Guadalupe Carniel: LaMia, Conmebol e turbulências

O acidente que matou a equipe de Chapecó e deixou de luto o futebol mundial ainda repercute nos jornais latino-americanos e o que mais se comenta é que a Conmebol pode ter relação com a companhia aérea. Segundo José Bolívia, presidente da Chilean Airways, a Conmebol “sugeria” aos clubes para viajarem com a LaMia, responsável pelo avião que caiu na Colômbia. De acordo com Bolívia, a Chilean levaria os jogadores do San Lorenzo para Santa Catarina, mas a Conmebol intercedeu a favor da LaMia.

Aeronave da LaMia que acidentou-se com o time da Chapecoense na Colômbia

A empresa fundada em 2009 na Venezuela e que tinha apenas um avião em funcionamento, já levou desde equipes como Olimpia, Atlético Nacional, Chapecoense, Real Potosí e até seleções como a boliviana, venezuelana e a argentina. Mas a história da empresa é estranha: foi registrada como uma empresa de tecnologia e recebeu investimento chinês. A ideia da LaMia era operar em vôos comerciais com 12 aeronaves, mas sem sucesso, alegando a política e crise financeira venezuelana. A empresa então mudou-se para a Bolívia, surgindo assim a Lamia Corporations SRL, em junho de 2015, contando com três aviões, sendo que apenas um funcionava.

A LaMia não comentou sobre a relação entre a Conmebol e a empresa; já a entidade sul-americana afirmou não ter feito nenhuma campanha para a LaMia e que agora é um momento de dor.

Apesar de não vermos contratos e nem “laços visíveis” é incrível como em um ano uma empresa tão pequena conseguiu contatos ao ponto de transportar equipes tão tradicionais como Cerro Porteño e jogadores do porte do Messi. O que circula agora é que uma empresa de assessoria de imprensa, a Off Side, do Rio de Janeiro, fazia a ponte entre os clubes e a empresa. Foram um total de 76 clubes que viajaram pela empresa sempre para partidas das datas da Conmebol. A empresa contratava um seguro por 25 milhões de dólares quando ele deveria ser por volta de 300 milhões.

O valor do voo apenas no trecho foi quase o que custaria num trajeto São Paulo-Colômbia. E por isso a coisa se torna estranha: por que uma equipe aceita voar com uma empresa praticamente desconhecida? Segundo a Chapecoense, não houve pressão da Conmebol para que viajassem pela companhia. Soma-se a isso que pode ser apenas um boato, já que José Bolívia saiu no prejuízo com a LaMia fazendo a viagem. E claro, por que até hoje nenhum clube havia dito algo sobre?

Mas se for verdade, será que valia a pena pagar um pouco menos para cumprir acordos? As vezes o barato sai caro. E nesse caso o preço que o futebol pagou é alto.