Chico Lopes: FBS debate falta de apoio à Ciência e Tecnologia

Representantes de várias entidades e instituições participaram no último sábado, 1º de julho, na sede do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Estado do Ceará (ADUFC), da reunião de organização que instituirá o Fórum Brasil Soberano (FBS). Na pauta do encontro, crise e desafios na área da Ciência e Tecnologia.

Chico Lopes: FBS debate falta de apoio à Ciência e Tecnologia

Tendo como tema a soberania nacional e o papel da Ciência e da Tecnologia, o FBS tem o apoio do Mandado de Chico Lopes (PCdoB-CE), que participou do debate. O parlamentar abordou o cenário de crise das instituições nacionais, como a política, o judiciário e até valores como a ética. “Todos nós somos militantes e é nosso papel continuar lutando e defendendo nosso país e nosso povo. Apesar de toda dificuldade, críticas e perda de credibilidade, considero que ainda há resistência popular”.

Lopes considera que só uma grande aliança, com a unidade da esquerda, centrais sindicais, aliados e representantes das mais diversas frentes dos movimentos sociais poderá barrar o avanço das ameaças aos direitos do povo, conquistados nos últimos anos. “Apesar de a realidade ser desestimulante, só o povo unido é capaz de mudar o rumo da história. Essas dificuldades não novas, mas estão agravadas. Por isso a necessidade e a importância de sermos protagonistas nestes debates, aprofundando discussões e buscando saídas. Somos cidadãos e temos a obrigação de participar da vida política do nosso país”, defende.

Ameaças à Ciência e Tecnologia

O professor Enio Pontes de Deus, PHD e presidente da ADUFC, iniciou sua intervenção questionando: É possível ter soberania sem investimento em conhecimento específico? Com números, dados e casos, o pesquisador apresentou a realidade da pesquisa no país. E os números não mentem: no recorte para pesquisa cientifica, a produção nacional representa apenas 3% no cenário mundial; no conjunto de artigos científicos publicados anualmente em revistas internacionais, o Brasil ocupa a 24ª posição; em 2016 foram publicadas apenas 991 produções, número abaixo da capacidade dos pesquisadores brasileiros.

O professor Enio citou como dificuldades enfrentadas pelo setor a falta de apoio de agências de financiamento, a elevada burocracia para análise e aprovação de projetos, os cortes elevados nas verbas destinadas à pesquisa. “A queda de investimentos prejudica ainda mais as atividades dos pesquisadores. Para se ter uma ideia, em 2013 o investimento oficial era de R$ 8 bilhões, enquanto em 2017, mal alcança R$ 5 bilhões. Se naquela época já era difícil, imagine agora”, pondera.

Ainda segundo o professor Enio, a verba do Governo Temer destinada à Ciência e Tecnologia teve uma redução global de 44%. Atualmente, o setor tem o orçamento mais baixo dos últimos 12 anos, com apenas R$ 2,8 bilhões. “O alegado é que os motivos da redução de investimentos fazem parte de um corte geral do orçamento federal para ‘economizar’ e pagar a dívida pública, que remunera o sistema financeiro brasileiro. Na prática, é mais dinheiro para os bancos e muito pouco para a Ciência e Tecnologia”, avalia.

Como consequências deste desmonte, o professor aponta que muitos jovens estão deixando o país, além de um afastamento da ciência internacional, a paralisação da pesquisa e dos projetos em andamento, além da perda de manutenção da infraestrutura e da capacidade de apresentar soluções para a sociedade comprometendo, por exemplo, saídas sobre a vacina contra a dengue e doenças associadas ao Aedes egipty. “Estamos passando os piores momentos da história do Brasil, o que torna impossível prever o tempo desses impactos. A única maneira de tentar reverter seria atrair mais investimentos da iniciativa privada, em parceria com as universidades públicas”, aponta.

Em resposta à pergunta inicial, o professor Enio afirma que é “impossível ter soberania sem investimento em conhecimento específico, pois a pesquisa científica gera conhecimento, que gera inovação, tecnologia e riqueza. Enquanto países desenvolvidos investem em conhecimento para não dependerem de transferência e compra de tecnologia, o Brasil percorre o caminho inverso. Uma saída para a retomada em investimento seria uma mudança radical na política econômica que atualmente não investe em Ciência e Tecnologia”, defende.

Mais

Após a intervenção do Professor Enio, o deputado Chico Lopes apresentou como sugestão a realização de uma audiência pública, reunindo atores envolvidos com a Ciência e Tecnologia, a ser debatida na Comissão de Legislação Participativa da Câmara Federal. “Devemos ampliar este debate realizado hoje. Vamos contribuir e ajudar, de forma concreta a mudar este cenário”, acrescenta.

A reunião também debateu e aprovou o regimento interno do FBS. Também foram dados informes e encaminhamentos da organização, dentre elas um debate sobre a dívida pública do estado, que deverá ser realizado no dia 12, também no auditório da ADUFC.

O Fórum Brasil Soberano surge com o objetivo de fomentar espaços para interlocução entre organizações dos movimentos sociais, mandatos parlamentares, gestores e acadêmicos e promover debates e reflexões aprofundadas sobre a realidade brasileira a partir de uma perspectiva da resistência ao atual.