Festival de Jericoacoara estreia e enaltece 50 anos de Terra em Transe

Cinema com o pé na areia. Jericoacoara recebeu na noite da última quarta-feira (07), a abertura da sexta edição de seu Festival de Cinema Digital, que segue até o dia 13, com entrada franca em toda a programação, incluindo debates, oficinas e uma mostra competitiva com 30 curtas-metragens de realizadores de 13 estados brasileiros.

Jeri Digital

A noite de abertura do festival contou com a presença do diretor do evento, cineasta cearense Francis Vale, e de Paloma Rocha, filha do cineasta baiano Glauber Rocha (1939-1981), comentando o filme "Terra em Transe", lançado há 50 anos e exibido no início do festival, como obra homenageada nesta edição.

A efeméride de "Terra em Transe", um dos filmes mais emblemáticos de Glauber, conta com dois dias de seminário sobre a obra, nestas quinta e sexta-feira, com a participação de Paloma Rocha. Tendo como mestra de cerimônias a cantora Téti, do Pessoal do Ceará, o festival foi aberto com o público tomando a maior parte dos lugares no Polo de Atendimento à Criança e ao Adolescente de Jericoacoara.

"Nesses últimos meses a gente apresentou várias vezes o filme, mas hoje eu fico particularmente emocionada de apresentar pra vocês aqui hoje, pela força que ele tem", destacou Paloma Rocha.

"A história se passa em qualquer país da América Latina, mas sobretudo fala muito sobre o janguismo no Brasil, a queda das esquerdas, depois a queda das direitas também. O que tá acontecendo agora que tá caindo tudo. E depois o que sobra é o triunfo da beleza, da poesia", complementou a filha de Glauber Rocha.

Francis Vale, diretor do festival, agradeceu pela presença de Paloma Rocha e dos cineastas de 13 estados que vieram a Jericoacoara, especialmente para o evento. "É com muita alegria que fazemos mais esta edição do festival, porque queremos prestigiar os realizadores desses 30 filmes da mostra competitiva, além de homenagear os 50 anos do 'Terra em Transe'", ressaltou Francis, sob muitos aplausos.

"Achávamos que alguém precisava fazer alguma coisa no Ceará para homenagear esse filme, ou passaríamos em branco. É um filme importante pra que nós compreendamos o que é o Brasil de hoje, inclusive, porque ele é um filme que trata da política brasileira durante o século XX, e quem sabe durante todos os séculos", apontou Francis Vale.

Cópia salva após exílio de Glauber

A cópia de "Terra em Transe" exibida na abertura do Festival de Jericoacoara Cinema Digital foi restaurada em 2003 e 2004, a partir de um interpositivo que estava na Alemanha, revelou Paloma Rocha. "Tanto este filme quanto 'O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro' e quanto inúmeros filmes brasileiros dessa época perderam seus negativos, suas cópias, porque os cineastas iam pro exílio e levavam esse material. Não se tinha nenhuma possibilidade de ver o filme. AS cópias eram deterioradas", frisou Paloma.

"Foi feito um trabalho muito sério, com o Lauro Escorel, o Barreto, a gente reuniu toda a equipe original do filme, e conseguiu restaurar, com muita dificuldade. Mas chegamos a esse resultado que tá aqui. Hoje temos cópias em 35mm", acrescentou.

Paloma Rocha destacou ainda o documentário "Depois do Transe", "muito rico porque tem o Glauber, com a generosidade que ele teve, deixando muita coisa gravada sobre o método de produção e criação, além de ele falar exatamente o que acontece com o filme", complementou Paloma, dedicando a exibição de "Terra em Transe" em Jericoacoara à avó, Lucia Rocha, mãe de Glauber.

Mais sobre o Festival de Jericoacoara Cinema Digital

Além de seguir com a proposta de revelar o melhor do novo cinema brasileiro, abrindo espaço a cineastas independentes, a edição deste ano será marcada por uma homenagem a um dos maiores clássicos do cinema brasileiro em todos os tempos: o filme "Terra em Transe", de Glauber Rocha, produção que completa 50 anos.

