Seis desafios para a categoria metalúrgica

As entidades que representam a categoria metalúrgica vivem um período de defensiva histórica. Segundo o Dieese, 544 mil trabalhadores do setor perderam seus empregos desde 2013. Nas campanhas salariais, as perspectivas de aumentos reais e ampliação de benefícios deram lugar ao fantasma de perdas salariais e retirada de conquistas. É um reflexo das crises econômica e política, bem como dos retrocessos impostos pelo governo ilegítimo de Michel Temer (PMDB).

Por André Cintra para o Portal Fitmetal

2º Congresso Fitmetal - Jainder Assis

A despeito disso, a FITMETAL (Federação Interestadual de Metalúrgicos e Metalúrgicas do Brasil) deu mostras de vigor, unidade e crescimento em seu 2º Congresso, realizado de 25 a 27 de maio passado, em Guarulhos (SP). Cerca de 180 lideranças da categoria, de todas as regiões do País, marcaram presença. Além de deliberar a filiação à CTB e eleger a nova diretoria (2017-2021), a Federação aprovou uma ampla plataforma de lutas.

A partir dessa pauta – e com base em depoimentos de dirigentes da FITMETAL –, a Visão Classista destaca seis desafios que devem nortear as lutas da categoria metalúrgica.

1) Resistir às reformas e aos retrocessos
Depois da “Lei da Terceirização Irrestrita” e da reforma trabalhista, a próxima aposta do governo Temer é o desmonte da Previdência Social. Não é à toa que, mesmo com os solavancos da economia, o presidente continua a ter o apoio de entidades patronais, como a CNI (Confederação Nacional da Indústria). “O que vemos é um governo atolado em denúncias comprar um Congresso igualmente corrupto para aprovar essa pauta contrária aos interesses do povo. É um pacote que, em vez de gerar empregos, precariza ainda mais as relações de trabalho e agrava a crise”, diz Marcelino da Rocha, presidente da FITMETAL. “Nossa prioridade máxima é barrar Temer e a ofensiva conservadora.”

2) Construir uma confederação classista
Os metalúrgicos já dispõem de confederações. Mas nenhuma delas se pauta pelos princípios do sindicalismo classista, nem apresenta um projeto consequente de desenvolvimento nacional, com valorização do trabalho. A falta de uma entidade nacional com esse perfil limita a atuação das federações e dos próprios sindicatos. “Foi por isso que nosso 2º Congresso lançou a missão de fundar a Confederação Nacional de Metalúrgicos e Metalúrgicas Classistas. É preciso ousar para fortalecer e ampliar as representações da categoria”, explica Wallace Paz, secretário-geral da FITMETAL. As conversas com outras entidades estão avançadas, sobretudo com a Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos e Mineradores da Bahia (Fetim-BA).

3) Defender a indústria nacional
Desde sua fundação, em 2010, a FITMETAL defende o fortalecimento da indústria brasileira e alerta para os riscos da desindustrialização da economia. Em julho passado, a Federação e a CTB e FITMETAL lançaram uma campanha em defesa da indústria nacional, do emprego e da retomada do crescimento econômico. Recuperar o parque produtivo do País desponta como reivindicação central da campanha. Para Jesus Cardoso, secretário dos Setores Naval, Offshore e Siderúrgico da FITMETAL, “é fundamental viabilizar uma nova e moderna política de conteúdo local. Apenas um projeto audacioso pode viabilizar a reindustrialização do Brasil, em especial do setor naval, elevando nossa competitividade nos mercados internacionais”.

4) Repensar as campanhas salariais
De 2003 a 2014, o movimento sindical viveu uma espécie de ciclo virtuoso. Aumentos reais eram a regra, e as convenções coletivas avançaram sobretudo na área econômica. Esse ciclo ficou para trás, tragado por fatores como a crise econômica, o golpe e a reforma trabalhista. “O novo cenário já assanha as empresas”, adverte Aurino Pedreira, vice-presidente da FITMETAL. “Os empregadores podem apresentar uma pauta própria e até forjar comissões de trabalhadores para substituir os sindicatos.” Mais do que nunca, a disputa no chão da fábrica se tornou essencial. “Ou nos organizamos no local de trabalho, ou seremos engolidos!” Além do aumento real, o reajuste do piso – referência para a base operacional – é outra reivindicação a ganhar força.

5) Dialogar mais com o sindicalismo internacional
Em 2013, o secretário de Políticas Internacionais da FITMETAL, Francisco Sousa, foi eleito secretário-geral da UIS MM (União Internacional Sindical de Metalúrgicos e Mineiros). O posto ajudou a FITMETAL a conhecer experiências sindicais de outros países. “As atividades internacionais promovem intercâmbios e facilitam a solidariedade internacionalista”, afirma Francisco. Mesmo com as reviravoltas políticas que marcaram o Brasil e a América Latina, o trabalho junto à UIS MM foi positivo. “Hoje, o ramo mineral e metalúrgico tem mais peso na Federação Sindical Mundial (FSM).” A próxima missão é organizar o 3º Congresso da entidade, marcado para abril de 2018, no Egito.

6) Dar visibilidade às mulheres metalúrgicas
As mulheres ocupam cada vez mais postos na atividade produtiva. Exemplo disso é a participação feminina na categoria metalúrgica, que passou de 15,5% em 2006 para 19,14% em 2014. Mas inserção não é garantia de igualdade. “As metalúrgicas recebem salários menores e têm menos oportunidades em cargos de liderança. Somos discriminadas também no meio sindical”, relata Eremi Melo, secretária da Mulher da FITMETAL. Mais do que denunciar o problema, as entidades podem dar o exemplo e valorizar a representação feminina em suas direções. Foi o que fez a FITMETAL, em seu 2º Congresso, ao eleger uma diretoria com 25% de mulheres – 14 líderes metalúrgicas num total de 55 membros. É o caso das novas secretárias de Finanças, Raimunda Leoni; de Comunicação, Andreia Diniz, e de Juventude, Fabiana Souza.