Parlamentares e sindicalistas apuram causas de mortes na Gerdau (MG)
A morte de dois operários na usina da Gerdau de Ouro Branco (MG), na última terça-feira (15/08), por negligência da companhia siderúrgica, continua a causar indignação. Os metalúrgicos Cristiano Rodrigues Marcelino e Fernando Alves Peixoto faleceram em decorrência de um incêndio na área de Coqueria 2. Outros 12 trabalhadores ficaram feridos.
Publicado 22/08/2017 11:51
Nesta segunda-feira (21), Marcelino da Rocha, presidente da FITMETAL (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil), integrou a comitiva da deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG) em vistoria na cidade de Ouro Branco. A presidente da CTB-MG, Valéria Morato, também participou da agenda.
Por indicação da Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, Jô organizou a inspeção para monitorar os trâmites e garantir a assistência às vítimas do acidente e seus familiares. Além de se reunir com vereadores na Câmara Municipal, o grupo visitou o Sindob (Sindicato dos Metalúrgicos de Ouro Branco, Congonhas, Jeceaba e Base). Já a reunião prevista para hoje na própria Gerdau foi remarcada para depois de 28 de agosto.
Outro objetivo da vistoria foi apurar as causas e os impactos do acidente. Jô, Marcelino e a comitiva cobraram três encaminhamentos imediatos:
– Que a Gerdau garanta o acompanhamento médico contínuo às vítimas e familiares dos trabalhadores que morreram, se feriram ou foram expostos ao benzeno na explosão;
– Que o prefeito de Ouro Branco, Helio Marcio Campos (PSDB), acolha a indicação da Câmara de Vereadores e faça um levantamento da situação de cada uma dessas famílias, por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social;
– Que a CNTM (Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos, à qual o Sindob é filiado) e as centrais sindicais elaborem um Plano Emergencial de Acidentes de Trabalho, a ser encaminhado à Gerdau e à Comissão Intersetorial de Acidentes do Ministério do Trabalho.
De acordo com a nota da FITMETAL sobre o acidente, “para desespero dos metalúrgicos dessa grande companhia siderúrgica e de seus familiares, explosões fatais se tornaram comuns no chão da fábrica. Foi a terceira vez em apenas nove meses que operários da empresa morreram devido a acidentes – já são sete óbitos desde novembro de 2016”. Das sete vítimas, duas eram empregados da Gerdau e cinco eram trabalhadores terceirizados.
Segundo Geraldo Francisco, diretor de Saúde do Trabalhador do Sindob, até hoje os representantes sindicais não foram autorizados a entrar na usina. O sindicato relatou o último acidente e seus desdobramentos à Superintendência Regional do Trabalho em Belo Horizonte. “Há uma prática de não fazer a notificação de acidentes, o que é prejudicial para os trabalhadores, os familiares, a cidade e o mundo do trabalho”, afirmou o sindicalista, denunciando a precarização.
Para Marcelino da Rocha, “ao negligenciar a manutenção e a segurança no trabalho, a Gerdau de Ouro Branco expõe seus 5 mil funcionários a acidentes e até à morte"
Para Jucélia Reis e Thaise Seixas, gestoras da Secretaria de Assistência Social de Outro Branco, a maioria dos trabalhadores terceirizados é de outras cidades do entorno de Ouro Branco. Thaise revelou que, sem vínculos formais com os trabalhadores, a Gerdau impõe condições ainda mais perversas, devido à alta rotatividade da mão de obra e à precarização.
O vereador Geraldo Pedro (PSL), presidente da Câmara Municipal, acrescentou de 10 a 15 ônibus chegam por dia a Ouro Branco, com trabalhadores originários de outras cidades, enquanto apenas dois transportam residentes do município. Conforme denúncia dos vereadores Reinaldo Nolasco (PSDB) e Lan (PCdoB), setores da Gerdau onde havia 11 funcionários funcionam hoje com apenas três.
“Mortes e feridos em acidentes no local de trabalho não podem ser considerados fatos normais ou aceitáveis em uma empresa”, declarou Jô Moraes. “Queremos que as empresas se expandam, contratem mão de obra, mas elas têm de garantir a integridade de seus trabalhadores – a vida de cada um deles. É esta cultura que deve ser a marca da empresa, da cidade.”
Em 4 de setembro, haverá uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Minas Gerais para tratar da questão. “Precisamos ter informações reais. Daí a necessidade de visitas às famílias das vítimas e a garantia de que a empresa abra diálogo”, reforçou a deputada.
Para Marcelino da Rocha, “ao negligenciar a manutenção e a segurança no trabalho, a Gerdau de Ouro Branco expõe seus 5 mil funcionários a acidentes e até à morte. É preciso que as investigações sobre a explosão apurem a fundo as causas e as responsabilidades”.
O presidente da Fitemeal afirma que a categoria metalúrgica e a sociedade exigem as devidas punições aos culpados e avanços efetivos nas condições de trabalho. “Ao Ministério do Trabalho e ao Ministério Público do Trabalho, cabe realizar uma nova rodada de fiscalizações rigorosas na fábrica.”