Publicado 20/07/2017 17:03

O Instituto Nacional de Meteorologia registrou na terça-feira (18) a tarde mais fria do ano até agora. A baixa temperatura causou a morte de dois moradores de rua. Em 2016 foram registradas 6 mortes de moradores de rua pelo mesmo motivo. Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o padre Julio Lancellotti, da Pastoral de Rua, afirma que a procura por abrigos da Prefeitura aumentou, e que a operação de emergência da administração municipal ainda não atende toda a demanda.
A CBN reportou, na quarta-feira (19), que agentes de limpeza de uma companhia terceirizada contratada pela Prefeitura para fazer a limpeza de praças e vias públicas da cidade lançaram jatos de água próximo aos moradores que ainda estavam dormindo, pela manhã. Segundo a reportagem, eram 7h da manhã e o termômetro da Praça da Sé, na região central da capital paulista, marcava 12 graus. Os jatos eram direcionados nas calçadas: “Não dá nem tempo de levantar. Quando eles chegam, molham as coisas. Meu cobertor ficou encharcado. Sempre que isso acontece, a gente perde tudo”, disse um morador à CBN. Outros também afirmaram à repórter que a limpeza também acontece de madrugada, independente da temperatura e se tem alguém dormindo na calçada.
Após tais acontecimentos, segundo o portal Rede Brasil Atual, o prefeito João Doria foi hostilizado por moradores de rua no bairro Santa Cecília, na noite dessa quarta-feira (19), enquanto distribuía cobertores junto de sua equipe, em uma ação que combinou assistencialismo e marketing. Os moradores o teriam xingado de “pilantra” e “assassino”.
Apesar da Prefeitura anunciar a atividade do PEI (Programa Emergencial de Inverno) nos dias de temperatura mais baixa, que contaria, segundo as palavras do prefeito João Doria, com a distribuição de mais de mil cobertores para pessoas em situação de rua e também de meias, e da inauguração de uma nova unidade de acolhimento, na Zona Norte da cidade, os Jornalistas Livres publicaram em sua página no Facebook, na quarta-feira (19), um vídeo que mostra uma ação da Guarda Civil Metropolitana retirando barracas e pertences dos moradores de rua da Praça da Sé.
Na gravação, um grupo de agentes ronda a praça pela manhã, quando o termômetro marcava 7,9 graus, abordando moradores de rua para que retirassem suas barracas do local, proibido de ser ocupado naquele horário. O agente principal chega a ameaçar levar embora os pertences de um rapaz que estava dormindo; enquanto isso, outro morador de rua pedia para que os guardas devolvessem sua barraca, que já estava no caminhão: “Se o problema for esse a gente desmonta, não tem problema, mas devolve minha barraca moço”. O homem, diante do frio, ainda se queixou: “Minhas cobertas estão todas lá moço, e minhas comidas também. O que eu vou comer agora?”. O agente diz para ele ir na Prefeitura.
No final do vídeo, é possível ver os agentes desmontando uma barraca vazia e levando embora os cobertores e pertences dispostos dentro dela, sem o consentimento do provável dono ou aguardar seu retorno para avisá-lo.
No começo da gravação um dos guardas tenta acordar o rapaz deitado dentro da barraca e, quando ele demora para se levantar, comenta com outro agente: “Tá morto”. Quando o rapaz se mexe, ele diz: “Tá morto não, tá vivo”, mostrando como a situação, que é grave, é também algo comum do cotidiano.
Segundo a reportagem da CBN, alguns moradores reclamaram que as vans da administração municipal que transportam moradores para abrigos têm poucas vagas: uma fila teria se formado na noite de terça-feira (18), mas apenas 20 pessoas foram levadas.
É compreensível a responsabilidade da Prefeitura de organizar os locais públicos da cidade, mas é necessário que haja um mecanismo humano para tanto, respeitando os moradores de rua e garantindo alternativas para estes. Para além do PEI, é necessário que haja uma conscientização da situação dessas pessoas e um compromisso por parte da Prefeitura de cuidado e acolhimento, revertidos em políticas públicas efetivas que não violem em momento algum os direitos humanos dos moradores e moradoras de rua.
Confira o vídeo do Jornalistas Livres abaixo: