Penélope Toledo: A mamãe não pode jogar sozinha
Em geral, a mãe é tão importante na carreira de um jogador quanto a bola, na rotina de um torcedor quanto a camisa do clube, na trajetória de um árbitro quanto o apito. É ela quem segura a bronca nas horas difíceis. Mas e na vida da mamãe, quem aguenta firme com ela?
Por Penélope Toledo*
Publicado 16/05/2017 19:34

Quando chega dia das mães, as homenagens se multiplicam. Jogadores fazem depoimentos emocionados, clubes distribuem rosas, até os árbitros falam de suas progenitoras. Muito bonito e merecido. Mas além de condecorações, elas merecem que os papais assumam a sua responsabilidade na criação dos filhos, o que nem sempre acontece.
A criação dos filhos é um esporte coletivo, não individual
Atletas como o zagueiro Thiago Silva (Paris Saint-Germain, ex-Fluminense), o goleiro Jefferson (Botafogo) e o volante Paulinho (Guangzhou Evergrande, ex-Corinthians) refletem a realidade de milhões de brasileiros: foram criados sem os pais – alguns/as ainda têm a figura paterna no padrasto, outros, nem isto.
A cultura machista e patriarcal naturaliza as responsabilidades e obrigações na criação dos/as filhos/as recaírem exclusivamente sobre a mulher, em vez de serem divididas igualmente. Muitos progenitores se limitam a registrar, pagar pensão, passear aos fins de semana ou quinzenalmente. Outros, nem isto.
Quando foi preso por “lavagem de dinheiro oriundo do tráfico de drogas”, o ex-goleiro Edinho, filho de Pelé, concedeu entrevista reclamando da ausência do pai em sua vida: “fui criado por uma mãe solteira”, disse. Também filha de Pelé, Sandra Regina, lutou por 5 anos na Justiça pelo reconhecimento da paternidade, mesmo com esta já comprovada em exame de DNA.
Negação de paternidade, aliás, é uma constante, infelizmente. Para se ter uma ideia, quatro milhões de crianças no Brasil não têm o nome do pai no registro de nascimento, de acordo com o IBGE/ 2016. Outras fontes falam em 5,5 milhões. O que significa que 4 ou 5 milhões de homens se acham no direito gerar filhos e abandoná-los.
A mamãe também é torcedora, jogadora e mulher
Em parte por estarem sobrecarregadas, em parte pelo machismo social que tenta impor que a mãe tenha que ser só mãe e em período integral, muitas garotas que gostam de futebol e outros esportes acabam tendo que deixar os gramados/quadras e as arquibancadas após a maternidade.
A lateral da seleção de futebol Tamires, por exemplo, precisou pendurar as chuteiras quando engravidou, aos 21 anos, sem saber se um dia voltaria a jogar. Ela ficou três anos e meio afastada da bola, enquanto seu marido, também jogador de futebol, seguiu jogando.
Felizmente ela voltou a jogar. Felizmente outras mães se empoderam e voltam a fazer o que gostam, porque compreendem que a maternidade é algo lindo e importante, mas que pode ser conciliada com outras realidades lindas e importantes. A mamãe também é torcedora, jogadora e milhões de outras coisas simultaneamente.
A mamãe é, antes de tudo, mulher. Com toda a beleza, magia, mistério, delícias e dores que isto significa.