Theresa May é acusada de politizar ataque em Londres

O Partido Trabalhista considerou que o pronunciamento realizado na manhã deste domingo (04) pela primeira-ministra britânica, a conservadora Theresa May, sobre o ataque ocorrido em Londres na noite de sábado (3) foi uma politização do atentado por conta da campanha para as eleições gerais de quinta-feira (08).

Theresa May

“Nada do que ela propôs será implementado amanhã, e eu não acho que ela esteja propondo um passo imediato. Se fosse assim, seria diferente”, disse Emily Thornberry, secretária de Relações Exteriores do gabinete dos trabalhistas, em entrevista a uma rádio britânica.

“Ela disse que já basta. Bom, eu achava que já bastava depois do 11 de setembro (de 2001, nos Estados Unidos), e depois do 7 de julho (de 2005, quando houve um atentado coordenado com bombas em Londres que deixou 55 mortos)”, afirmou.

Matt Zarb-Cousin, ex-secretário de imprensa de Jeremy Corbyn, líder trabalhista, também criticou o discurso da premiê. “A maioria das pessoas verá o discurso de May por aquilo que ele é: a politização de um ataque terrorista porque ela está com medo de perder a eleição”, escreveu Zarb-Cousin em seu Twitter.

Segundo uma pesquisa publicada nesta segunda-feira (6) pelo jornal The Mail on Sunday, o Partido Conservador obteria 40% dos votos na próxima quinta-feira e manteria apenas um ponto de vantagem com relação aos trabalhistas, que somariam 39%.

“Theresa May foi secretária do Interior e primeira-ministra pelos últimos sete anos. Ela falhou em proteger a população britânica do terrorismo”, acrescentou o jornalista.
Em seu pronunciamento, a premiê propôs revisar a legislação antiterrorista no Reino Unido para lutar contra a "ideologia malévola" do extremismo islâmico.

O discurso se deu após uma reunião do comitê de emergências Cobra, do qual participa a cúpula da segurança e a inteligência britânicas.

A chefe de Governo se mostrou partidária de tomar novas medidas para evitar a radicalização através de internet, assegurar que a polícia conta com as capacidades necessárias para combater a ameaça terrorista e estabelecer penas mais duras para alguns delitos.
"Há muita tolerância para o extremismo no nosso país", disse May. Nos últimos três meses, o Reino Unido sofreu outros dois atentados terroristas.

Em março, Khalid Masood matou cinco pessoas em um ataque diante do Parlamento britânico, depois de atropelar uma multidão e esfaquear um policial, e há duas semanas, o suicida Salman Abedi explodiu uma bomba em Manchester que matou 22 pessoas.

A primeira-ministra indicou que a organização dos três ataques não está conectada, mas tem relação pelo extremismo islâmico, uma ideologia que "predica o ódio, procura a divisão e promove o sectarismo".

"Derrotar essa ideologia é um dos grandes desafios do nosso tempo, mas não se pode fazer frente só com intervenções militares", afirmou.

Por esse motivo, a dirigente conservadora estabeleceu como prioridade "regular o ciberespaço" com a colaboração da comunidade internacional, para tratar de "apartar esta violência das mentes das pessoas e fazer com que entendam nossos valores".

"Devemos ser mais robustos na hora de identificar e apontar (o extremismo), tanto no setor público como no setor privado. Isso requer em algumas ocasiões manter algumas conversas difíceis, em algumas ocasiões embaraçosas, mas o país necessita agir unido para lutar contra este extremismo", afirmou.

Na semana passada, Jeremy Corbyn acusou o governo do Partido Conservador de falhar em proteger a população do terrorismo em solo britânico. Ele apontou as “guerras fracassadas” em que o Reino Unido se envolveu no exterior e os cortes no orçamento dos serviços de segurança como fatores relacionados aos recentes ataques terroristas na região.

“Temos que ser corajosos o bastante para admitir que a ‘guerra ao terror’ simplesmente não está dando certo”, disse Corbyn alguns dias depois do ataque terrorista em Manchester, que deixou 22 mortos.

