Sobre Copa, legado e o desperdício de oportunidades

Nesta segunda (12) pipocaram lembranças de 2014. Passados três anos do início da Copa no Brasil, contamos com uma bagunça generalizada e a constatação de que muitas das arenas, construídas apenas para satisfazer a sanha corrupta de alguns, são desnecessárias e foram um desperdício gigantesco de recurso público.

Por Lu Castro*

Futebol feminino

 Longe de utilizar a inteligência a serviço do bem comum, nossos ‘estimados gestores e legisladores’, bem como a ‘dona’ do futebol nacional, CBF, ignoraram solenemente uma via interessante para o aproveitamento da estrutura deixada –ou que pelo menos deveria ter sido- pela Copa do Mundo: ao menos a candidatura do país para sediar a Copa do Mundo de Futebol Feminino de 2015.

Para pontuar minha abordagem: A Alemanha, após sediar a Copa de 2006, abrigou o Mundial Feminino de 2011. Aproveitou a estrutura do mundial masculino e promoveu uma Copa Feminina de sucesso. E não foi só dentro de campo. O aproveitamento do evento para alavancar as atletas da seleção ao conhecimento popular, também foi exemplar.

Mas, como o uso da inteligência para o bem comum está longe de ser uma das nossas maiores virtudes, o bonde da oportunidade passou e, ao invés de agregar mais valor e visibilidade para o futebol feminino nacional – dois anos após a Copa tivemos as Olimpíadas, logo, mais bola rolando para as mulheres e mais perto da população – ninguém se importou em pleitear a Copa de 2015, tampouco a de 2019.

Em suma: um dane-se estrondoso para o futebol das mulheres.

E não me convencem argumentos de que seria dispendioso, justamente porque a parte mais pesada já estava pronta. Ademais, um evento como Copa do Mundo, com a estrutura pronta para uso no ano seguinte, traria divisas interessantes para o país, além, claro, de uma senhora força na massificação do jogo feminino.

Arenas foram construídas, dívidas assumidas, licitações duvidosas, destruíram patrimônio, segmentaram os estádios, deram ares de elite ao espaço mais popular e democrático dessa vida em nome de um futebol padrão FIFA que nem se reflete aqui. Aliás, o cerne do futebol está longe de brilhar de novo.

Daqui dois anos teremos mais um Mundial Feminino. A exemplo da Alemanha, o futebol feminino francês vem fortalecido, destacado e certamente ampliará seu campo de divulgação. E olha que o país sediou a Copa em 1998!

Enquanto isso consolidamos algumas coisas importantes, como nossa participação em comissões técnicas, comandando equipes e seleção, nos organizando como mulheres que torcem e trabalham com o futebol, produzindo conteúdo cultural com o tema, mantendo viva a história e tantas outras atividades a que temos direito.

Ainda que sob a condução de uma entidade cujo presidente sequer pode sair do país e que tenha ‘inovado’ ao definir Emily Lima como técnica da seleção feminina principal, o único caminho possível para as mulheres que amam o jogo e que se empenham para vive-lo diariamente, é o que vislumbramos agora: pressão, luta, cornetagem, ocupação, empoderamento e conquista.

Sediar uma Copa do Mundo de Futebol Feminino soa como obrigação para um país que tem expoentes como Sissi, Pretinha, Michael Jackson, Marta, Formiga e Cristiane. Se os que organizam o futebol brasileiro não enxergam o fato, façamos nós com que enxerguem.
Ver o bonde dos grandes eventos passando sem mover uma única palha para contemplar as mulheres do futebol, é mais do que cegueira, é burrice. E burrice, bem, burrice eu não perdoo.