Conjuntura e direitos trabalhistas pautam Congresso da UBM Caxias

A defesa da democracia e da igualdade de direitos entre as mulheres, bem como as conquistas obtidas, marcaram a etapa regional. Painelista do encontro. que reuniu mais de 100 militantes, Jussara Cony discorreu sobre as ameaças em curso no país os interesses dos EUA e dos países dominadores em aumentar as desigualdades, enquanto luta é para reduzir disparidade no mercado de trabalho e no combate à violência.     

Mulheres em luta - Roberto Carlos Dias
A conjuntura política atual desfavorável à classe trabalhadora e a iminente perda de direitos trabalhistas e sociais estiveram no centro das discussões do Congresso da Uniâo Brasileira de Mulheres (UBM) – etapa Caxias dos Sul e Região. A atividade ocorreu na noite de segunda-feira, dia 19 de junho, no auditório do Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul.
A plenária reuniu mais de 100 mulheres militantes e contou a presença de um painel apresentado pela ex-deputada estadual e ex-vereadora de Porta Alegre, Jussara Cony, que tem forte militância na UBM estadual e nacional e nos movimentos sociais ligados ao PCdoB.
Além de Jussara, participaram a coordenadora regional da UBM, Lourdes Zabot, e a também militante feminista e vice-presidenta do PCdoB estadual, Abgail Pereira. Após as explanações e debates, as participantes assistiram a uma atividade cultural de um grupo de mulheres da UBM de Caxias do Sul e Região, que apresentaram um pouco da dança cigana como forma de valorização da expressão da arte e da cultura dos diferentes povos povos que formam a nação brasileira. Líderes sindicais homens, como o presidente eleito dos Metalúrgicos, Claudecir Monasani, e seu vice, Jovani Dias, e o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rodoviários, Tacimer Kulmann da Silva, também participaram da atividade, bem como outros dirigentes sindicais.
Ao abrir o congresso, a coordenadora regional da UBM, Lourdes Zabot, analisou a situação política pela qual passa o Brasil, tecendo crítica acentuada ao golpe de Estado, que depôs do poder a presidenta Dilma Rousseff (PT).
"Hoje, vivemos no Brasil uma crise, que é do capitalismo. Depuseram uma presidenta legitimamente eleita e hoje estamos sendo governados por uma quadrilha", disparou.
Lourdes ainda resgatou alguns dados para reforçar a necessidade de inserção de mais mulheres trabalhadoras na luta cotidiana e na ocupação de espaços de poder, hoje representada nos parlamentos por uma minoria inferior a 10% de mulheres.
"Buscamos a igualdade contra a opressão no sentido amplo, porque hoje vivenciamos várias formas de violência contra a mulher, e não apenas a doméstica".
Ao fazer sua saudação, Abgail Pereira historiou um pouco as lutas e conquistas das mulheres caxienses na busca por igualdade e mais direitos. Ela relembrou que antes da UBM, a cidade teve a sua organização por meio da União de Mulheres Caxiense (UMCA) num momento em que era muito grande a violência contra a mulher. Na ocasião, resgatou, a UMCA foi presidida por uma grande lutadora da área de direitos humanos, a advogada Raquel Grazziotin.
"Caxias foi a primeira a cidade do interior do Rio Grande do Sul a ter a Delegacia para Mulher. Foi uma luta árdua, mas obtivemos conquistas. Depois da DP para Mulher, fomos à luta por uma casa abrigo, buscando experiências em outras cidades, como Porto Alegre, e conquistamos a Casa Viva Raquel, que teve como primeira coordenadora uma grande camarada chamada Alaíde Monteiro", resgatou.
Na sequência, Abgail enumerou algumas conquistas obtidas pelas mulheres quando a primeira mulher tornou-se presidenta do Brasil. Ela relembrou que o programa Minha Casa Minha Vida dava prioridade às mulheres, bem como o Pronatec era formado por uma maioria de mulheres e a moradia rural também dava atenção às mulheres.
"Isso é empoderar as mulheres, mas não basta ser mulher para estar nesses espaços de decisões. É preciso ter lado. E Dilma mostrou de qual lado estava. O mesmo não dá para dizer de Yeda Crusius (PSDB), que governou nosso Estado, e da senadora eleita do RS Ana Amélia.
"Precisou Tarso Genro (PT) chegar ao governo do Estado para que fosse firmado o pacto contra a violência doméstica, porque Yeda não assumiu esse compromisso. Ana Amélia não tem, como senadora, nem um projeto de igualdade entre homens e mulheres", criticou Abgail.
Poetisa e ativa militante comunista e feminista, Jussara começou sua explanação como palestrante da noite festejando o nascimento da 16ª bisneta, nascida na segunda, dia 19 de junho.
"Fico feliz, porque é mais uma mulher no mundo e precisamos continuar sem parar e sem temer a luta das mulheres da UBM. O nosso congresso neste ano será em defesa da democracia e da luta por nem um direito a menos, e homenageará uma das grandes lutadoras e guerreiras chamada Gilse Consenza. Ela teve mais de 50 anos de militância e nunca se curvou. Gilse suportou cicatrizes, medos e incertezas com coragem, sem se curvar diante dos desafios durante toda a sua existência. Outra homenageada do nosso congresso será a grande poetisa Lila Ripoll."
Jussara enfatizou que o grau de emancipação de uma sociedade é o grau de consciência das mulheres.
"Nesta sociedade, a luta de classe sempre esteve presente, e as mulheres foram e são as que mais sofrem com as desigualdades", acrescentou Jussara.
Em seguida, para apresentar quem foi Lila Ripoll, leu a poesia Angelina, de 1º de maio de 1950, para fazer analogia à luta pelo Petróleo é Nosso!
Jussara comparou ainda a poesia de Lila Ripoll à atualidade vivenciada pelas gaúchos com o governo de José Ivo Sartori (PMDB).
"Essa poesia continua atual com a forma como se deu o despejo de mulheres e meninas da ocupação Lanceiros Negros pelo governo Sartori", criticou.
Ela também destacou a importância das mulheres na primeira greve geral no Brasil, que completa 100 anos em 2017.
"As mulheres tiveram papel importante nesta greve. Muitas trabalhadoras morreram nessa paralisação na luta por mais conquistas e direitos. Hoje, enfrentamos dias difíceis para viver no país, porque nossa nação está destroçada. Para os EUA e os países dominadores, somos periféricas. E na perda de direitos quem mais perde são as mulheres. Repudio a expressão que os dominadores usam para definir as mulheres. Eles dizem que pobreza tem a cara de mulher".
Jussara foi aplaudidíssima ao final de sua explanação. O congresso em caxias não chegou a retirar os nomes de delegadas para a etapa estadual, mas deliberou que uma delegação deve representar Caxias e Região.