“Mercado” começa a abandonar Temer: “permanência dificulta ajuste”
Desde que as delações dos irmãos Batista, da JBS, tornaram-se públicas, o presidente Michel Temer tenta usar uma suposta capacidade de fazer o que o "mercado" quer para manter aliados e se agarrar à cadeira presidencial. Pelo visto, não está mais dando certo. Em reportagem do El País, banqueiros e gestores do mercado financeiro avaliam que o peemedebista "encarece e dificulta" o ajuste fiscal. E já falam que a permanência de Temer no cargo "é negativa" para a economia.
Publicado 27/06/2017 20:02
“Teria sido mais tranquilo do ponto de vista da economia se Temer tivesse renunciado e entregue a presidência para alguém eleito pelo Congresso”, defende na reportagem Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central brasileiro (1995-1997) e sócio da consultoria Tendências.
Para os financistas ouvidos pelo El País, a insistência do presidente em continuar no posto provoca uma espécie de “custo Temer” nos preços, elevando os juros e o dólar, com impacto no consumo e nos investimentos.
O “mercado” estaria então atento ao “risco” que envolve a manutenção do peemedebista no poder – algo que gera instabilidade, desconfianças e dúvidas. “Nenhum investidor fica mais tentado a aplicar dinheiro no Brasil se descobre que um ex-assessor presidencial carrega uma mala de propina de 500.000 reais e fala em nome do presidente da República”, diz o El País, que lembra que, de 16 de maio, no dia anterior à explosão da delação da JBS, até esta segunda-feira, o juro implícito nos contratos de Depósitos Interfinanceiros (DIs) subiu de 8,25% ao ano para 8,5%, por exemplo.
As dificuldades que um presidente sob suspeita enfrenta se refletiram nas decisões mais conservadoras do Banco Central, que, ao invés de reduzir a taxa Selic em 1,25 ponto percentual – como era esperado -, optou por um recuo menor, de 1 ponto percentual. Além disso, ao contráriodoque prometia a gestão Temer, a conffiança do comércio e do consumidor, por exemplo, depencou no último período, diante das incertezas políticas.
Nesse cenário, explica Rogério Braga, gestor de renda fixa da Quantitas, que administra mais de 1,2 bilhão de reais, não podia ser mais claro: “O mercado tem apreço pelas reformas e não pela manutenção da pessoa de Temer. Ele individualmente é um peso”.
Com sua base se desmilinguindo e a agenda judiciária dominando a pauta política, o sonho do mercado de ver aprovadas as reformas trabalhistas e da previdência vai ficando mais distante. E, nesse sentido, até mesmo a Emenda Constitucional que instituiu o teto de gastos públicos já é vista como um problema. Isso porque, para cumprir os limites estabelecidos pela nova norma fiscal, o governo contava com o corte de gastos propiciado pelas reformas, agora ameaçadas.
“O melhor cenário de todos seria Temer sair e ser substituído por um nome consensual com apoio da base”, afirmou Braga, embora ache mais provável que o peemdebista permaneça no poder e não aprove as reformas prometidas.
O banqueiro Ricardo Lacerda, sócio do banco BR Partners, concorda: “Pela fotografia de hoje, eu avalio que o Governo permanece até o fim sem força política para aprovar reformas”, diz Lacerda.