Crise bancária alemã faz Europa tremer

A crise econômica do maior país da Europa está ameaçando o equilíbrio não só da própria Alemanha, mas da Zona do Euro inteira. E uma das origens desta crise é o Deutsche Bank, cuja saúde, há tempos dissimulada pelo próprio governo alemão, já está fazendo a Europa tremer.

Por Laura Britt, no Monitor Mercantil

Fachada de agência do banco alemão Deutsche Bank em Berlim

Com justa razão aliás, considerando que o preço de sua ação já perdeu quase 100% de seu valor ameaçando não só seus acionistas, mas todos os europeus, enquanto a chanceler da Alemanha, “frau” Angela Merkel, declarou, publicamente, que não pretende mexer sequer um dedo para ajudá-lo e muito menos para salvá-lo.

Em setembro deste ano, o Banco de Compensações Internacionais (Bank for International Settlements, BIS) – única autoridade bancária internacional institucionalmente encarregada – em seu boletim oficial já havia soado os sinais de alarme sobre os riscos que já ameaçavam a sobrevivência do Deutsche Bank, e não só…

E a saúde capenga do Deutsche Bank já atingiu outros bancos de países europeus e até de japoneses que, inutilmente, estão recorrendo a vários remédios “caseiros”. Mas, ao que tudo indica, a culpa pela ineficácia não é dos remédios utilizados.

O BIS opinou que tanto a adoção de taxas de juros zeradas, assim como o ínfimo crescimento econômico dos países deverão ser os responsáveis pela péssima situação dos bancos atingidos, impossibilitando-lhes produzirem lucros para seus acionistas, e sugeriu-lhes devolverem aos seus acionistas os capitais investidos.

Destaca-se, por outro lado, que o desempenho dos capitais investidos pelos acionistas dos bancos é menor em várias unidades do que o custo destes capitais, e isto é considerado pelo BIS “como risco básico ameaçando os alicerces do já abalado sistema bancário”.

Pendurados

É facilmente perceptível que fenômenos a exemplo deste do Deutsche Bank, o qual – segundo consta – tem expandido a alavancagem de seus capitais várias centenas de vezes acima de qualquer limite permitido, se alguém pensar as dezenas de trilhões de euros de produtivos aos quais está sujeito nestas condições, transformando-os em bombas relógios nos alicerces do sistema bancário.

Contudo, não é só o Deutsche Bank o único do sistema bancário europeu o qual, após a interrupção dos programas de flexibilização quantitativa do Federal Reserve (Fed), guinou suas expectativas de seu refinanciamento ao Banco Central Europeu (BCE) e aos programas de flexibilização quantitativa cujo itinerário já definiu, a fim de tapar os “buracos negros” das “aberturas”, das quais somente apenas uma parte são os “empréstimos vermelhos” concedidos e liberados à Itália, Grécia e outros países-membros de saúde econômico-financeira condenada da Zona do Euro, totalizando cerca de 1 trilhão de euros.

O “pavio” desta situação explosiva é o ambiente das zeradas ou negativas situações explosivas traçadas ou já em percurso pelos presidentes dos bancos centrais dos países-membros da Zona do Euro como derradeira ferramenta capaz de garantir o refinanciamento daquelas “aberturas”.

Mas se este “pavio” tem sido adotado como “interruptor” na possibilidade básica de expansão do capital dentro de seu percurso fisiológico, isto é, aquela da diferença positiva entre os desempenhos e seu custo. Mas esta diferença já se tornou negativa e isto não diz respeito apenas ao Deutsche Bank, mas o total do sistema bancário europeu.

Esta advertência está incluída de forma “elegante”, mas com absoluta clareza no último boletim do BIS. E é uma advertência “fogo”, considerando que o Fed esforça-se para preparar as premissas para um novo aumento de suas próprias taxas de juros.

“Merkelizar”

A chanceler Angela Merkel acrescentou mais um ato de criação à sua rica e “pesada” biografia política com um verbo, cuja raiz é seu sobrenome. Trata-se do verbo “merkeln” (merkelizar), o qual, a exemplo de todos os demais verbos alemães, conjuga-se “ich merkeke, du merkelst… etc.

A introdução desta nova palavra à língua de Brecht confirmou-se pelos editores do famoso dicionário Lengenschidt, os quais decidiram realizar uma pesquisa para constatarem se o verbo que se origina do sobrenome da Dama de Ferro da Europa poderá ser proclamado “Verbo Jovem do Ano”.

Contudo, não é nada elogioso fato para a chanceler, considerando que o verbo “merkeln”, significa “permaneço silencioso” e, mais acertadamente, porque, no que diz respeito ao caso da mais poderosa mulher do planeta, “ganho tempo permanecendo calada” e, por extensão, “não tomo decisões”.

Realmente, muitos consideram que a chanceler, além da capacidade de decisão e persistência com a qual esforça-se para trazer quase toda a Europa aos seus planos, pelo menos no que diz respeito a disciplina fiscal, habitualmente está escolhendo manter compasso de espera em relação à maioria das questões – desde tratando-se de casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou as escutas em seus telefones realizada pela Agência de Segurança Nacional dos EUA, ou, ainda, para as relações da Alemanha com a Rússia, questões sobre as quais é obrigada a tomar importantes decisões.