Anderson Bahia: Sobre a disputa política no Congresso da UNE

 O 55° Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), realizado recentemente em Belo Horizonte, elegeu estudante baiana Marianna Dias para a presidência da entidade pelos próximos dois anos. É a terceira gestão consecutiva em que uma mulher presidirá a organização representativa dos estudantes universitários brasileiros. Fato inédito nos seus 80 anos de história.

55o Conune - Foto: Vitor Vogel/Cuca da UNE

A chapa de número 6 pela qual Marianna foi eleita obteve 3.788 votos, o que equivale a 79% dos 4.795 votos depositados nas urnas. Denominada “Frente Brasil Popular – A unidade é a bandeira da esperança”, a chapa reuniu 10 grupos políticos dos 26 que participaram do congresso. São eles: União da Juventude Socialista (UJS), ligada ao PCdoB, Levante Popular da Juventude, movimento “Novo Rumo”, juventude do PSB, juventude do PDT e as tendências petistas Democracia Socialista (DS), Construindo um Novo Brasil (CNB), Esquerda Popular Socialista (EPS), Mudança e Trabalho.

As demais chapas obtiveram a seguinte votação:
Chapa 5: 690 votos (14,33%) – Oposição de Esquerda (PCR, PSOL, PCB, MAIS)
Chapa 3: 148 votos (3,09%) – Vem que a UNE é Nossa (PSDB)
Chapa 4: 85 votos (1,77%) – Mutirão (Partido Pátria Livre)
Chapa 2: 84 votos (1,75%) – Reconquistar a UNE (Articulação de Esquerda). Única tendência petista que não se somou a chapa vencedora
Chapa 1 – decidiu apoiar outra chapa

O resultado reafirmou a hegemonia da UJS no movimento estudantil. Desde que surgiu, em 1984, quase todos os presidentes da UNE são militantes dessa organização. Nesse congresso, mais da metade dos votos da chapa vencedora foram oriundos do movimento organizado por eles, apresentado como “Vem Quem Tem Coragem”.

Situação política no país e o impacto no Congresso da UNE

A complexa situação política do país se refletiu diretamente na montagem das chapas. A necessidade de reunir forças para enfrentar o governo ilegítimo de Temer foi decisiva para formar-se um grupo político do tamanho desse que saiu vitorioso. No congresso realizado em 2015, esses dez grupos políticos que formaram uma só chapa para disputar a direção da UNE estavam divididos em quatro chapas distintas.

As pautas políticas que unificaram esses movimentos nesse ano são: saída imediata de Temer e convocação de eleições diretas para a presidência da República, enfrentamento às reformas do atual governo, participação efetiva na construção da greve geral convocada para o próximo 30 de junho e a realização de várias mobilizações em defesa dos direitos políticos e sociais que vem sendo reduzidos após o golpe de 2016.

A segunda chapa mais votada, que forma o campo político denominado “Oposição de Esquerda na UNE”, obteve 690 votos e se diferencia no discurso ao não concordar com saídas institucionais para a crise política e econômica do Brasil. Para os principais grupos políticos que o compõem (PCR, PSOL, PCB, Mais), a solução para os problemas do país não virá com as “Diretas Já”. Defendem a realização de manifestações e mobilizações populares para enfrentar as medidas de Temer. Para eles, o que está por trás das “Diretas” é somente a candidatura de Lula e “seu projeto de conciliação de classes”.

No outro extremo, ficou o movimento “Vem que a UNE é nossa”, organizada pela juventude do PSDB. Diferente da decisão tomada há alguns dias pela direção nacional do partido, a juventude tucana defendeu o “Fora Temer”, mas também a continuidade das reformas implementadas pelo presidente ilegítimo. Segundo os jovens tucanos, esse é o caminho para o Brasil retomar o crescimento.

As outras duas chapas, organizadas pela juventude do PPL e da tendência petista Articulação de Esquerda (AE), saíram sozinhas como opção tática levando em consideração a dinâmica do movimento estudantil. Na defesa da chapa da AE, por exemplo, um de seus líderes reafirmou a necessidade do chamado “Campo Popular”, liderado no congresso anterior pelo Levante Popular da Juventude, não deixar de existir.

Composição da diretoria

A diretoria da UNE é composta por 85 cargos. Eles são distribuídos proporcionalmente à quantidade de votos obtidos por cada movimento. A direção é dividida em executiva, com 17 cargos, e o pleno, com 68. Nos próximos dois anos, 15 diretores da executiva da UNE serão provenientes da chapa vencedora.

Quem elegeu a nova diretoria

Aproximadamente, 7.200 delegados/as (participantes com direito a voz e voto) estavam aptos a votar no 55° Congresso da UNE. Eles foram escolhidos em eleições em suas próprias universidades. Cerca de 3,5 milhões de estudantes de 90% das instituições de ensino superior elegeram esses delegados para representar suas universidades no evento.