Orlando Silva: Como a mídia estimula a cultura do ódio

O que tem sido praticado por alguns dos grandes veículos de comunicação brasileiros pode ser chamado de tudo, menos de jornalismo. O facciosismo com que informam, desinformam ou deformam há tempos atingiu níveis insuportáveis de irresponsabilidade.

Globo x Lula

Em boa medida, a cultura do ódio e da intolerância que hoje é palpável em nossa sociedade tem origem ou respaldo na espetacularização da violência, na divulgação de meras ilações como se fossem verdades absolutas, na sem cerimônia como assassinam reputações nessa busca incessante por escandalizar e manipular a opinião pública.

O ex-presidente Lula acaba de fazer uma caravana pelo nordeste do país. Foram atos políticos que reuniram multidões em cerca de 30 cidades, de nove estados, num percurso de mais de 4300 quilômetros. Goste-se ou não de Lula, mas pela dimensão do périplo e impressionante mobilização popular, pela situação política do Brasil e pelo ex-presidente ser o principal alvo do noticiário nos últimos anos, uma coisa é certa: era notícia. Com ampla cobertura da imprensa estrangeira, a pauta foi simplesmente ignorada pela mídia nacional. Exemplo grosseiro de jornalismo tendencioso.

Mas, infelizmente, há coisa muito pior. Há falsificações, manipulações canhestras e irresponsáveis, que visam enganar o leitor desatento. É o caso da capa do jornal O Globo deste dia 6 de setembro. O jornal dos Marinho coloca a foto grotesca das malas de dinheiro atribuídas pelos investigadores da Polícia Federal ao peemedebista Geddel Vieira Lima abaixo de manchete que fala do indiciamento de Lula, Dilma Rousseff e Partido dos Trabalhadores por “organização criminosa”.

Ora, é uma lamentável tentativa de ligar os ex-presidentes e seu partido aos 51 milhões que revoltaram o país, achados ontem, e que pertencem a um ex-ministro e amigo dileto de Michel Temer, filiado ao PMDB, condenado por crimes provados. É uma montagem, uma trucagem – uma mentira estampada na capa de um dos maiores jornais do Brasil! É bem provável que essa falsificação viralize em perfis de redes sociais que se notabilizaram por usar mentiras e notícias falsas como arma de disputa política.

A bem da sociedade e do interesse público, esse tipo de coisa precisa acabar. Informação é coisa séria, é um direito do cidadão e uma concessão do Estado. É preciso regulamentar os meios de comunicação, internet inclusa, não para censurá-los, mas para impedir a concentração em poucas mãos, dar espaço a mais vozes e ao contraditório e coibir a manipulação criminosa, o fomento do ódio e o linchamento midiático que hoje campeiam em nossa sociedade.


*Orlando Silva é deputado federal (PCdoB/SP)