Indígenas param Caravana de Lula na estrada

 No quarto dia da Caravana Minas, a comitiva do ex-presidente Lula, que saiu de Aracuaí, fez uma parada não programada no município de Coronel Murta por conta de uma faixa estendida na estrada. Eram indígenas da etnia Pankararu Pataxó, das aldeias Apukare e Cinta Vermelha, com suas vestimentas tradicionais e corpos pintados.

Lula por Minas - Ricardo Stuckert

Lula foi à aldeia Apukare, onde recebeu uma bênção em um ritual coordenado pela Índia Benvina Pankararu. A mesma Índia havia feito ritual semelhante em 2002, antes de Lula ser eleito pela primeira vez.

Mais alguns quilômetros e uma nova aglomeração parou a comitiva em Ponto Otaviano, distrito de Rubelita. Ali, durante o governo Lula, foram construídas cisternas, dentro do projeto de auxílio às populações do semi-árido brasileiro.

No povoado, a cisterna fica na fazenda do produtor rural Osvaldo Santos, que preparou um café e chamou os vizinhos. Não tinha muita gente, mas Lula desceu e conversou com o anfitrião. O ex-presidente, ao saber que Osvaldo era viúvo, brincou dizendo que deveriam montar uma associação de viúvos.

“Todo dia acordo cedo, faço ginástica, aparo a barba, ajeito o cabelo para ficar bonito e ver se arrumo uma nova namorada, mas nada. Quem sabe se montarmos uma associação de viúvos e colocarmos anúncio no jornal”, brincou Lula.

Antes das paradas, ainda em Araçuaí, a caravana visitou o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais. A instituição conta com três cursos superiores e oito técnicos.

Mariluce Pereira de Jesus, de 15 anos, disse ao ex-presidente que vem de família humilde e estuda para ser Técnica de Informática. Segundo ela, estudar ajuda a criar consciência política. “Tenho acesso a estudo gratuito e perto de casa”, disse ela.

O diretor geral do Campus Araçuaí, Aécio Miranda, falou da importância de se priorizar a educação. “Lula expandiu e interiorizou a rede de escolas técnicas no país”, disse. E destacou a política inclusiva implementada nas escolas técnicas federais. “É importante dar oportunidade aos campesinos, aos indígenas, aos negros. Segmentos que estavam excluídos da educação formal”.
Segundo Miranda, neste ano o contingenciamento das verbas repassadas pelo governo federal ao instituto está em 60%. “Corremos o risco de um retrocesso enorme no ensino técnico do país”.

O ex-presidente discursou em cima de uma carro de som para alunos na porta do Instituto, lembrando da importância de uma escola técnica federal numa região pobre como o Vale do Jequitinhonha. “Saio daqui esperançoso com o futuro do país. O que tínhamos antes do nosso governo era uma capacidade desperdiçada”, disse.

Lula voltou a se comprometer com a realização de um referendo revogatório das leis aprovadas pelo governo Temer, como a PEC do teto dos gastos públicos. “Se o PT voltar a governar o país, vamos voltar a investir em educação e voltaremos aqui para inaugurar uma universidade em Araçuaí”.
Para a secretária de educação de Minas, Macaé Evaristo, ao pensar em ensino técnico, impossível não remeter aos governos Lula e Dilma. “Conseguimos descentralizar o ensino com os institutos federais e os institutos multi-campi, e uma oferta expressiva de vagas pelo Pronatec”, disse.

Já em Salinas, Lula também visitou uma campus criado em seu governo, o Instituto Federal do Norte de Minas. Ao contrário do instituto técnico de Araçuaí, o de Salinas oferece nove cursos superiores, entre os quais o de Tecnologia em Produção de Cachaça. Famosa por sua produção de aguardente, a cidade é a única que abriga tal curso.

Em função das paradas na estrada, o ato que estava previsto para as 15 horas em Salinas, começou depois de 17. Enquanto eram lidas cartas de movimentos sociais entregues e parlamentares discursavam, o povo gritava “deixa o Lula falar”.

“Se a gente quiser resolver o problema do país, a gente tem que acreditar no povo brasileiro. A gente tem que acreditar na educação. E a gente tem que acreditar na nossa juventude. Por isso eu digo a vocês: não desistam nunca. Porque eu não desisto. Eu aprendi a brigar, eu aprendi que o povo pode, se ele tiver alguém lá que conheça o povo e possa dar dignidade a ele”, discursou no comício de Salinas.

De todas as paradas não programadas, a de Francisco Sá foi a mais organizada. Cidade governada pelo PT, foi montado palco onde discursaram o prefeito Mário Osvaldo e Lula. Foi a maior aglomeração do dia.

O aposentado João Caetano da Silva afirmou votar em Lula a vida inteira. “Desde que eu morava em São Paulo, antes de voltar pra Francisco Sá. Tenho o maior orgulho de ter votado nele até para governador de São Paulo (Lula foi candidato a governador de São Paulo em 1982)”, disse.

Apesar de já ter votado em Lula muitas vezes, foi a primeira vez que a aposentada Maria Augusta Ferreira o viu de perto. Se posicionou atrás do palco e esperava ansiosamente ele descer. “Lula é da pobreza, e nós pobres queremos ele. Só os ricos que não gostam. Ele vai voltar pra presidente e vai ter dó de nós”, disse. Ao ver Lula descendo do palco, Maria Augusta começou a chorar e, apesar do corpo frágil, se jogou no tumulto com um caderninho na mão para tentar um “otográfo”.

Do Norte de Minas, 
Kerison Lopes