Ocupação do Estadual Central é atacada; alunos reafirmam resistência

Símbolo da resistência dos estudantes secundaristas de Belo Horizonte contra a ditadura militar (1964-1985), o Colégio Governador Milton Campos, conhecido como Estadual Central, volta a ser palco da luta da juventude mineira. Desde o início do mês de outubro integrantes do Grêmio Estudantil Abra Alas ocupam parte da instituição contra a proposta de reformulação do ensino médio e a PEC 241.

Por Mariana Viel, do Portal Vermelho-Minas

Ataques Ocupação Estadual Central 1

Na manhã desta quinta-feira (26) – após de uma série de ameaças promovidas por alunos através das redes sociais – foram colocadas duas bombas próximas à área onde ficam as barracas dos estudantes. Os ataques aconteceram logo após a realização de uma intervenção artística em solidariedade ao estudante do Colégio Santa Felicidade, no Paraná, encontrado morto dentro da ocupação no começo desta semana.

No exato momento das explosões cerca de 100 alunos debatiam democraticamente suas opiniões contrárias e favoráveis à ocupação. Segundo a presidenta do grêmio, Daniela Moura, os alunos já conseguiram identificar através de mensagens de áudios e postagens em redes sociais os responsáveis pelos ataques. Todo o material será encaminhado para as autoridades para investigação.

Apesar do lamentável episódio de violência, a ocupação tem ganhado força e visibilidade fora dos muros da escola. Na manhã de hoje os alunos receberam o apoio de representantes das ocupações da UFMG, da PUC e do IEMG. Também estiveram presentes representantes do Sinpro-Minas e dos gabinetes do vereador, Gilson Reis, e do deputado estadual, Rogério Correa.

Divergências

Aqueles que defendem a desocupação do colégio argumentam que o grêmio não está aberto ao diálogo com os alunos. Filha de militantes, a diretora social do grêmio, Laura Lemos, contesta as acusações. “Realizamos debates e passamos em sala de aula frequentemente para explicar os motivos da ocupação. Estamos sempre abertos à comunicação, mas existe um grupo que não acredita que o movimento estudantil serve para o estudante. Há uma grande massa que não faz a menor ideia do que está acontecendo e grita ‘fora grêmio’. Poucas vezes eles apareceram para conversar”.

Ao contrário do que acontece na grande maioria das ocupações espalhadas por todo o Brasil, o calendário escolar do Estadual Central foi mantido normalmente. O único episódio de paralisação das aulas ocorreu pontualmente na última segunda-feira (24) data convocada por entidades como o “Dia Nacional de Luta do Movimento Social”. Os próprios alunos do grêmio e simpatizantes do movimento se revezam em turnos alternados para cuidar do espaço e acompanhar as aulas.

Luta de Classes

Se por um lado existe uma evidente divisão de opinião entre os alunos também é explicita a natureza dessas diferenças. Localizado em uma região nobre da capital mineira, o Estadual Central é formado por alunos com acesso a bens de consumo e realidades sociais muito diferentes.

Os integrantes da ocupação afirmam que muitos alunos declaram abertamente não se importar com o futuro da educação pública, pois os “pais têm meios próprios para custear seus estudos caso necessário”. Insuflados pela onda conservadora e pela criminalização dos movimentos sociais, os relatos sobre ofensas racistas, sexistas e homofóbicas contra os estudantes também são recorrentes.

Primavera secundarista

Segundo a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e a União Nacional dos Estudantes (UNE) o Brasil tem hoje 1108 escolas e 102 universidades federais ocupadas. Para o diretor de Relações Internacionais da Ubes, Jairo Marques, as ocupações são um meio de transformação.

“Somos a galera que ama a escola e que ocupa com sentimento de transformação. No momento de crise é importante fazer ajustes, mas não ajustes que firam os interesses do povo. Desde que tomou posse esse governo ilegítimo que tem provocado uma série de retrocessos. O ensino precisa ser reformulado, mas essa MP não dialoga com as nossas necessidades. Precisamos de uma reforma pelo pensamento, pelo social”, diz.