Nobel 2017: Ondas gravitacionais, edição genética e Os Cus de Judas?

E aí, povo, todo mundo ligado no Prêmio Nobel 2017? O anúncio dos ganhadores será feito na semana que vem. Aqui vão algumas informações sobre quatro de suas seis modalidades (ficam faltando a de Fisiologia & Medicina e a de Economia).

Por Antonio Carlos Queiroz*

Nobel 2017

Física

Na manhã de terça-feira, 3, sai o Prêmio Nobel de Física, outorgado pela Academia Real de Ciências da Suécia. As maiores apostas vão para os físicos Barry Barish (Caltech), Rainder Weiss (MIT) e Kip Thorne (Caltech), que detectaram, pela primeira vez, em setembro de 2015, as ondas gravitacionais previstas por Einstein em 1915.

O experimento, realizado no Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser (Ligo, na sigla em inglês), detectou ondas, descritas como “perturbações no contínuo espaço-tempo”, que foram emitidas pela colisão de dois buracos negros situados a 1,3 bilhão de anos-luz da Terra.

A experiência, mais um triunfo da teoria geral da relatividade, inaugurou a astronomia de ondas gravitacionais, bem mais precisa que a astronomia que recolhe ondas eletromagnéticas (luz, rádio, raios gama etc). Enquanto essa astronomia dá informações sobre o universo quando ele tinha a idade de 300 mil anos, a nova astronomia pode recolher dados de quando o universo tinha apenas um segundo de existência.

Química

Também atribuído pela Academia Real de Ciências da Suécia, o Prêmio Nobel de Química será anunciado na manhã de quarta-feira, 4, será anunciado o Prêmio Nobel de Química. Segundo os melhores prognósticos, deverão ser contempladas a francesa Emmanuelle Charpentier (Instituto Max Planck de Biologia das Infecções) e a americana Jennifer Doudna (Univesidade da Califórnia em Berkeley), codescobridoras de uma técnica de edição genética, chamada Crispr Cas9 na sigla em inglês. Um terceiro premiado poderá ser o chinês Feng Zhang (MIT) ou o americano George Church (Universidade de Harvard), ambos pioneiros do mesmo procedimento.

A pesquisa dessa edição genética partiu da descoberta de um mecanismo de defesa das bactérias contra vírus. Quando invadidas, elas cortam e incorporam trechos do genoma dos vírus ao seu próprio, ficando “vacinadas” para a próxima invasão. Com a técnica do Crispr Cas9, que simula esse mecanismo bacteriano, pode se trocar o trecho de uma sequência genética com o objetivo de obter resultados diferentes do que ocorreria com o trecho original. Será possível, por exemplo, substituir os genes que vão determinar a cor dos olhos de uma criança, ou tornar uma planta mais resistente ao frio.

Teoricamente, será possível trocar uma sequência de genes que provoca certas doenças por outra sequência para normalizar o desenvolvimento do organismo. No prazo de dez anos, prevê-se que será factível substituir o gene mutante do cromossomo 11, que induz o organismo humano a produzir a hemoglobina S (HbS), que distorce e deixa quebradiças as hemácias (as células do sangue), resultando na anemia falciforme, uma enfermidade que atinge principalmente as populações afrodescendentes.

Literatura

Ainda não foi agendada a entrega do Prêmio Nobel de Literatura, concedido pela Academia Sueca, um dos que mais chamam a atenção da opinião pública. Entre os nomes mais cotados estão o do queniano Ngugi Wa Thiong’o e o da canadense Margaret Atwood. Mas há quem garanta, como Björn Wiman, editor de cultura do jornal Dagens Nyheter, de Estocolmo, que, depois do choque provocado no ano passado pela escolha de Bob Dylan, dessa vez a Academia deverá fazer uma compensação, optando por uma decisão unânime, conservadora e europeia. Daí volta a despontar o nome do albanês Ismail Kadaré, autor de “Abril Despedaçado”, filmado por Walter Salles. Se essa hipótese se confirmar, quem ficará muito orgulhosa será a militância do PCdoB, pois um dos quadros do partido, o jornalista Bernardo Joffily, é o melhor tradutor de Kadaré no Brasil, direto da língua albanesa.

Também está sendo considerado o nome de António de Lobo Antunes, que seria o segundo português a ser contemplado com o prêmio, depois de José Saramago, em 1998. Um de seus primeiros romances, “Os Cus de Judas”, de 1979 – sobre a sua participação como médico de campanha na guerra de Angola –, demorou a sair no Brasil. Foi publicado só em 1984, pela editora Marco Zero, de seu amigo amazonense Márcio Souza (“Galvez – Imperador do Acre”). Uma curiosidade: o avô de Lobo Antunes, outro Antônio, é de Belém do Pará.

Paz

O ganhador do Prêmio Nobel da Paz, o mais controvertido, escolhido por um comitê do Parlamento da Noruega, será anunciado no dia 6 de outubro, sexta. A lista de indicados do ano tem 318 personalidades e organizações.

Entre os mais cotados estão Federica Mogherini, chefa da diplomacia da União Europeia, e o chanceler iraniano, Mohamad Javad Zarif, os principais responsáveis pelo acordo nuclear celebrado entre o Irã e os Estados Unidos. A escolha dos dois, dizem os analistas, seria um puxão de orelha no presidente Donald Trump por sua escalada verbo-atômica com o líder supremo da Coreia do Norte, Kim Jong-un.

O próprio Donald Trump – valha-nos Nossa Senhora d’Abadia do Muquém! – é um dos indicados ao prêmio, ao lado do analista de sistemas americano Edward Snowden, que vazou informações da Agência Nacional de Segurança; dos “capacetes brancos” da defesa civil da Síria; do médico congolês Denis Mukwege, especialista no tratamento de mulheres violadas durante a guerra civil; e do blogueiro saudita dissidente, preso, Raif Badawi.

O comitê norueguês às vezes acerta, como no ano passado, quando premiou o trabalho de pacificação nacional do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos. Mas às vezes erra feio, como aconteceu em 1991, ao eleger a prisioneira política birmanesa Aung San Suu Kyi. Atual secretária geral da Liga Nacional pela Democracia, pesa agora contra Suu Kyi a acusação de conivência com a limpeza étnica perpretada pelo exército da Birmânia contra o grupo étnico muçulmano Rohingya. Centenas de pessoas foram massacradas. Mais de 100 mil estão confinados em campos internos. Em busca de refúgio, meio milhão já cruzou a fronteira de Bangladesh, Carachi e Paquistão.