Empreiteiro diz ao TSE: Doação de Dilma saiu do mesmo caixa que Aécio

Em depoimento na ação movida pelo PSDB no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pede a cassação da chapa Dilma-Temer, o ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo, delator da Operação Lava Jato, confirmou ter se encontrado com o empresário e ex-presidente da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais (Codemig) no governo Aécio Neves (PSDB) Oswaldo Borges para tratar de doação eleitoral para a campanha presidencial do tucano.

Andrade Gutierrez

De acordo com matéria publicada pelo Estadão desta quinta-feira (14), Azevedo depôs no dia 19 de setembro e ao explicar sobre como eram feitas as doações  disse que foi feito repasse da mesma espécie a outros partidos e políticos, entre os quais o PSDB. Segundo ele, todas as doações eleitorais saíam do mesmo caixa da empresa e, em relação ao PSDB, contou que chegou a encontrar com Oswaldo, da Codemig.

“Fui procurado pelo senhor Oswaldo Borges da Costa, também, que era… trabalhava não sei em que função lá, com o candidato [Aécio Neves]. E, basicamente, essas demandas [de doação] vinham através deles”, afirmou o empreiteiro, que tinha entre seus contatos telefônicos o número de Oswaldo, identificado pela Polícia Federal em trocas de mensagens no celular.

Azevedo é o segundo empreiteiro a afirmar em depoimento ao TSE, na ação movida pelos tucanos após a derrota nas urnas, que as doações de campanha feitas ao PSDB vêm do mesmo caixa. O empreiteiro da UTC e delator da Lava Jato Ricardo Pessoa afirmou que as doações eleitorais, em 2014, vieram do mesmo caixa da empresa e não tinham relação com o esquema de corrupção na Petrobras.

Em outros vazamentos de delações publicados pela grande midia, Oswaldo já foi citado por outros delatores como “operador” ou “tesoureiro informal” de Aécio. Delações do empreiteiro José Adelmário Pinheiro Filho, Leo Pinheiro, da OAS, também o apontam como intermediário de propinas na construção da Cidade Administrativa, obra mais cara do governo Aécio – que custou R$ 1,2 bilhão.

O PSDB, por meio de nota, disse que Borges da Costa atuou na campanha de 2014, mas somente “apoiando o comitê financeiro”. A Andrade Gutierrez foi uma das principaís doadoras de campanhas eleitorais. Em 2014, segundo o TSE, foram R$ 20 milhões para a campanha de Aécio e R$ 21 milhões para a de Dilma.

Azevedo confirmou ainda que as trocas de mensagens encontradas no seu celular durante o período eleitoral (agosto de 2014), se referiam à doação para a campanha tucana e que “coincidentemente”, segundo o executivo, foi feita no mesmo dia em que a empresa fez um repasse para a campanha da chapa Dilma-Temer.

Em uma das mensagens, do dia 27 de agosto de 2014, Oswaldo pergunta a Azevedo se era possível “falar na quinta às 19h em Sp”. Dois dias depois, Otavio responde: “Já foi feito”. Oswaldo agradece: “Obrigado Otavio. Com vc funciona!!!rsrs”.

No mesmo dia, Azevedo confirmou doação para a campanha de Dilma Rousseff, por meio do chefe de gabinete do então tesoureiro Edinho Silva. Mas somente a conversa do petista provocou investigação até agora.

Azevedo, no entanto, tentou justificar que apesar de ter doado quantias próximas para as campanhas de Dilma e Aécio, em relação as doações para o tucano não havia nenhuma vinculação com obras ou projetos da empresa.

“Nós não tínhamos nenhum projeto com o candidato Aécio, nenhum projeto, nenhuma… nada em execução, nada, nada, nada. Não tínhamos compromisso, em 2014, pelo menos que eu saiba, nenhum compromisso que levasse a uma doação…é…vinculada a obra, a projeto, não existiu isso. Não existiu isso”, afirmou Azevedo.

Em uma declaração contraditória, Azevedo disse que houve um acerto de propinas equivalente a 1% de todos os contratos da Andrade com o governo federal e também com o PMDB e com o PT referente às obras da usina de Belo Monte. Mas quando questionado se as doações eleitorais de 2014 foram descontadas desse acordo da propina ele negou e disse que apenas uma doação para a campanha de Dilma, em julho de 2014, “certamente” veio dos acordos de propina.

“Não havia – não havia e não há; não houve, não houve – em nenhuma momento uma contabilidade paralela para dizer: esse tanto de dinheiro aqui é do…é…é….é….é..é…é…é do PT Berzoini, esse aqui é do PT Palocci, esse aqui é do PT Dilma…não é assim… do PT Vaccari…não. É do PT. É do PT. Então, é…não…não existia, não há como você, dentro do caixa, nem…nem…nem que esse dinheiro aqui é do PT e esse aqui é do PSDB”, disse o confuso Azevedo, segundo o Estadão.

Depois acrescentou: “Agora, o único que eu…que eu…o…o único assim que certamente veio de origem dessa…dessa…dessa, vamos dizer, desse…desses pedidos, desses acordos firmados com o Berzoini e com o Palocci, assim, carac…bem caracterizado, é esse um milhão”.