Jornalista que denunciava narcotráfico é assassinado no México

O jornalista Javier Valdez foi assassinado nesta segunda-feira (15), na cidade de Culiacán, no México, a poucos metros da redação de um dos jornais em que trabalhava, o periódico Riodoce. Aos 50 anos, Javier havia consolidado sua carreira com grandes reportagens de denúncia sobre o narcotráfico, era correspondente do La Jornada e da AFP.

Por Mariana Serafini

Javier Valdez - Carlos Ramos Mamahua

Há anos o México vive uma crise de violência que tem se aprofundado. O assassinato de Javier mobilizou jornalistas de todo o país que exigem justiça e garantias de segurança para exercer a profissão. Segundo fontes que presenciaram o crime, o repórter foi cercado por homens encapuzados que dispararam diversos tiros contra ele, por volta do meio dia (horário local).

O presidente boliviano Evo Morales lamentou a morte do jornalista e prestou uma homenagem. “Condenamos o assassinato de Javier Valdez e nos solidarizamos com sua família e com o periódico La Jornada e todo o povo mexicano”.

“Hoje nos prenderam o coração”, diz o editorial do Riodoce desta terça-feira (16). “Nos arrancaram um braço. Os dois. Javier foi parte fundamental de Riodoce desde que o semanário era apenas uma quimera concebida por um grupo de jornalistas que acreditávamos e acreditamos na liberdade, na independência, na honradez, na crítica; que vemos no jornalismo o compromisso com a sociedade, cada vez mais desvalorizada em meio a governos cada dia mais corruptos, cínicos, criminosos no Estado”.

A versão impressa do La Jornada traz uma foto de Javier na capa e uma edição especial sobre o jornalista. No editorial o jornal denuncia a impunidade e exige justiça. “Matar um jornalista, uma mulher, um defensor dos direitos humanos, ou um cidadão qualquer, se tornou uma atividade de muito baixo risco porque, segundo as evidências, nas instâncias de governos estatais e federais a determinação de fazer justiça é apenas teórica”.

Diversos jornalistas mexicanos, dos mais variados veículos de comunicação, convocaram uma manifestação nesta terça-feira (16), nas principais cidades do país para exigir justiça pela morte de Javier.

Investigações sobre o narcotráfico

Javier se dedicou por mais de duas décadas a investigar sobre o crime organizado e suas ligações com as altas esferas governamentais e empresariais do México. No final do ano passado apresentou um estudo profundo sobre o tema através do livro Narcoperiodismo (Narcojornalismo, em tradução livre).

Em outubro do ano passado, durante uma entrevista, o jornalista denunciou como o narcotráfico está cirurgicamente inserido nas entranhas de todo o sistema mexicano. “Não falamos só do narcotráfico, uma de nossas mais ferozes ameaças. Falamos também de como nos ameça o governo. De como uma redação pode estar infiltrada pelo crime. Podemos ter ao lado um companheiro que não se pode confiar porque talvez seja ele quem passa informações ao governo e aos criminosos”, disse.

Além deste último lançamento, Javier havia publicado diversos outros livros sobre o mesmo tema, entre eles “Órfãos do Narco”, “Os morros do narco”, “Miss narco” e “Com uma granada na boca”.