EUA apoiaram ativamente massacres na Indonésia nos anos 1960
Documentos recentemente desarquivados revelam não apenas o "conhecimento detalhado" por parte do governo dos EUA dos assassinatos em massa de membros do Partido Comunista Indonésio (PKI) levados a cabo pelo exército indonésio, mas também o seu "apoio ativo" a esse massacre
Publicado 26/10/2017 16:53
Os documentos, divulgados quinta-feira (26) pelo National Security Archive na Universidade George Washington em Washington, DC mostram que, segundo essa instituição independente de investigação e arquivo, funcionários dos EUA “apoiaram ativamente as ações do exército visando a destruição do movimento operário de esquerda no país".
Os 39 novos documentos, parte de um acervo de cerca de 30.000 páginas de registos diários recolhidos da Embaixada dos EUA na capital Indonésia entre 1964-1968, foram desarquivados e digitalizadas em colaboração com o National Declassification Center. A iniciativa verificou-se na sequência de numerosas solicitações de grupos defensores dos direitos humanos norte-americanos e indonésios.
Os arquivos incluem cartas do Departamento de Estado, telegramas, relatórios de situação e comunicações confidenciais entre consulados dos EUA e a sua embaixada. Entretanto, o acervo não inclui quaisquer documentos da CIA, que permanecem arquivados. A Human Rights Watch apelou a que fossem desarquivados todos os documentos que ainda o não foram.
Os novos materiais mostraram que diplomatas dos EUA na Embaixada de Jacarta e os seus interlocutores do Departamento de Estado em Washington mantiveram um registo dos dirigentes do PKI que eram executados no desenrolar de um dos mais turbulentos períodos da história da Indonésia depois da sua independência da Holanda em 1949.
É particularmente chocante o registro da conversa entre o Segundo Secretário da Embaixada Robert Rich e o Assistente do Procurador-Geral Adnan Buyung Nasution, em 23 de Outubro de 1965. É uma das primeiras vezes em que os assassinatos sistemáticos são mencionados a Washington. O telegrama refere-se a cooperação por parte dos EUA no sentido de manter a imprensa internacional à margem de qualquer referência às mortes de modo a não alertar o Presidente Sukarno.
"Os militares tinham já executado muitos Comunistas, mas este fato deve ser cuidadosamente retido" enquanto eles "continuam matar os Comunistas para assim pressionar e quebrar a espinha dorsal do poder do PKI", escreveu Nasution.
No memorando, Nasution manifesta-se "chocado" pelos massacres terem começado a ser referidos na rádio da Malásia e alertou para que Sukarno não tomasse conhecimento da repressão das forças armadas pelos meios de comunicação estrangeiros.
Rich assegurou a Nasution que o governo dos EUA está "inteiramente consciente da natureza sensível dos acontecimentos em curso e está realizando todos os esforços para que não fosse estimulada a especulação por parte da imprensa".