"Saráuis não aceitam mais promessas vazias", diz documentarista

A Nomos Editora e Produtora Independente lança um urgente documentário sobre a luta do povo saráui: Um Fio de Esperança: Independência ou Guerra no Saara Ocidental. Os diretores Rodrigo Duque Estrada e Renatho Costa divulgam a campanha de financiamento coletivo e o trailer da história que transmitem aos brasileiros após recente visita ao Saara Ocidental, história de luta anti-colonial e brava resistência. Estrada conta o que o fez tomar a iniciativa para um importante libelo. 

Saara Ocidental documentário - Divulgação

Os diretores estiveram no território liberado pela Frente Popular de Libertação de Saguia el-Hamra e Rio de Ouro (Polisario) — a representante do povo saráui — e nos campos de refugiados, no sul da Argélia, em dezembro de 2016. Em seguida, foram ao território ocupado pelo Marrocos desde 1975 e entrevistaram ativistas saráuis e internacionais e outros especialistas no assunto no Brasil, na Suécia e na Espanha.

Contar a história e denunciar a pendência colonial do Saara Ocidental é um apelo reiterado pelos saráuis a toda oportunidade, já que lutam não só contra a ocupação marroquina de dois terços do seu território, contra o muro físico, as milhões de minas terretres e o espólio dos seus recursos vendidos pelo Marrocos à Europa e outros países, como o Brasil, mas também contra o monstruoso "muro do silêncio"

Por isso a importância do documentário, uma verdadeira batalha pela narrativa e pela atenção a esta que é uma causa desconhecida para demasiada gente. 

Para  a produção do filme, os diretores lançaram uma campanha de financiamento coletivo em "além de apoiar culturalmente, quem colabora com o projeto ganha recompensas que vão desde cartões postais do Saara Ocidental, pôsteres do filme, livro sobre o tema, DVDs, entre outros."

Denúncia e produção independente: Depoimento de Rodrigo Duque Estrada


Depois de anos pesquisando o conflito, senti a necessidade de sair dos livros e conhecer de perto a realidade de luta e resistência do povo saráui. Com uma riquíssima história de combate ao imperialismo e à exploração capitalista negligenciada pelo mundo inteiro, os saráuis foram sistematicamente traídos pela comunidade internacional. O clima de tensão e frustração com relação ao processo de paz e à ocupação militar do Marrocos está chegando a um limite.

Os saharauis não aceitam mais discursos de esperança e promessas vazias: querem saber quando será realizado o referendo de autodeterminação previsto há 26 anos pela ONU, quando a Frente Polisario pôs as armas de lado e acreditou na possibilidade de uma resistência pacífica. Com gerações de jovens crescendo nos acampamentos de refugiados, em uma das regiões mais inóspitas e mais contaminadas por minas terrestres no mundo, além de separados de suas famílias pelo Muro da Vergonha construído pelo Marrocos, o cenário de uma nova guerra no norte da África se desenha rapidamente.

Apesar de toda a dificuldade e luta constante pela sobrevivência no deserto, os saráuis foram capazes de construir um Estado em exílio, hoje reconhecido diplomaticamente por mais de 80 países e um membro pleno da União Africana. Uma das experiências mais marcantes em nossa viagem, e que ilustra muito bem a bravura deste povo, foi ter acompanhado o trabalho de uma pequena patrulha antiterrorismo nas zonas liberadas.

A região do Magrebe tem se tornado palco de crescente instabilidade política devido a atuação de alguma organizações radicais, como a Al-Qaeda no Magrebe Árabe e de grupos narcotraficantes, que saem do Marrocos em direção ao Mali. Imagine, sob essas condições, um povo muçulmano, nômade e refugiado, sem recursos materiais, esquecido pelo mundo, lutando contra o terrorismo! Isso é revolucionário!

O documentário aborda a história da resistência do povo saráui e também investiga as razões por traz da aparente postura de neutralidade do Brasil com relação ao conflito. Além de ser um dos poucos países na América Latina que ainda não reconhecem a independência do Saara Ocidental (ao lado de apenas Argentina e Chile), o Brasil importa recursos ilegais do território não-autônomos (principalmente fosfato e pesca).

O documentário é uma produção completamente independente. A primeira etapa foi financiada pelos próprios diretores. Agora, para concluir a segunda etapa do projeto, que envolve pós-produção, estamos contando com crowdfunding (financiamento coletivo) e apostando em uma divulgação alternativa, de modo a aproximar o processo de produção do filme da população.

Acesse o site da campanha de financimento coletivo para a produção e o site oficial do projeto.