Desastre político no Reino Unido
Theresa May estava muito confiante de sua posição. Ela queria um mandato para formar um governo forte e conduzir seu país, em caso de dúvidas, por duras negociações sobre o Brexit. "Forte e estável" tornou-se o mantra de sua campanha eleitoral. Em vez disso, parece que ela provocou seu próprio declínio. Os eleitores britânicos mostraram-lhe o dedo do meio e mergulharam o país numa crise política profunda.
Publicado 09/06/2017 11:19
Alguém ainda se lembra dos presunçosos conservadores que, antes destas eleições, sonhavam em ter uma maioria de 150 ou até mesmo 200 assentos no Parlamento? E que previam a total destruição do Partido Trabalhista? Mais uma vez foi mostrado que todas as pesquisas podiam ir pro lixo e que os eleitores tinham outras ideias. Eles não se deixam pressionar por antigos padrões de votação e mudam de campo rapidamente.
Esta deve ter sido a pior campanha eleitoral que um político britânico realizou em décadas. May tratou os britânicos como crianças pequenas cujo futuro pode ser ditado. Ela se recusou a participar do debate público, evitou qualquer discussão com os eleitores e repetiu continuamente a cada pergunta os mesmos velhos termos e frases. Sua repetição robótica de slogans vazios lhe rendeu o apelido de "Maybot".
Nas últimas semanas, repentinamente, os britânicos conseguiram perceber sua primeira-ministra fora de seu protegido papel. Ela se mostrou presa em seu pequeno grupo de pessoas confiáveis, não confiando em ninguém e sendo incapaz de ouvir. May parecia insensível, desligada e sem compreender as preocupações reais das pessoas. E essas preocupações dizem respeito a educação, sistema de saúde e financiamento dos cuidados aos idosos.
Seu insultado "imposto da demência" – proposta de expropriação voltada para idosos que precisam de assistência – e sua posterior mudança de rumo sobre essa questão prejudicou enormemente May. É incompreensível como alguém pode fazer uma proposta tão absurda em uma campanha eleitoral. May deve ter uma propensão à autodestruição.
Ao contrário de May, Jeremy Corbyn fez uma campanha muito melhor do que o esperado. No Parlamento, suas aparições pareciam muitas vezes duras, mas ganharam emoção nas conversas com eleitores, em rodas de discussões e nos palcos do país. Corbyn apareceu como um político com os pés no chão, convencido de seu programa e apaixonado. O político – cujo próprio partido havia sinalizado que não seria adequado para o cargo de primeiro-ministro – se tornou, de repente, um vencedor.
Os votos dos jovens ajudaram o Partido Trabalhista. Eles acompanharam uma campanha online inteligente e deram ao Reino Unido seu próprio efeito Bernie Sanders: como nos EUA, um grande número de jovens votou nos esquerdistas, depositando esperança em suas promessas sociais.
Esta eleição mostrou que o Reino Unido está profundamente dividido: entre norte e sul, cidade e campo, jovens e velhos, pró-Brexit e pró-Europa. Eles tomam sua decisões políticas de acordo com seus próprios critérios – e a antiga lealdade, tradições regionais e laços sociais na política britânica desapareceram.
O problema é que o sistema britânico não foi feito para esse tipo de situação política. Em outros países, partidos iriam formar agora coalizões. Mas, ao contrário disso, no Reino Unido, um Parlamento sem maioria é um beco sem saída.
Como o partido relativamente mais forte, os conservadores podem formar de início um governo minoritário. Mas a questão é: quão decisivamente eles poderão realizar as negociações do Brexit? Provavelmente as conversações terão que ser adiadas até que um governo seja formado.
Este é o maior desastre político para os conservadores. May trouxe isso voluntariamente para si mesma e seu partido. O resultado é o extremo oposto de "forte e estável". A situação é caótica, e o futuro, incerto. É o segundo erro de cálculo catastrófico de um primeiro-ministro britânico, depois de David Cameron e seu referendo sobre o Brexit. O que está por vir, Reino Unido?