João Ribeiro: Mercados acionistas internacionais

Prever a evolução dos mercados acionistas num futuro mais ou menos próximo não é muito diferente de prever se sairá cara ou coroa após o lançamento de uma moeda ao ar.

Por João Ribeiro*

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É, grosso modo, um exercício de futurologia que a teoria financeira acolhe como regra desde 1901 quando Louis Bachelier postulou que os movimentos dos preços das ações são aleatórios. No entanto, o sistema financeiro internacional encontra-se repleto de especialistas em efetuar previsões sobre como os mercados acionistas se comportarão até ao final do corrente ano. É um exercício interessante – porque cheio de riscos – e que, apesar de tudo, pode ser sustentado por argumentos lógicos e modelos de previsão historicamente testados.

Falar dos mercados acionistas internacionais é quase a mesma coisa do que falar do mercado acionista americano, pela importância relativa que este assume em contexto internacional e pela capacidade que possuem de, em caso de queda acentuada, contagiar as bolsas europeias e asiáticas.

Tendo os principais índices atingido máximos históricos já em 2017, ganha força a tese de que o mercado americano se encontra prestes a sofrer, no mínimo, uma forte correção técnica (em torno dos 15-20%). Quem aposta neste ‘lado da moeda’ sustenta a sua posição no fato de, historicamente, se terem verificado acentuadas correções após períodos de subida generalizada, períodos esses tipicamente com a duração de sete anos – foi assim em 1987, 1999 e 2008/2009.
Ora, como o mercado americano cumpre atualmente o sétimo ano consecutivo de subidas iniciado após a última crise financeira, alguns especialistas (são seguramente os mesmos que passam grande parte do tempo a procurar “padrões” nos mercados…) têm avisado para a quase inevitabilidade de uma descida forte nos índices acionistas algures durante este ano.

O seu argumento – pouco convincente, sublinhe-se – de que o futuro replica o passado em mercados financeiros é, no entanto, suportado por outros fatores, digamos assim, mais racionais. Um deles tem que ver com a mais do que provável subida gradual das taxas de juro nos Estados Unidos até ao final do ano. Taxas de juro mais elevadas (como resposta à subida da inflação) determinarão uma movimentação de capitais investidos em ações para o mercado ativos de rendimento fixo (obrigações) e faz ainda com que o valor atual do justo valor (preço) das ações seja mais reduzido. O argumento do aumento das taxas de juro é, nesta medida, um argumento racional. Mas a questão é mais complexa do que parece.

Com taxas de juro mais elevadas, é expectável que o dólar ganhe ainda mais força contra o euro e as moedas asiáticas, promovendo um fluxo de capitais para os Estados Unidos. O reforço, por esta via, da procura de títulos americanos, susterá, em grande medida, a eventual tendência para uma forte correção nos próximos meses. Se a este fato somarmos a possibilidade das politicas futuras da administração Trump serem “pró-mercados” (como uma menor regulação, o desinvestimento nas energias não poluentes favorecendo as grandes companhias petrolíferas cotadas em bolsa e o desaparecimento do Obamacare beneficiando o grande lobby da indústria da saúde) e ainda a razoável força que a economia norte-americana patenteia (o produto interno bruto deverá crescer entre 2,6% e 3% em 2017, estando o desemprego em níveis historicamente baixos), não se pode descurar de todo a possibilidade de que o rally de subida dos índices acionistas continue, pelo menos até meados de 2018.

O autor destas linhas está habituado a que lhe perguntem qual é a sua melhor previsão sobre este tipo de assuntos, ao que invariavelmente responde que a sua opinião ou estimativa é tão boa quanto a do economista do lado. Num contexto em que o risco político dos dois lados do atlântico é considerável, esta posição de prudência revela-se ainda mais adequada. Mas da mesma forma que no jogo do lançamento da moeda todos podemos escolher um dos lados como o mais provável (reconhecendo que ambos são igualmente prováveis…), também aqui se arrisca um prognóstico.

O mercado americano deverá continuar a valorizar-se até, pelo menos, ao primeiro trimestre de 2018, sustentado num dólar mais forte e em indicadores fundamentais da economia americana que continuarão sólidos.

A prudência, quando se investe em ações, passa em grande parte por manter os olhos bem abertos, consumir e processar informação idônea de forma sistemática e, sem receios, sair do mercado logo que os primeiros sinais de abrandamento da economia se verifiquem. Ou permanecer adquirindo ativos financeiros que se valorizem quando os mercados estão em queda, ou seja, com eles negativamente correlacionados, nunca esquecendo que não se deve investir dinheiro de que se precisa e nunca – mas nunca – agir de forma emocional. E, finalmente, ter sempre presente que um jogo é um jogo.

*João Ribeiro é professor universitário, doutorado em Finanças. Investigador na área de avaliação de ativos