“Pai que não sai do armário é co-responsável pela morte do filho LGBT"
O protagonista da campanha do Dia dos Pais da ONU, o agrimensor aposentado Avelino Fortuna, de 60 anos, que teve seu filho, Lucas, brutalmente assassinado por homofobia em 2012, sempre diz que "o pai que não sai do armário é co-responsável pelo atestado de óbito do filho LGBT". O seu depoimento e força dão grande incentivo aos familiares a compreenderem que a violência, muitas vezes começa dentro de casa.
Publicado 24/11/2016 15:20

O triste caso de violência contra o seu filho ocorreu em 18 de novembro de 2012, quando o jovem jornalista e árbitro de futebol foi encontrado boiando na Praia de Calhetas, em Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco. Em seu corpo, marcas de extrema violência e a certeza do crime praticado por ódio à orientação sexual. Dez meses antes, Avelino perdeu a esposa que também junto com o filho eram ativistas do movimento contra a LGBTfobia.
Avelino declara que a morte do filho o fez sair da zona de conforto, engrossar a militância contra a LGBTfobia e conscientizar principalmente os pais. “Já que ele e a mãe dele eram militantes, tive que encarar essa luta. Estou no coletivo Mães Pela Diversidade para ver se conseguimos tirar o maior número de pais no armário. A gente entende que a primeira violência que um LGBT é vítima é dentro da própria família. E a gente precisa reverter esse quadro, uma vez que já encontramos violências na rua afora”.
Avelino recebeu o troféu Rutílio de Oliveira
Após um vídeo produzido pela ONU (Organização das Nações Unidas) para o Dia dos Pais, que foi exibido no Festival, ele afirma que espera que num futuro próximo todos os pais de filhos LGBTs também estejam fora do armário. Ou seja, que eles lidem, conversem e tratem com naturalidade a orientação sexual e identidade de gênero de seus filhos.
“Para mim, o pai que não sai do armário assina o atestado de óbito do filho. O meu filho sempre dizia: ‘Homofobia mata’, repetia sempre três vezes, mas a gente nem imaginava que ele pudesse ser uma vítima de homofobia”, declarou.
Na militância e no contato com outros LGBTs Avelino tenta assoprar as marcas profundas que ficaram no coração. “Eu não criei um filho para mim, mas para a sociedade. E essa sociedade é responsável pelo meu filho. Assim como eu, enquanto sociedade, sou responsável por qualquer outro filho. É por isso que eu digo: meu filho se foi, mas ele me deixou um milhão de filhos. Eles me dão a energia vital que meu filho LGBT me ensinou a receber. E essa energia tem o nome que eu chamava a minha mulher: amor”.
Ele ainda frisa que gostaria que todos os pais conseguissem entender que ter um filho ou filha LGBT não é algo triste: “pode ser a maior alegria do mundo”.
Avelino, um pai em um milhão.
Assista o vídeo: