Com perdão a Manning, Assange se entrega?

Logo após a concessão de um perdão presidencial a Chelsea Manning, as atenções se voltaram nesta quarta-feira (18) para o australiano Julian Assange, o fundador do site Wikileaks. Em 2010, ele vazou centenas de milhares de documentos sigilosos e diplomáticos que haviam sido obtidos pela ex-militar americana.

Julian Assange, em 4 de outubro. Montagem do El País

Na sexta-feira passada, Assange declarou que aceitaria ser extraditado para os EUA caso o presidente Barack Obama perdoasse Manning, que está presa há sete anos e tinha ainda 28 anos de sentença a cumprir na cadeia. Com o perdão de Obama, Manning deverá ser solta no dia 17 de maio.

"Se Obama perdoar Manning, Assange aceita a extradição para os Estados Unidos, apesar da flagrante inconstitucionalidade", escreveu o Wikileaks na rede social Twitter. Nesta quarta-feira, o Wikileaks afirmou que Assange concorda em ir para os Estados Unidos, mas apenas se todos os direitos deles forem assegurados.

Antes, representantes de Assange deram declarações conflituosas sobre os próximos passos dele. Na noite de terça-feira, uma de suas advogadas, Melinda Taylor, disse à agência de notícias AP que "tudo o que [Assange] disse [sobre a extradição] permanece", sugerindo que ele iria mesmo se entregar para os americanos.

No entanto, horas mais tarde, outro advogado de Assange, Per Samuelson, disse à agência alemã DPA que ainda é cedo para saber se Assange vai mesmo se entregar. "Enquanto a ameaça dos EUA contra Assange permanecer, ele vai aceitar seu asilo político [concedido pelos equatorianos]", disse.

A declaração de Assange de que aceitava se entregar aos americanos também gerou dúvidas sobre como isso seria executável. Oficialmente, os EUA nunca apresentaram um pedido pela extradição de Assange, que está refugiado na embaixada do Equador em Londres desde 2012.

Os americanos também nunca fizeram qualquer acusação formal. O único pedido de extradição enfrentado por Assange vem da Suécia, onde ele foi acusado de abuso sexual – foi esse pedido que levou o Assange a se refugiar na embaixada. O fundador do Wikileaks nega as acusações e já declarou temer que uma extradição para a Suécia acabe facilitando um pedido similar que venha a ser apresentado pelos americanos.

Outro advogado de Assange, Barry Pollack, declarou na terça-feira que entrou em contato com o Departamento de Justiça dos EUA para descobrir se existem de fato acusações contra seu cliente. "Por vários meses, eu venho pedindo ao Departamento de Justiça que esclareça a situação de Assange. Espero que isso aconteça em breve", disse.

Nesta quarta-feira, um funcionário da Casa Branca disse a um grupo de jornalistas que a decisão de Obama de perdoar Manning não tinha qualquer relação com a oferta feita por Assange na semana passada. "A decisão do presidente de conceder clemência e oferecer uma comutação para Chelsea não foi influenciada de nenhuma maneira pelos comentários públicos de Assange e do Wikileaks."

Com a saída de Obama e a posse do republicano Donald Trump como presidente, qualquer decisão americana sobre como lidar com Assange ficará para o novo governo. A conduta que Trump deve assumir ainda é um mistério.

Nos últimos meses, o governo Obama acusou Assange e o Wikileaks de beneficiarem a campanha do republicano com a publicação de e-mails que foram obtidos ilegalmente de servidores da direção nacional do Partido Democrata..

A publicação das mensagens acabou arranhando a imagem da adversária de Trump nas eleições, a democrata Hillary Clinton. Segundo membros do governo Obama, os documentos foram obtidos por hackers russos, que usaram o Wikileaks como um canal para influenciar o resultado das eleições americanas.