“Confundimos progressismo com esquerda”, critica Mujica

 O ex-presidente do Uruguai e atual senador, José Mujica, analisou em entrevista concedida à revista Caras & Caretas, o panorama geral da esquerda na América Latina e falou especificamente sobre o Brasil e a Argentina. Para ele, em ambos os países há perspectiva de vitória de candidatos do campo da esquerda nos próximos processos eleitorais. Critica porém, que ao longo da última década, “confundimos progressismo com esquerda”.

Mujica - Toni C.

“O governo argentino está perdendo prestígio rapidamente e apela para a repressão. E Cristina (Kirchner) é astuta, está buscando reunificar o peronismo e, quando conseguir, Macri acaba, já que ele não ganhou, foi o peronismo que perdeu por suas divisões. Se isso é solucionado, adeus", acredita Mujica. "No Brasil, sabem que ou prendem Lula ou vão perder, já estão convencidos disso”, pontua, fazendo referência aos opositores do ex-presidente brasileiro.

Ele reafirma ainda que não será candidato à presidência após o término do mandato de Tabaré Vázquez. "Podem apostar dinheiro se quiserem", diz. Mujica fez uma crítica à atuação da esquerda no continente. “Temos de aprender com os erros que tivemos. Confundimos progressismo com esquerda. E na América Latina começamos a parecer bastante com a social-democracia europeia, que, de tanto ser pragmática e racional, deixou de ser esquerda”, reflete.

“Não podemos prescindir da batalha cultural, perdemos aí. Nós crescemos e nos convencemos de que a mudança das relações de produção traria como consequência imediata uma humanidade diferente e melhor. Não, fomos ingênuos. A cultura dura muito mais que a economia, se prolonga mais, se projeta adiante. Essa mudança é mais difícil e mais profunda do que qualquer mudança econômica”, pondera o ex-presidente.

Para Mujica, os trabalhadores devem assumir um papel de protagonismo em sua própria trajetória. “O que a história deixou deve ser estudado. Os trabalhadores nunca governaram, por mais que tenham sido feitas revoluções em seu nome. E a burguesia não está capacitada para liderar processos de mudança a longo prazo”, afirma. “Os trabalhadores devem aprender a governar a si próprios. E não devem depender do ‘papai’ Estado para se proteger porque o ‘papai’ Estado estará cooptado pela burguesia e vai se converter em burocracia. (Isso) Depende da classe que está no comando, e a classe trabalhadora não está.”

Fonte: RBA