Narrativa midiática sobre delatores muda com prisão dos irmãos Batista
Nesta quarta-feira (13), a polícia federal deflagrou a operação a segunda fase da operação Tendão de Aquiles e prendeu um dos donos da J&F e diretor presidente da JBS, Wesley Batista, irmão de Joesley Batista, que já está preso.
Por Dayane Santos
Publicado 13/09/2017 13:07
A ordem de prisão preventiva, sem data para expirar, foi expedida pela 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo. O mandado de prisão também inclui um novo pedido de prisão contra Joesley, além de mandados de busca e apreensão.
A prisão foi determinada sob a acusação de uso de informação privilegiada em transações no mercado financeiro entre 24 de abril e 17 de maio deste ano, em que foram divulgadas informações relacionadas ao acordo de colaboração premiada firmado com a Procuradoria-Geral da República e a gravação de conversas entre Joesley e o presidente da República, Michel Temer (PMDB).
Segundo a Polícia Federal, a investigação apura a realização de ordens de venda de ações de emissão da JBS na bolsa de valores, entre 24 de abril e 17 de maio, por sua controladora, a empresa FB Participações e a compra dessas ações, em mercado, por parte da empresa JBS, manipulando o mercado e fazendo com que seus acionistas absorvessem parte do prejuízo decorrente da baixa das ações.
Em entrevista coletiva, o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves afirma que, quando os irmãos Batista estavam fechando o acordo de delação premiada, eles sabiam que isso iria ter impacto no mercado, baixando o preço dos papéis da JBS. Decidiram então vender os papéis que foram recomprados pela JBS. Ao fazer isso, disse o delegado, eles evitaram que o excesso de papéis no mercado antecipasse o que aconteceria naturalmente com o fechamento da delação e reduziram o prejuízo que as suas empresas iriam sofrer, mas só para os bolso deles.
Também se investiga a compra de US$ 2 milhões entre 28 de abril e 17 de maio por parte da JBS em desacordo com a movimentação usual da empresa, gerando ganhos decorrentes da alta da moeda norte-americana após o dia 17, quando foi divulgado o acordo de colaboração e a gravação com o presidente Michel Temer. De acordo com a PF, com essa transação os empresários tiveram um lucro estimado de 9%. Os papéis da JBS tiveram índice de desvalorização de 33% e o prejuízo evitado foi de R$ 138 milhões.
Coletiva
Chama a atenção a mudança de tom no discurso midiático e da própria Polícia Federal ao tratar dos empresários que fecharam acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República. Nas delações que envolviam lideranças da cúpula do PT, por exemplo, os executivos eram tratados como coagidos vítimas de agentes políticos que dilapidavam o Estado. Agora, os delatores passaram a ser considerados criminosos.
Esse mudança é nítida em toda a narrativa que envolve as investigações da J&F, após as revelações do conteúdo das conversas entre Joesley e Ricardo Saud, diretor da J&F, que apontam o envolvimento do ex-procurador da PGR Marcelo Miller, e braço direito do procurador-geral Rodrigo Janot.
A delação premiada dos executivos da J&F, que envolvia o presidente Michel Temer e outros integrantes da cúpula do PMDB, foi tratada como "joia da Coroa", como disse o próprio Joesley Batista sem supostamente saber que estava sendo gravado.
"Nós somos a joia da coroa deles [Ministério Público Federal]. O Marcelo [Miller] já descobriu e já falou com o Janot: 'Ô, Janot, nós temos o cara [Joesley], nós temos o pessoal que vai dar todas as provas que nós precisamos'. Ele já entendeu isso", disse Joesley em meio à conversa de quatro horas gravada em 17 de março.
Dez dias antes, 7 de março, Joesley gravou uma conversa com Temer em que relata que estava dando mesada a Eduardo Cunha e Lúcio Funaro para que ambos não abrissem o bico. Temer ouviu e manifestou sua satisfação , dando o seu aval: "Tem que manter isso, viu?".
Miller trabalhou com Janot durante três anos e deixou a PGR em abril deste ano para atuar no escritório de advocacia Trench Rossei e Watanabe, que atende a JBS.
Na coletiva, o delegado Victor Hugo disse que os irmãos corromperam mais de mil agentes públicos e políticos, depois procuraram as autoridades para colaborar e, mesmo depois disso, seguiram cometendo crimes. "Estamos lidando com pessoas que têm a personalidade voltada para a prática de crimes", disse ele.
O advogado Pierpaolo Cruz Bottini, responsável pela defesa de Wesley, afirmou que a prisão é absurda e configura uma espécie de vingança.
"É injusta, absurda e lamentável a prisão preventiva de alguém que sempre esteve à disposição da Justiça, prestou depoimentos e apresentou todos os documentos requeridos. O Estado brasileiro usa de todos os meios para promover uma vingança contra aqueles que colaboraram com a justiça", afirmou.