Trump tenta se distanciar da direita racista que o apoia
"Eu os repudio e condeno”. Com essa afirmação, o presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, procurou se distanciar nesta terça-feira (22), pela primeira vez em público, do apoio que recebeu de um grupo de direita racista norte-americana. O presidente eleito se envolveu em uma polêmica depois de que, no sábado, cantaram-se palavras de ordem nazistas para comemorar a sua vitória eleitoral em um evento do National Policy Institute, que defende a preservação da raça branca nos EUA.
Publicado 23/11/2016 14:35
“Heil Trump. Heil o povo. Heil a vitória”, proclamou Richard Spencer, o dirigente da organização, no ato realizado em Washington. Alguns dos presentes responderam fazendo a saudação nazista com o braço. Spencer é considerado o pai do conceito alt-right (direita alternativa), uma corrente que atrai racistas e antissemitas e que se forma em torno do repúdio à imigração como ameaça ao predomínio demográfico branco e ao establishment político. Outros grupos com ideias semelhantes festejaram a vitória de Trump.
Em encontro com jornalistas e executivos do The New York Times, Trump negou que sua campanha tenha estimulado o crescimento da chamada alt-right. “Não é um grupo que eu queira estimular. E, se eles estão motivados, quero investigar isso e saber o motivo”, disse o republicano. Na véspera, um porta-voz seu já havia se distanciado desses grupos.
Durante a campanha, Trump lançou sinais em direção aos grupos de extrema-direita ao contratar Steven Bannon, responsável pelo Breitbart News –uma publicação digital que se definiu no ano passado como “uma plataforma para a alt-right”–, como coordenador de sua candidatura. O futuro presidente escolheu agora Bannon como seu coordenador de estratégia na Casa Branca, o que gerou uma torrente de críticas.
No encontro com o Times, Trump defendeu Bannon. “Se achasse que ele é um racista ou da alt-right ou de qualquer uma dessas coisas ou expressões que se queira usar, eu nem sequer teria pensado em contratá-lo”, afirmou. Creio que estão sendo muito duros com ele. Creio que estão equivocados”.
O fundamentalista Spencer, por sua vez, minimizou nesta terça-feira a sua intervenção, durante a qual também emitiu palavras de ordem antissemitas, e citou a propaganda nazista para atacar os jornalistas. Em entrevista à rede NBC, ele alegou que seus gritos de Heil pretendiam ser “irônicos” e “insolentes”.
A retórica extremista desencadeou forte preocupação, no entanto, no Museu do Holocausto, localizado ao lado do centro de convenções onde se realizou o encontro do grupo de Spencer. A instituição soltou uma nota em que se declara “profundamente preocupada com o discurso do ódio” registrado no evento do National Policy Institute.
Spencer disse que os EUA pertencem aos brancos, que devem decidir entre “conquistar ou morrer”. O museu chama a atenção para o fato de que essas palavras são semelhantes à percepção negativa que Adolf Hitler tinha dos judeus e sua opinião de que a história é uma luta pela sobrevivência da raça. “O Holocausto não começou com mortes, começou com palavras”, assinala o texto. “O museu pede a todos os cidadãos norte-americanos, nossos líderes religiosos e civis, e aos responsáveis de todas as áreas do governo que confrontem o pensamento racista e o discurso do ódio que só serve para nos dividir”.