Vanessa Grazziotin: Governo Temer está atolado na incoerência

O alemão Bertolt Brecht, diante do avanço da violência e da injustiça, alertava que quando não se reage ao arbítrio em algum momento todos serão alcançados por ele. O dramaturgo denunciou a passividade da sociedade diante de prisões arbitrárias, ironizando: não protestei e quando finalmente vieram me buscar eu não tinha sequer para quem pedir ajuda.

Temer e Moraes - Foto: Marcos Corrêa/PR

Tal qual o cenário que antecedeu o nazismo na Europa, os que praticaram o golpe no Brasil são vítimas das suas próprias incoerências, ou seja, “o feitiço virou contra o feiticeiro”.

Vejamos: os que ontem foram ao Judiciário para impedir a posse de Lula como ministro de Dilma são os mesmos que hoje recorrem para garantir um ministério a Moreira Franco.

O Judiciário suspendeu a posse de Lula no ministério sob o argumento de que “havia desvio de finalidade, visto que o real objetivo seria lhe garantir foro privilegiado”.

Ora, foi amparado nesse despacho que o juiz da 14ª Vara Federal do Distrito Federal concedeu liminar suspendendo a nomeação de Moreira Franco, afirmando: “O enredo dos autos já é conhecido do Poder Judiciário. Nesta ação popular, mudam apenas os seus personagens”.

E agora? O que fazer com a nomeação de Moreira Franco, citado mais de 30 vezes nas delações da Lava Jato? Na lógica estabelecida pelo Judiciário a suspensão deve ser mantida.

Governo e Judiciário estão, portanto, diante de um dilema, no qual qualquer dos caminhos possíveis prenuncia um desgaste já anunciado.

Outra vítima de sua incoerência é Alexandre de Moraes, ministro de Temer e filiado ao PSDB. Ele sustentava que membros de um governo não deveriam ser nomeados para o STF e seus aliados afirmavam que as indicações seguiriam atributos técnicos e em nenhuma hipótese políticos. Dupla incoerência!

Hoje, alguns editorialistas chamam a atenção para o perigo da proliferação das manifestações em defesa do autoritarismo, dos exageros da Lava Jato e da falta de denúncia e reação a esses abusos. Ironicamente, são os mesmos que aplaudiram a condução coercitiva de Lula e o vazamento ilegal de conversa telefônica entre a presidenta Dilma e o ex-presidente.

Tais contradições e incoerências têm levado as pessoas a uma conclusão óbvia: o discurso de Temer e de seus consorciados era apenas um enredo, com o objetivo de depor a presidenta para se apoderarem do governo e, uma vez instalados, entregarem o nosso patrimônio ao capital estrangeiro, arrancarem direitos dos trabalhadores, lotearem as obras públicas com empresas estrangeiras e montarem um “governo de amigos”.

Enquanto a violência explode, estamos sem ministro da Justiça e Temer continua atuando para proteger seus auxiliares da Lava Jato.