Colômbia inicia nova etapa de negociação de paz, agora com o ELN

A Colômbia inicia mais um importante processo rumo à paz sólida e duradoura. Depois de encerrar os Diálogos de Paz com as Farc, maior guerrilha do país, agora o governo inicia a Fase Pública de Negociação de Paz com o ELN (Exército de Libertação Nacional), segunda maior insurgência colombiana.

Diálogos de paz com o ELN - AVN

O anúncio do início das negociações foi feito em Caracas, na noite desta segunda-feira (10). A mesa será estabelecida em Quito, no Equador, no dia 27 de outubro.

Além de Quito, Brasil e Venezuela também poderão sediar etapas do processo. A Colômbia será representada por Frank Pearl — economista que fez parte da equipe de diálogo com as Farc — e o ELN será representado por Eliécer Erlinto Chamorro, conhecido pelos guerrilheiros como Antonio Garcia.

A agenda de pontos de negociação apresentada por ambas partes consiste em seis pontos: participação na sociedade, democracia para a paz, vítimas, transformação para a paz, segurança para a paz e deposição de armas, e garantias para o exercício da ação política.

Essa agenda se assemelha com a que foi negociada com as Farc nos últimos quatro anos e rejeitada pela população colombiana no plebiscito do dia 2 de outubro. As similaridades dizem respeito principalmente ao desenvolvimento econômico e inclusão social dos guerrilheiros, e reparação e justiça para as vítimas.

A questão foi retomada logo após a realização do plebiscito sobre o acordo de paz com as Farc. Apesar da rejeição da população, o ELN disse na ocasião que ainda estava disposto a dialogar, iniciativa elogiada pelo governo colombiano.

No entanto, apesar do anúncio desta segunda, nem todos os reféns foram libertados. Odín Sánchez de Oca, ex-presidente da Câmara dos Deputados colombiana detido neste ano, segue sequestrado.
"Agora que avançamos com o ELN, será completa, será uma paz completa", disse o presidente Juan Manuel Santos após o anúncio.

As Farc emitiram um comunicado oficial para saudar a iniciativa do ELN em iniciar o processo de paz. “Com sentimento patriótico e infinita ânsia pela paz, saudamos o início da fase pública das conversações de paz entre nossa organização irmã, o Exército de Libertação Nacional e o governo da Colômbia”, diz o documento.

ELN

O Exército da Libertação Nacional surgiu em 1965, criado por estudantes influenciados pela Revolução Cubana de 1959 com o apoio de padres da igreja católica e membros de organizações sociais de caráter rural.

Pela influência religiosa, a guerrilha tardou em se envolver com o narcotráfico. E muitos de seus líderes, principalmente padres e outros religiosos, sempre recusaram que a guerrilha tivesse esta fonte de renda. A principal fonte financeira do ELN vem principalmente da extorsão da Ecopetrol, empresa petrolífera colombiana.

Atualmente o ELN é liderado por Nicolás Roríguez Bautista, conhecido como Gabino. Em seu ápice, nos anos 90, a guerrilha chegou a contar com mais de 30 mil guerrilheiros.

Com as ações terroristas dos grupos paramilitares de extrema-direita financiados pelo Estado para combater a guerrilha, a popularidade do ELN caiu muito e o movimento está bastante desfalcado. Assim como no Brasil, na Colômbia também há uma campanha midiática de criminalização dos movimentos sociais e da esquerda como um todo.