Abimaq aponta ameaças à indústria e pressiona Temer

A redução nos investimentos tem devorado a indústria brasileira, cuja produção amarga uma queda de 17% nos últimos três anos. É o efeito das políticas de ajuste fiscal, da aversão ao risco em meio às incertezas alimentadas pela crise política e dos efeitos deletérios da operação Lava Jato sobre a economia. Sem vislumbrar medidas que possam reverter o quadro, mesmo industriais a princípio otimistas com a gestão Michel Temer pressionam por mudanças de rumo.

Abimaq

É o caso do presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), João Carlos Marchesan. No artigo “Novas ameaças para a indústria”, ela aponta que, de 2014 para cá, houve queda de mais de 5 pontos percentuais nos investimentos. Para ele, as recentes reduções da taxa básica de juros e a intenção de “induzir” a retomada de investimentos em infraestrutura são avanços, mas insuficientes.

“Os juros de mercado continuam com ‘spreads’ de até três dígitos, o câmbio está num patamar que, além de tirar completamente nossa competitividade na exportação, volta a subsidiar as importações, o crédito continua muito difícil e os juros cobrados são incompatíveis com a atividade produtiva. O faturamento das indústrias fabricantes de bens de capital, em 2016, está reduzido praticamente à metade do obtido em 2013, com óbvias consequências para a saúde financeira das empresas”, enumera.

Marchesan também teceu críticas ao Programa de Regularização Tributária (PRT), anunciado em dezembro como uma proposta microeconômica para aquecer a economia, mas que, na prática, vai beneficiar poucas e grandes empresas. Segundo ele, o projeto “não atende minimante às necessidades das pequenas e médias empresas, o que impede a normalização das dívidas tributárias, deixando a maioria das indústrias à margem da legalidade fiscal e sem possibilidade de acesso a financiamentos competitivos”.

O presidente da Abimaq ainda afirmou ler com “surpresa” a notícia de que há estudos da equipe econômica para mudar o cálculo da TJLP – Taxa de Juros de Longo Prazo, utilizada pelo BNDES como taxa básica para financiar os investimentos.

“É evidente que este aumento de custo vai deprimir ainda mais o volume de investimentos neste momento em que estes, junto com as exportações, são as duas únicas locomotivas capazes de puxar a retomada da economia”, disse.

De acordo com ele, um efeito colateral será que, com este aumento de custo, os financiamentos de equipamentos importados ficarão mais baratos que os financiamentos de bens nacionais. “O efeito será a progressiva substituição da produção local, causando mais desemprego”, alertou.

Marchesan afirmou ainda que a situação da indústria é agravada ainda pelo ataque do governo à política de Conteúdo Local Mínimo. “Como fica a contrapartida de geração de empregos e renda no Brasil em setores onde haja subsídio do governo com recursos dos brasileiros? Como fica a geração de empregos nas cadeias produtivas de bens destinados a investimentos com benefícios fiscais subsidiados (Regimes Especiais)? Vamos financiar bens importados com recursos dos brasileiros via FGTS, FAT, BNDES, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Fundo de Marinha Mercante etc.? Não vamos exigir contrapartidas de geração de empregos em concessões públicas e exploração de recursos da União, principalmente quando há risco ambiental?”, questiona.

A essas perguntas, Marchesan acrescenta: “Como serão tratadas as assimetrias entre se produzir no Brasil ou no exterior? Como ficarão os “spreads” bancários? Como ficará a falta de crédito? Vamos continuar deixando o câmbio subsidiar as importações? Exportar bens de valor agregado é prioritário? Deixaremos os financiamentos atrelados à TJLP custarem mais do que o retorno das empresas?”

Para o empresário, o “acúmulo de notícias negativas e a falta de respostas” deixa dúvidas sobre se o governo tem a clara dimensão do risco para a própria sobrevivência, não só da indústria fabricante de bens de capital, mas também de boa parte da indústria brasileira “ou até se a sobrevivência da indústria de transformação não está entre suas prioridades”.

Ao encerrar seu artigo, ele defende que o governo Temer precisa responder a essas questões com ações práticas, que sinalizem “se efetivamente o governo entende que a indústria brasileira de transformação é indispensável à construção de um país desenvolvido, com empregos de qualidade e distribuição de renda. Se esta for a resposta, vai certamente contar com nosso esforço nesta reconstrução”, diz.