Desastre político no Reino Unido

Theresa May estava muito confiante de sua posição. Ela queria um mandato para formar um governo forte e conduzir seu país, em caso de dúvidas, por duras negociações sobre o Brexit. "Forte e estável" tornou-se o mantra de sua campanha eleitoral. Em vez disso, parece que ela provocou seu próprio declínio. Os eleitores britânicos mostraram-lhe o dedo do meio e mergulharam o país numa crise política profunda.

Theresa May

Alguém ainda se lembra dos presunçosos conservadores que, antes destas eleições, sonhavam em ter uma maioria de 150 ou até mesmo 200 assentos no Parlamento? E que previam a total destruição do Partido Trabalhista? Mais uma vez foi mostrado que todas as pesquisas podiam ir pro lixo e que os eleitores tinham outras ideias. Eles não se deixam pressionar por antigos padrões de votação e mudam de campo rapidamente.

Esta deve ter sido a pior campanha eleitoral que um político britânico realizou em décadas. May tratou os britânicos como crianças pequenas cujo futuro pode ser ditado. Ela se recusou a participar do debate público, evitou qualquer discussão com os eleitores e repetiu continuamente a cada pergunta os mesmos velhos termos e frases. Sua repetição robótica de slogans vazios lhe rendeu o apelido de "Maybot".

Nas últimas semanas, repentinamente, os britânicos conseguiram perceber sua primeira-ministra fora de seu protegido papel. Ela se mostrou presa em seu pequeno grupo de pessoas confiáveis, não confiando em ninguém e sendo incapaz de ouvir. May parecia insensível, desligada e sem compreender as preocupações reais das pessoas. E essas preocupações dizem respeito a educação, sistema de saúde e financiamento dos cuidados aos idosos.

Seu insultado "imposto da demência" – proposta de expropriação voltada para idosos que precisam de assistência – e sua posterior mudança de rumo sobre essa questão prejudicou enormemente May. É incompreensível como alguém pode fazer uma proposta tão absurda em uma campanha eleitoral. May deve ter uma propensão à autodestruição.

Ao contrário de May, Jeremy Corbyn fez uma campanha muito melhor do que o esperado. No Parlamento, suas aparições pareciam muitas vezes duras, mas ganharam emoção nas conversas com eleitores, em rodas de discussões e nos palcos do país. Corbyn apareceu como um político com os pés no chão, convencido de seu programa e apaixonado. O político – cujo próprio partido havia sinalizado que não seria adequado para o cargo de primeiro-ministro – se tornou, de repente, um vencedor.

Os votos dos jovens ajudaram o Partido Trabalhista. Eles acompanharam uma campanha online inteligente e deram ao Reino Unido seu próprio efeito Bernie Sanders: como nos EUA, um grande número de jovens votou nos esquerdistas, depositando esperança em suas promessas sociais.

Esta eleição mostrou que o Reino Unido está profundamente dividido: entre norte e sul, cidade e campo, jovens e velhos, pró-Brexit e pró-Europa. Eles tomam sua decisões políticas de acordo com seus próprios critérios – e a antiga lealdade, tradições regionais e laços sociais na política britânica desapareceram.

O problema é que o sistema britânico não foi feito para esse tipo de situação política. Em outros países, partidos iriam formar agora coalizões. Mas, ao contrário disso, no Reino Unido, um Parlamento sem maioria é um beco sem saída.

Como o partido relativamente mais forte, os conservadores podem formar de início um governo minoritário. Mas a questão é: quão decisivamente eles poderão realizar as negociações do Brexit? Provavelmente as conversações terão que ser adiadas até que um governo seja formado.

Este é o maior desastre político para os conservadores. May trouxe isso voluntariamente para si mesma e seu partido. O resultado é o extremo oposto de "forte e estável". A situação é caótica, e o futuro, incerto. É o segundo erro de cálculo catastrófico de um primeiro-ministro britânico, depois de David Cameron e seu referendo sobre o Brexit. O que está por vir, Reino Unido?