O líder trabalhista reiterou sua posição de que a participação do Reino Unido em guerras no Iraque e no Afeganistão – sob o governo do trabalhista Tony Blair – e na Líbia e na Síria – sob governos conservadores – aumenta a ameaça terrorista interna. “Muitos especialistas apontaram as conexões entre as guerras que nosso governo apoiou ou lutou em outros países e o terrorismo aqui dentro”, afirmou.

Ele ressaltou que a ligação entre guerras e terrorismo não justifica ataques contra pessoas inocentes. “Tal afirmação de maneira alguma reduz a culpa daqueles que atacam nossas crianças”, disse Corbyn. “Mas uma compreensão informada das causas do terrorismo é uma parte essencial de uma resposta efetiva que irá proteger a segurança de nossos cidadãos e que irá combater, e não motivar, o terrorismo."

May afirmou que as eleições desta quinta-feira não serão adiadas por causa do atentado de Londres.

A primeira-ministra decidiu há algumas semanas antecipar as eleições gerais que aconteceriam em 2020. Segundo ela, o objetivo da medida é garantir que o futuro líder do país conte um mandato forte para negociar com firmeza a saída do Reino Unido da União Europeia.

Nas eleições de quinta-feira, cada distrito eleitoral do Reino Unido elege um membro do parlamento (equivalente ao deputado federal, no Brasil) para a Câmara dos Comuns (que equivale à Câmara dos Deputados). O partido que obtiver a maioria dos assentos tem o direito de formar o Governo, com o seu líder como primeiro-ministro.

Atentado

No sábado, um furgão atropelou vários pedestres na London Bridge. Do veículo saíram três homens com facas que atacaram indiscriminadamente várias pessoas no Borough Market, bem próximo à ponte. Até o momento sete pessoas morreram, além dos três terroristas. De acordo com os últimos dados, 48 pessoas ficaram feridas e estão internadas em hospitais londrinos, 21 das quais em estado crítico.

Cortes em segurança e resistência à islamofobia

Jeremy Corbyn, líder do Partido Trabalhista e da oposição ao governo conservador de Theresa May no Reino Unido, fez duras críticas ao governo do Partido Conservador, que administra a região há sete anos, e à atual premiê, Theresa May, acusando especialmente os cortes nos fundos para a polícia e a inteligência britânicas impostos por May. Ele também ressaltou que os valores da região devem ser mantidos e pediu que os britânicos resistam à islamofobia.

Corbyn retomou a campanha eleitoral, que havia sido suspensa ao longo do dia em respeito às vítimas do ataque, para o pleito parlamentar da próxima quinta-feira, em que ele concorre a primeiro-ministro contra May.

“Temos que resistir à islamofobia e à divisão e comparecer no dia 8 de junho unidos em nossa determinação de mostrar que nossa democracia é forte”, disse o líder trabalhista em um evento de campanha na cidade de Carlisle, no norte da Inglaterra.

“E sim, precisaremos ter algumas conversas difíceis, começando com a Arábia Saudita e outros países do Golfo [Pérsico] que têm financiado e fomentado ideologias extremistas”, afirmou Corbyn, que já criticou anteriormente a situação dos direitos humanos na Arábia Saudita, assim como os vários acordos firmados entre o governo conservador e Riad.

“Nossa prioridade deve ser a segurança pública e eu tomarei qualquer ação que seja necessária e eficaz para proteger a segurança de nossa população e nosso país. Isso inclui total autoridade para a polícia usar a força necessária para proteger e salvar vidas”, afirmou, em referência a outro ataque em Londres, nos arredores do Parlamento, que terminou com cinco pessoas mortas.

A polícia britânica tem sido elogiada por ter abatido os suspeitos do ataque de sábado oito minutos após a primeira chamada de emergência ter sido recebida. Os agentes dispararam mais de 50 tiros contra os três suspeitos, e atingiram também uma pessoa que estava no local.

“Não se pode proteger a população com pouco dinheiro. A polícia e os serviços de segurança devem receber os recursos de que precisam, não o corte de 20 mil oficiais. Theresa May foi alertada pela Federação de Polícia [contra os cortes]”, mas os acusou de exagerar a ameaça, disse Corbyn.

“Iremos recrutar 10 mil novos oficiais de polícia, incluindo polícia armada, assim como mil novos funcionários para o serviço de segurança, para proteger nossas comunidades e nos manter seguros”, prometeu o trabalhista caso vença as eleições na quinta-feira.