Trump ameaça não reconhecer derrota e chama Hillary de asquerosa

Hillary Clinton e Donald Trump debateram na noite de quinta-feira (19) pela última vez antes das eleições presidenciais dos Estados Unidos em 8 de novembro. Trump se destacou pelo lado negativo, ao destrambelhar quando Hillary o colocou contra a parede. Ele fez ameaças e demonstrou, aos olhos dos estadunidenses, que não é um candidato preparado para exercer o cargo.

Donald Trump e Hillary Clinton no debate de Las vegas - El País

A declaração de Trump que provocou a maior surpresa foi que "talvez não aceite" a provável derrota nas eleições. É a primeira vez que um candidato, há pouco menos de 20 dias da escolha do colégio de representantes que definirá quem será o próximo presidente, declara que talvez não reconheça a vitória da adversária.

Nem Al Gore, que obteve 500 mil votos a mais que George W. Bush em 2000 e foi derrotado pelo arcaico sistema de votação americano, chegou a tal extremo. Na ocasião, o candidato democrata chegou a recorrer à justiça da Flórida, diante da evidência de fraude no estado, mas o caso foi arquivado pela Corte, mais inclinada à Bush. Gore aceitou a "derrota".

Mediado pelo apresentador da Fox News, Chris Wallace, o debate novamente contou com desqualificações pessoais. Trump afirmou mais uma vez, sem provas, que as eleições já estão arranjadas para Hillary. A democrata rebateu, acusando Trump de ser "marionete" do presidente russo Vladímir Putin. O governo americano tem acusado a Rússia de tentar interferir nas eleições do país a favor do magnata nova-iorquino.

Trump voltou a agredir Hillary, a chamando de desonesta, falsa e asquerosa. ele também procurou desqualificar a administração de Barack Obama, dizendo que Putin e o presidente da Síria, Bashar al-Assad, foram "mais espertos" que ela e Obama.

Outra bazófia que provocou comichões nos democratas foi desfavorecer as alianças com Alemanha e Japão, algo que os estadunidenses consideram um pilar da ordem internacional desde o fim da Segunda Guerra.

Mas o que mais preocupou os analistas políticos foi a declaração dele sobre se respeitaria o resultado da eleição, caso perdesse. “Quando chegar o momento, verei”. Depois acrescentou: “Eu verei quando chegar o momento. Manterei em suspense, de acordo?”, respondeu a Wallace.

A afirmação é extraordinária, uma declaração jamais escutada em um debate televisivo entre as duas pessoas que pretendem governar os Estados Unidos. O reconhecimento do resultado por parte do perdedor é considerado a garantia da passagem pacífica do poder, a essência para o bom funcionamento do sistema.

"Você está ofendendo nossa democracia e me espanta que alguém que é o indicado de um de nossos grandes partidos adote essa posição", rebateu Hillary, demonstrando incredulidade.

Em momentos anteriores, essa postura de Trump fez com que líderes do seu partido começassem a se distanciar de sua candidatura, revelando que o mito da fidelidade partidária nos Estados Unidos não passa de um mito. Seu vice, Mike Pence, já abriu distância da teoria da conspiração trumpiana segundo a qual está em andamento uma grande fraude eleitoral destinada a tirar a vitória do republicano.

Novamente, pouco conteúdo, muita agressão

Trump aproveitou as bolas levantadas pelo mediador da Fox News para expôr o que pensa sobre questões programáticas como o aborto, as armas de fogo e a imigração. Isso permitiu que lançasse seus slogans mais chamativos a respeito de imigração e aborto, temas que agradam a uma base conservadora que vê o candidato republicano com ceticismo.

Hillary, por outro lado, demonstrava nervosismo e tropeçava em suas mensagens. Tudo parecia encaminhar para uma aparente vitória de Trump, que não insultou como de costume e conseguiu deixar Hillary na defensiva.

A redução das expectativas foi positiva: pouco se esperava dele, justamente no seu pior momento, quando muitos em seu próprio partido perderam a esperança na vitória.

Mas, após 45 minutos, quando o tema era o temperamento dos candidatos para governar os Estados Unidos e quando o jogo estava chegando ao fim, Trump voltou a exibir sua cara medonha.

Wallace lhe perguntou se aceitaria o resultado eleitoral, qualquer que fosse. Trump se negou a responder diretamente. Tergiversou atacando os meios de comunicação e depois foi para cima de Hillary, dizendo que ela deveria ser julgada e presa.

“Já ficou provado que você é uma mentirosa, e isso que você está dizendo é só uma mentira a mais”, interrompeu Trump quando Hillary citava uma lista de comentários do republicano menosprezando o risco das armas nucleares.

"Não deveriam tê-la deixado disputar a presidência", aludindo a supostos crimes que ela teria cometido quando secretária de Estado.

Ele próprio, começava assim a desconstruir a situação favorável que tinha criado. Hillary, que parecia estar fadada a uma derrota no debate, não arriscou e administrou a situação, saindo de lá com um leve "ar presidencial".

Outro tropeção do magnata foi quando tentou desqualificar Hillary, chamando-a de mulher "asquerosa". Foi a reação dele ao ouvir os planos da democrata para política fiscal e previdência. Embora tenha sido um comentário impulsivo e sem motivo aparente, essas palavras se somam a uma longa lista de frases depreciativas que o magnata tem feito sobre Hillary, e que são tidas como devastadoras para sua própria campanha.

Em outro momento, Hillary provoca: "Trump incita à violência", ao se referir à campanha e aos comícios do republicano, onde ao longo da campanha seus comentários provocadores têm gerado numerosas situações de tumulto, incluindo insultos diretos à democrata e a minorias como os negros e os muçulmanos.