de qualidade para toda a sociedade. O conhecimento é libertador, não pode ser um privilégio.

Não é por acaso que a UNE tem a primeira mulher negra na sua presidência: temos nesse marco o resultado das lutas por uma universidade mais democrática e popular. Popularizamos a universidade e o Movimento Estudantil, por isso a UNE hoje é mais negra, feminista e diversa. Esses novos sujeitos agora têm a tarefa histórica de não permitir que as portas das universidades se fechem, para que não sejamos a última geração de filhos e filhas da classe trabalhadora a ter acesso à educação superior gratuita.

Quando a UNE se posicionou firmemente contra o golpe parlamentar que retirou a presidenta Dilma do poder, afirmamos que não se tratava da defesa de um mandato, mas sim a defesa da democracia e da soberania popular. Lutamos contra a articulação de Cunha e Temer com os grandes conglomerados de mídia, setores do judiciário e com grandes empresários porque sabíamos que sua vitória seria a vitória do neoliberalismo e a derrota do nosso povo e dos estudantes.

O voto de milhões de brasileiros foi desrespeitado. Os estudantes que lutaram por eleições diretas hoje voltam às ruas para novamente exigir que seu voto seja respeitado. Que a soberania do povo não seja atacada. No dia dois de outubro de 2016 voltaremos às urnas, agora, para eleger prefeitas e prefeitos, vereadoras e vereadores. É importante que nós que fomos para as ruas participemos desse momento importante do país. Muitos jovens, alguns militantes do movimento estudantil, aceitaram o desafio de concorrer neste pleito. O momento exige mais participação da juventude para que possamos eleger representantes comprometidos com as nossas bandeiras de luta. Se temos no planalto e no congresso nacional aqueles que não respeitam nossos votos e o programa escolhido nas urnas, torna-se ainda mais importante elegermos aliados nos municípios.
Infelizmente, as medidas do governo golpista seguem dando-nos razão. Desde que assumiu a presidência de forma ilegítima, Temer e sua corja vêm anunciando diversas medidas de ataque aos direitos fundamentais da classe trabalhadora e da juventude. Reforma trabalhista, reforma da previdência, venda do pré-sal para o imperialismo são algumas das políticas dos golpistas, todas voltadas a enriquecer o 1% dos ricos e a prejudicar e explorar a nós, os 99% que de fato constroem o Brasil.

Como se não bastasse, o governo anuncia a Reforma do Ensino Médio, dando um golpe mortal no futuro da juventude brasileira. O ministro da educação – que defendeu em sua posse a cobrança de mensalidades nos cursos de extensão e pós-graduação latu-sensu – elaborou uma proposta de renovação curricular do ensino médio sem ouvir a sociedade brasileira e a comunidade educacional, e Temer a enviou por Medida Provisória, confirmando seu caráter antidemocrático.

Essa reforma do ensino médio faz parte de um projeto mais amplo de destruição dos sonhos das juventudes e de construção de um país sem futuro e sem diversidade. Junto com a proposta de reforma do ensino médio querem o fim do ENEM, que como sabemos é um dos principais instrumentos de democratização da universidade pública brasileira; o fim do ensino de história e sociologia, para impedir que a juventude conheça seu passado e se aproprie da memória do seu povo, desenvolva um pensamento crítico e para manter a sociedade brasileira nas estruturas do racismo; e a proibição do ensino de gênero nas escolas, medida fundamental para que a diversidade e a igualdade derrotem o machismo e a homofobia no Brasil.

Esse caráter autoritário da Reforma e do governo Temer aparece não só no método de construir a proposta, mas também em seu conteúdo. O novo governo pretende acabar com ensino de artes, educação física, filosofia e sociologia. Essas duas últimas foram banidas do currículo escolar pela Ditadura Militar, e não é coincidência que o presidente golpista repita o gesto.

*Moara Correia é estudante de Engenharia Civil da UFMG e presidenta em exercício da União Nacional dos Estudantes