Sgt. Pepper's, Gilberto Gil e a Tropicália

“O impacto foi muito além do esperado. O grau de inovação, invenção e ousadia embriagou a todos”, disse Gilberto Gil, em entrevista à revista Bizz, em 2007, sobre Sgt. Pepper’s.

Por Fernando Figueiredo Mello

Gilberto Gil 1968 - Divulgação

Naquele ano de 1967, se havia alguém dentro da nascente Tropicália realmente antenado com as coisas vindas de fora do Brasil, este era Gil. Já mergulhado no processo de construção conceitual do movimento, era ele o cara de radar ligado nas ondas estrangeiras, no som de fora. Bem mais que Caetano ou Tom Zé, só pra citar outros “líderes” da vanguarda.

O rock, em especial. Os Beatles, em particular.

“Os Beatles bateram com muita força? Você se encantou com eles?”, pergunta Almir Chediak, no Songbook.

A resposta dá a dimensão do quarteto de Liverpool para o baiano de Ituaçu:
“Totalmente, completamente. Era a grande referência como novidade, não é? Rubber Soul, Revolver e Sgt. Pepper’s. Esses discos foram marcantes para nós e proporcionaram toda essa convulsão.”

Para o artista prestes a explodir, Gil teve em Sgt. Pepper’s a definitiva chama e a firme bússola. Não por acaso, seu destino se cruzaria com o de “entidades” absolutamente identificadas com os britânicos e seu mais novo e revolucionário álbum.

O primeiro encontro foi com o maestro Rogério Duprat, indicado para os arranjos de “Domingo no Parque” por Júlio Medaglia, que enxergava no colega a bagagem cultural e a criatividade para exercer um papel na linha de George Martin.

Em Tropicália – A história de uma revolução musical, Carlos Calado conta sobre a escolha de Duprat e sobre a aflita busca de Gil por um grupo para acompanhá-lo nas eliminatórias do festival da Record.

A ideia inicial parecia brilhante: o Quarteto Novo, recém-formado conjunto, com feras como Hermeto Pascoal e Airto Moreira, bem alinhado com a sonoridade do Nordeste e, por consequência, com a composição.

Ele explicou aos quatro que queria “uma coisa nova”, uma mistura de sons nordestinos com Beatles, meio pop. O quarteto ficou perplexo, chocado e, sem dar chance de resposta ao pobre Gil, recusou enfática e veementemente. Conta Calado:

“Gil foi embora abatido e confuso, pensando se não teria mesmo cometido algum pecado musical. Porém, ao contar o episódio ao maestro Rogério Duprat, que já estava escrevendo a parte orquestral do arranjo, animou-se de novo ao ouvir uma sugestão:

‘Calma, Gil. Eu conheço uns meninos muito bons, que costumam se apresentar na TV. Eles se chamam Os Mutantes’”.

Arnaldo Baptista, Sérgio Dias, Rita Lee. Eis a “segunda entidade” a se encontrar com Gil, em exuberante pororoca musical que se daria em “Domingo no Parque”.

Ouça a canção "Domingo no parque": 


Disco Gilberto Gil (1968):