Sócio da empresa que reformou triplex diz que Lula não é dono

 Quatro testemunhas foram ouvidas por Sergio Moro nesta quarta (30), mas nenhuma conseguiu provar a posse atribuída ao ex-presidente pela Lava Jato. Ministério Público Federal apostou fichas em dono de apartamento que dona Marisa quis comprar da Bancoop.

Lula - Reprodução

O juiz Sergio Moro deu sequência ao julgamento do caso triplex, em que Lula é acusado de receber vantagens indevidas da OAS, nesta quarta-feira (30), ouvindo quatro testemunhas de acusação selecionados pelo Ministério Público Federal. Dentre elas, o engenheiro Armando Dagre Magri, sócio da empresa contratada para fazer a reforma da unidade 164-A do Condomínio Solaris ao custo de R$ 770 mil. Segundo Magri, o apartamento não é propriedade de Lula.

Além de ser sócio da Tallento e acompanhar indiretamente a reforma do triplex, Magri foi escolhido pelo MPF porque acompanhou a segunda visita que a ex-primeira-dama Marisa Letícia e seu filho, Fábio Luís, fizeram ao apartamento, ao lado de Léo Pinheiro e outros funcionários da OAS.

Magri disse diante de Moro que, em sua visão, Marisa não parecia a dona do triplex porque demonstrava surpresa ao conhecer alguns detalhes da unidade, como a vista. Em outros depoimentos, ele também disse que ela não deu palpites nas reformas em andamento, comportamento geralmente adotado por proprietários de imóveis.

Aos 10 minutos do vídeo abaixo, uma das advogadas de empresários da OAS pergunta se o sócio da Tallento sabia a quem o apartamento pertencia. "O senhor previamente recebeu a informação de que esse apartamento seria entregue ao ex-presidente Lula?", perguntou. Magri respondeu monossilabicamente que "não", mas em vários outros momentos ele apontou que, em todos os contratos da obra, era a OAS quem aparecia como dona do imóvel.

Hernani Mora Varella Guimarães, sócio de Armando Magri na Tallento, também foi ouvido diante de Moro nesta quarta. Ele disse que também sabia das modificações feitas no apartamento, mas que não pode afirmar que ela pertencia a Lula.

AS IMPLICAÇÕES PARA DONA MARISA

O MPF também selecionou como testemunha o ouvidor Eduardo Bardavira, que comprou "uma das últimas unidades" vendidas pela OAS no Condomínio Solaris, o apartamento 134-A.

Na denúncia contra Lula e dona Marisa, consta que o casal estaria interessado em adquirir essa unidade quando a Bancoop era responsável pela obra. Depois, a OAS assumiu o empreendimento e exigiu que os antigos clientes tomassem uma decisão: renegociar os imóveis adquiridos ou abrir mão e buscar ressarcimento.

Marisa, que detinha cota parte de um apartamento com a Bancoop, não tomou uma decisão dentro do prazo de 30 dias estipulados pela OAS para todos os clintes. O MPF anexou na denúncia um documento mostrando que as iniciais da ex-primeira-dama e outros nomes ligados a João Vaccari Neto estariam numa lista "VIP", ou seja, clientes que iriam negociar a situação com a OAS de maneira diferente dos demais compradores.

A unidade que Marisa pretendia comprar, segundo apontam documentos, foi vendida, afinal, a Eduardo Bardavira em abril de 2014. O MPF diz que na mesma época, o triplex número 164-A já teria sido destinado a Lula como propina disfarçada pela OAS, insinuando que este seria o motivo do casal não ter criado problemas à venda do número 134-A.

Bardavira disse que pagou R$ 200 mil à vista pelo apartamento e financiou outros R$ 250 mil pelo banco Santander. Ele ainda afirmou ter "pago do próprio bolso" uma reforma que levou mais seis meses, pois recebeu o apartamento sem nenhuma personalização, ao passo em que o triplex teria móveis e até eletrodomésticos comprados.
Ao MPF, o ouvidor apontou que a unidade comprada estava "livre e desembaraçada", ou seja, não havia sido judicializada por parte de Marisa, que só algum tempo depois recorreu à Justiça para ser ressarcida pela OAS.

Sobre a unidade 164-A, a testemunha disse que não sabia se estava à venda e que não também não estava interessado porque queria um apartamento menor, de 85 metros quadrados. O triplex tem cerca de 200 metros, segundo outra testemunha ligada à Tallento – empresa que fez a reforma a pedido da OAS.

A defesa de Lula questionou ao morador sobre o conhecimento de que a OAS parou de pagar o condomínio da unidade 164-A neste ano. Ele disse ter confirmado essa informação no extrato de contas que todos os moradores recebem.

"O que falam sempre [sobre inadimplência] é dessa unidade 164, mas deve haver outras, não sei. (…) Precisa perguntar para o síndico", disse, acrescentando que não sabe se a OAS foi acionada na Justiça por causa dessas dívidas.

O ENGENHEIRO DO ELEVADOR

A quarta testemunha de hoje é Alberto Ratola de Azevedo, engenheiro contratado pela Tallento para fazer especificamente o cálculo de instalação de um elevador privativo dentro do triplex. Ele disse na audiência que não tinha conhecimento de que a unidade pertencia ou seria vendida ao ex-presidente Lula.