O destaque a "Terra em Transe", filme que causou polêmica em todo o País, inclusive no Ceará, quando de seu lançamento em 1967, mas que segue sendo aclamado internacionalmente como uma das obras-primas do cinema nos anos 60, será um dos atrativos para o público do festival, que promove uma mostra diária de filmes em pleno cenário paradisíaco, de uma das praias mais belas do País, comentada e desejada por turistas de todo o mundo. A participação da comunidade de Jeri é outra característica do festival, com entrada franca em toda a programação e forte presença dos moradores nas noites de exibição de filmes.

"Em Jericoacoara teremos dois dias de debate sobre o 'Terra em Transe', reforçando nossa proposta de apontar para as novidades do audiovisual brasileiro, com a mostra competitiva de curtas-metragens, mas também de levar ao público mais jovem conhecimento e discussão sobre grandes obras da história do nosso cinema", destacou Francis Vale. "'Terra em Transe' tem metáforas, alegorias e leituras extremamente atuais, ainda mais em tempos de crise como os que vivemos no Brasil de hoje", acrescentou.

Seis vezes Jeri

“Chegando à sexta edição, o Festival de Jericoacoara Cinema Digital prossegue consolidando cada vez mais sua dimensão nacional, buscando reunir os novos realizadores do cinema brasileiro, que estão em todas as regiões, fazendo seus trabalhos, mesmo enfrentando, muitas vezes, dificuldades para divulgação, repercussão, visibilidade”, afirmou Francis Vale.

“Na contramão dessa realidade, o Festival de Jericoacoara Cinema Digital existe justamente para para dar mais destaque a novos nomes do cinema brasileiro, provando que passamos de um eixo geográfico de produção para novos e múltiplos polos, espalhados pelo País”, acrescenta o diretor do festival.

“O festival contribui para mostrar o pluralismo, essa riqueza de origens, temas e formas dos filmes, os realizadores de várias gerações que fazem o novo cinema brasileiro acontecer de um modo muito forte, pulsante”, complementa Francis, que também enfatiza a relação do festival com a comunidade de Jeri como um grande diferencial.

Cineastas de 13 estados

O VI Festival de Jericoacoara Cinema Digital contará, na Mostra Competitiva de Curtas, com a exibição de 30 filmes, de realizadores de 13 estados, selecionados entre nada menos que 237 inscritos. Participam do festival filmes de até 20 minutos, sobre quaisquer temas, nos gêneros documentário, ficção, animação e experimental.

Neste ano, chamou atenção da comissão de seleção o grande número de documentários inscritos, refletindo-se também na lista dos selecionados. "Um total de 15 filmes, metade dos selecionados, são documentários, o que demonstra a atenção que o gênero vem recebendo por realizadores de todo o País", destaca o diretor do festival, cineasta e escritor cearense Francis Vale, que celebra a nova edição do festival, apontando que mais uma vez o evento prestará homenagens a grandes nomes do audiovisual do Ceará e do Brasil, com destaque para a história do cinema e para a cena independente.

Convivência e debate

Para assegurar, na prática, a democratização da participação no evento, a produção do festival garante as despesas de transporte terrestre entre Fortaleza e Jericoacoara, alimentação e hospedagem, ao longo de todo o período, para um representante de cada um dos filmes selecionados.

“Mais do que apenas exibir os filmes, o festival se diferencia por proporcionar que os realizadores e o público possam conviver em Jericoacoara, ao longo de uma semana, debatendo cinema e permanecendo em contato direito com o público e a comunidade”, reforça Francis Vale. “Muitas vezes novas produções nascem desse encontro”.

Ao longo do festival, os filmes serão apreciados por um júri composto por nomes de destaque no audiovisual. Receberão o Troféu Pedra Furada as obras escolhidas pelo júri como as melhores em cada categoria: ficção, documentário, animação e experimental. Também receberá o troféu a melhor produção dos estados Ceará, Piauí e Maranhão, em homenagem à chamada “Rota das Emoções”, que se inicia em Jericoacoara-CE, passa pelo Delta do Parnaíba-PI e se estende até os Lençóis Maranhenses.