Rui Falcão: tirar lições da derrota e preparar um projeto para o país

Sobre o resultado das eleições municipais deste ano, o presidente nacional do PT, Rui Falcão, após reunião da Comissão Executiva da legenda, realizada nesta quarta-feira (5), avaliou os diversos fatores que implicaram na derrota petista no pleito deste ano. Para ele, além da forte campanha midiática contra o PT, houve ainda a repercussão do impeachment e a crise econômica, entretanto, para Rui, “nenhum desses fatores por si só são capazes de explicar a extensão da nossa derrota”.

Rui Falcao é reeleito

“Foi uma derrota forte, grande, que merece um exame sereno, aprofundado e minucioso nos próximos meses, até para que a gente possa, ao refletir sobre os erros que cometemos antes e durante a campanha eleitoral, tirar lições para recuperar o terreno perdido e preparar um projeto para o país”, disse em entrevista.

Projeto alternativo e união à esquerda

“Mais do que ficar remoendo as nossas dificuldades, ano que vem vamos construir de forma muita aberta com a sociedade, com os movimentos, um projeto alternativo que tire o país da crise, que nos permita retomar nosso projeto de construção de um novo país. Estamos orientando a nossa militância a apoiar incondicionalmente as candidaturas do Psol, PCdoB, Rede e PDT nas capitais, e para que em cada município os diretórios vejam a quem nós não devemos conceder o voto, nem o apoio”, afirmou Rui.

Falcão reafirmou a necessidade de uma união da esquerda “Vamos rever nossas estruturas organizativas, tentar unificar a esquerda. Tem partidos que se endireitaram, mas têm gente de esquerda”.

Segundo Rui, foi feito um primeiro balanço do primeiro turno, mas ainda há muitos dados que não estão disponíveis. “É mais um passo político; primeiro constatando que desde a ação penal 470 as forças conservadoras desfecharam uma ofensiva terrível contra nós. Ela se estendeu até os últimos dias da campanha eleitoral”.

O presidente do partido relembrou episódios que ocorreram até os últimos dias antes do pleito, como a decisão de Sérgio Moro que transformou a prisão provisória do Palocci em preventiva, a prisão de Guido Mantega, duas ações transformando Lula em réu, além da agressão contra o governador da Bahia.

“Foi uma campanha de massacre que naturalmente acabou culminando em produzir um resultado eleitoral”, avaliou Rui. “Hoje nos jornais uma campanha paga com o timbre do governo usurpador: ‘Vamos tirar o brasil do vermelho’, que dá a entender ‘vamos tirar o vermelho do país’. Não basta nossa derrota eleitoral, querem nos eliminar da vida política”, disse em relação as manchetes e editoriais da grande imprensa.

O presidente do PT ainda afirmou que o partido irá dedicar todo seu empenho às sete cidades onde disputa o segundo turno: Juiz de Fora (MG), Anápolis (GO), Santa Maria (RS) , Santo André (SP), Mauá (SP), Vitória da Conquista (BA) e Recife (PE).

“Conjugando essa participação nas eleições com o empenho das nossas bancadas na Câmara e no Senado, se somando também às bancadas de oposição, possamos fazer a uma oposição dura à PEC 241, a PEC do desmonte, do arrocho, o PL que acaba com a política de partilha do pré-sal, com a Petrobras como operadora única, a MP do ensino médio”.

Perseguição a Lula

Questionado sobre o indiciamento do ex-presidente Lula, Rui avaliou ser “mais uma atitude que comprova o que tenho dito: há uma perseguição”. Segundo ele, “a gente mede também como a Lava Jato influiu na campanha eleitoral. Essa nova investida contra Lula comprova o que temos dito. Em nome do combate à corrupção, que preocupa a população com razão, se faz uma cruzada seletiva contra um partido da maior liderança popular do país, passando inclusive por cima de direitos fundamentais”.

Rui Falcão alertou para o perigo dessa perseguição, não só para o Partido dos Trabalhadores, mas para todos os brasileiros: “A ideia de aceitar provas mesmo colhidas ilegalmente, a ideia de violar o princípio da presunção de inocência, o fim do habeas-corpus, enfim, a ideia de tratar situações excepcionais com julgamentos excepcionais é um estado de exceção em andamento. É o PT, depois vem esquerda, depois o cidadão isoladamente. Assim que em certos países a aceitação do mal como banalidade levou a desastres que a gente não quer ver se repetir”.

São Paulo

Sobre o maior colégio eleitoral do país, em que o prefeito Fernando Haddad, do PT, não conseguiu se releger e com a vitória, ainda no primeiro turno, do candidato do PSDB, João Doria, Rui afirmou que “foi uma surpresa relativa porque a expectativa geral era de que ficássemos em 2º ou 3º lugar; e com um pouco mais de campanha teríamos ido para o segundo turno. “Vamos tirar lições desses erros”.

“O fato é que há uma necessidade urgente de reforma política, com fundo público de financiamento exclusivo. Primeiro por não ter fixado teto nominal, só percentual. O financiamento público é necessário”,, concluiu.