Alípio de Freitas, revolucionário universal

Alípio Cristiano de Freitas era português, cristão, sacerdote, figura singular de religioso e revolucionário, que marcou nossa geração e a igreja católica nas décadas de 1950/60 no Brasil.

Por Nagib Jorge Neto*

Alípio de Freitas

Como padre, defensor dos operários e camponeses, perseguido pela ditadura de Oliveira Salazar, era um militante da democracia e do socialismo na Arquidiocese de São Luís. As suas posições em defesa dos trabalhadores, de crítica aos empresários, eram aceitas pelo Arcebispo Dom José Delgado e por Dom Fragoso, bispo auxiliar.

Naquela fase defendeu os operários da Fabrica Camboa em São Luis, ação que contou com o apoio do movimento estudantil, operário e camponês, e pouco depois teve atuação marcante no movimento em defesa de reforma agrária, centrado nas concentrações em Bacabal, Pirapemas e Caxias. Era um primeiro passo em defesa das reformas, do combate ao latifúndio, que Dom José apoiava de forma discreta. Em todos os atos, sempre de batina branca, crucifixo, era embaixador do movimento que negociava com a polícia para evitar conflitos e assegurar a luta por reformas, que contava com a liderança de José Mário Santos, José Bento Nogueira Neves, Raimundo Vieira da Silva, Augusto Nascimento, José de Lima e nossa participação.

Depois dessa convivência, a gente se encontrou no Rio, no Aeroporto Santos Dumont, para uma reunião na casa do Neiva em Brasília, deputado maranhense amigo de Francisco Julião. Alipão, como a gente chamava de forma carinhosa, já estava engajado nas Ligas e aos poucos num confronto que seria reprimido de forma violenta. Assim foi preso após 1964 e depois lançou o livro Resistir É Preciso sobre as violências e torturas que sofreu.

Então voltamos a nos encontrar no lançamento em Recife e em 1995 não foi possível um novo encontro em Portugal. Na homenagem em São Luís, com o título de cidadão, iniciativa da deputada Helena Heluy, também não foi possível o reencontro com Alípio que é o padre de branco do conto Os Proletas, verdade e ficção, do livro As Três Princesas.

Após sua partida, vale lembrar a homenagem de Zeca Afonso, autor de Grândola, Vila Morena – louvor à revolução dos Cravos – num evento em Lisboa sobre Alípio de Freitas que em nosso pais João Ricardo Dornelles, da PUC, do Rio, resume com primor:

A vida de Alípio de Freitas foi marcada pela coragem, pelo compromisso com a liberdade e a emancipação dos povos. A encarnação dos grandes revolucionários, daqueles que não se intimidam com o opressor, daqueles que sabem fazer a história e que deixam as suas marcas para as próximas gerações. Assim foi Alípio de Freitas, um homem que dedicou a sua existência à luta por um outro mundo possível. Deixou de ser português ou brasileiro, tornando-se universal.

Alípio, Presente!!!

Alípio Vive!!!