Hélio Leitão: Lições da Colômbia

“A perseguição dos ideais de justiça social pelo braço armado, a história tem demonstrado, não raro tem deixado rastros indeléveis de dor e destruição”.

Por Hélio Leitão*

Paz na Colombia - Divulgação

A chamada “Guerra Fria” que sucedeu a Segunda Guerra Mundial e que cindiu o mundo em dois blocos ideológicos antagônicos — comunistas de um lado, capitalistas de outro, com suas divergências invencíveis, parece finalmente caminhar para o fim.

Após surpreendente e inesperado reatamento de relações diplomáticas entre Estados Unidos e a pequenina Cuba, marco fundamental no processo de superação das sequelas ideológicas daquele período, eis que se abre novo capítulo na história desse penoso processo de distensionamento político.

Na mágica Colômbia de García Marquez, após cinquenta anos de conflito armado, o governo de Juan Manuel Santos sela acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), pondo fim às hostilidades recíprocas e deflagrando o processo de reconciliação nacional.

Pelo acordo, as Farc se transformariam em partido político, passando a disputar o poder dentro dos limites da legalidade democrática. Àqueles que confessassem crimes cometidos seriam aplicadas penas alternativas, evitando-se a prisão. Aos inconfessos tidos por culpados, penas de oito a vinte anos. A comunidade internacional saudou com entusiasmo o acordo que, uma vez submetido a referendum popular, naufragou fragorosamente.

Foi o anticlímax, a revelar o quão difícil é a recomposição do tecido social esgarçado por décadas de lutas fratricidas, de que resultou um saldo de mais de duzentos mil cidadãos colombianos mortos e outro tanto de feridos, torturados e perseguidos.

A despeito do rechaço popular ao acordo de paz, o cessar-fogo permanece, ensarilhadas as armas enquanto se busca alternativa política. Já é muita coisa. Tanto que valeu ao presidente colombiano nada menos do que o Prêmio Nobel da Paz. Não foi por acaso. A perseguição dos ideais de justiça social pelo braço armado, a história tem demonstrado, não raro tem deixado rastros indeléveis de dor e destruição.

Em minhas leituras recentes esbarrei com uma frase de Leonardo Boff, para quem “A paz será a meta e meio. Só os meios pacíficos produzirão a paz”. Parece que o teólogo tem razão.

*Hélio Leitão é Secretário de Estado da Justiça e Cidadania

 

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