Regina Ribeiro: Quem será o verdadeiro Eduardo Cunha?

"O homem amealhou uma fortuna que, talvez, pouquíssimos empresários conseguiriam, trabalhando de forma correta. A última estatística diz que seu patrimônio cresceu 53 vezes. Só de carros de luxo, a conta chega a R$ 1,3 milhão, mas isso não é nada diante dos R$ 220 milhões bloqueados”.

Por *Regina Ribeiro

Suspenso do mandato, Cunha custa R$ 1,8 milhão

Um amigo jornalista sempre chamou a minha atenção sobre o olhar do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Às vezes em tom de brincadeira, ele me dizia que era um “típico olhar de um psicopata”. Eu confesso que não entendo nada desse tipo de olhar. Ele também não. Mas era necessário, àquela altura, dizer algo sobre a estranha frieza congelada que Eduardo Cunha mantém no rosto, aquele olhar fixo para a câmera ou sabe Deus para onde, que ele conservou durante todo o tempo que mandou e desmandou neste País.

Vi aquele punhado de fotos da prisão de Eduardo Cunha tentando identificar a expressão do rosto dele, e fiz isso com tanta seriedade, que nem vi o tal hipster da Federal. Só depois foi que percebi a bela figura que a PF pôs no encalço do milionário Cunha. Me pareceu frio como sempre. Como se estivesse embarcando para alguma viagem de negócios políticos rodeado de puxa-sacos e cúmplices de toda espécie.

Li recentemente que Cunha fora um nerd na escola. Usava um par de óculos fundo-de-garrafa, tirava as notas mais altas da classe. Tornou-se economista. Entrou na política pela tesouraria da campanha do Collor, pelas mãos do PC Farias. De lá para cá, abriram-se as portas de alguma mina do rei Salomão. O homem amealhou uma fortuna que, talvez, pouquíssimos empresários conseguiriam, trabalhando de forma correta. A última estatística diz que seu patrimônio cresceu 53 vezes. Só de carros de luxo, a conta chega a R$ 1,3 milhão, mas isso não é nada diante dos R$ 220 milhões bloqueados.

Quando a imprensa estrangeira não entendia como é que o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, já acusado dos motivos que o levaram a um “recesso” para se avistar com o juiz Moro, estava comandando o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, li coisas pouco convincentes a respeito do assunto. Quando o PSDB quase fecha com Eduardo Cunha para derrubar a ex-presidente, as justificativas eram as mais republicanas possíveis. Quando Michel Temer fazia visitas sorrateiras a Cunha e quando, enfim, ele emplacou o atual presidente da Câmara, tudo parecia o mais sisudo ritual político. Agora, veremos todos quem é o verdadeiro Cunha e a quem ele entregará a fatura da sua débâcle.

*Regina Ribeiro é jornalista

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