Arruda Bastos: O stress tomou conta do meu ser

“O isolamento, o individualismo e a falta de opções eficientes para combater o stress são fatores que influenciam na sua intensidade. Apesar de toda a modernidade, encontramos jovens aprisionados a quatro paredes sem vida social como tínhamos no passado”.

Por *Arruda Bastos

Decisão inédita condena Claro por dano moral coletivo

Na última semana escutei dos meus alunos do curso de Medicina que estavam muito estressados com a pesada rotina de aulas, tutoria, práticas, seminários e provas. Resolvi, então, escrever esta crônica em homenagem à minha turma e a todos os estudantes.

Como professor, sei que a maioria dos universitários enfrenta nessa etapa de suas vidas muita dificuldade. Digo que na minha época não era diferente e o stress frequentemente tomava conta do meu ser e me deixava com dúvidas se teria forças para seguir em frente.

Entretanto, no passado, enfrentávamos o stress de forma mais eficiente com as tertúlias, luaradas, esportes de fim de semana, futebol no Presidente Vargas e sessões de cinema no São Luiz. Naquela época, não tínhamos celulares, smartphones e toda essa parafernália que acorrenta os jovens a uma vida monótona.

Hoje, o isolamento, o individualismo e a falta de opções eficientes para combater o stress são fatores que influenciam na sua intensidade. Apesar de toda a modernidade, encontramos jovens aprisionados a quatro paredes sem vida social como tínhamos no passado. Tudo é muito frio, como a tela touch dos seus eletroeletrônicos.

A evolução tecnológica (hi-tech) causou um forte impacto nos relacionamentos, prejudicando o convívio social, tornando tudo superficial, valorizando e praticando o culto exagerado à tecnologia. Isso vem acarretando um distanciamento entre as pessoas e a falta daquele ombro amigo que é fundamental para os momentos de dificuldade.

Sei que nem todos os jovens levam uma vida sedentária e de clausura eletrônica. Na minha turma, tenho amantes das práticas esportivas, assíduos frequentadores de shows, festas e baladas. São estudantes acima da média, mas, mesmo assim, falta aquele “algo mais” para uma vida com menos stress.

Que tal esquentarmos as relações, reduzindo a utilização do whatsapp, redes sociais, smartphones e outros frios meios de comunicação? Vamos surpreender com uma visita aos nossos familiares, amigos e namorados. Dizer baixinho ao pé do ouvido que precisamos do seu carinho e apoio, pois o contato pessoal é fundamental.

Mas e a queixa dos alunos de que a rotina é pesada e estressante vai passar batida e eu vou amarelar? Não vou correr da raia. Sugiro que todos esqueçam os meios eletrônicos e, de forma pessoal, tentem encontrar um meio termo que não prejudique o aprendizado e alivie pelo menos um pouco o stress dos nossos jovens.

Minha intenção como educador é falar para os estudantes que, independente do seu curso e da universidade, conheço as suas dificuldades. Para os meus alunos, digo que aproveitem o excelente curso, pois é um privilégio estudar em uma universidade que tem como missão a formação de profissionais competentes e atualizados, nos vários campos de conhecimento, com base nas inovações científicas e tecnológicas nacionais e internacionais, valorizando os princípios humanistas e éticos na busca da cidadania plena e universal.

Para concluir e já aliviando o stress, transcrevo um trecho da musica “Coração de estudante” de Milton Nascimento que diz: Coração de estudante / Há que se cuidar da vida / Há que se cuidar do mundo / Tomar conta da amizade / Alegria e muito sonho / Espalhados no caminho / Verdes, plantas, sentimento / Folhas, coração, juventude e fé. Lembrem-se de que só o estudo liberta verdadeiramente, então tirem proveito, caprichem e tenham um excelente semestre.

*Arruda Bastos é médico, professor universitário, membro da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores, radialista, ex-secretário da Saúde do Estado do Ceará e um dos coordenadores do Movimento “Médicos pela Democracia”.

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